A Face do Anjo

XXXVIII

Entre o inferno e o paraíso

Karol reuniu todas as forças que tinha para se desvencilhar do príncipe e, mesmo desconcertada, foi tomando distância enquanto esbarra nos móveis, tentando colocar a cabeça no lugar antes que alguém aparecesse.

─ Você não podia ter feito isso, Ruggero!

─ Eu não fiz sozinho. ─ Ele rebateu, arfando. ─ Você quis. E sabe por quê? Por que por mais que esteja casada com o meu irmão, você jamais vai amá-lo ou desejá-lo como me ama e me deseja. Eu sei disso.

─ As suas memórias podem não ter voltado, mas vejo que o seu superego continua intacto. ─ Murmurou ajeitando a coroa sobre a cabeça, nervosa. ─ Não fique tão convencido assim. Foi um momento de destempero.

Ruggero riu.

─ Quanto mais você nega, mais eu confirmo as minhas palavras.

─ Você é um estúpido!

─ E você gosta disso.

Karol abanou a cabeça.

─ Fique longe de mim, eu já pedi. Eu já disse que não posso lhe fazer bem. Na verdade, eu não posso fazer bem a ninguém. Então, por favor, afaste-se enquanto eu ainda não te machuquei de verdade.

─ E você acha que não me machucou vê-la se casando? Por acaso pensa que foi fácil presenciá-la prometendo amor eterno ao meu irmão? Isso doeu muito! Parece que arrancaram um pedaço do meu coração.

─ Então não arraste por mais tempo esse sentimento. ─ Guinchou.─ Pare de me amar!

─ EU NÃO POSSO! ─Esbravejou com fervor, indo até ela. ─ Eu não posso. E eu não iria se pudesse, por que você já faz parte de mim. E eu jamais poderia viver sem o meu coração.

A rainha cobriu a boca com as mãos, balançando a cabeça para lá e para cá, angustiada, prendendo o choro.

─ Pare!

─ Eu entendo que tomei uma atitude brusca ao pedir a duquesa em casamento, mas o que queria que eu fizesse? Eu tinha te perdido naquele momento! Mas... Eu sou seu. Estar com a Kendra ou não, não muda nada. Eu sempre serei seu.

─ Não quero que fique com ela... E eu sei que é errado, egoísta e ridículo da minha parte, mas... ─ Karol bufou, encarando-o. ─ Eu sinto ódio só de pensar que...

─ Então não pense... Apenas acredite nos meus sentimentos.

─ Ruggero...

─ Encontre-me nos estábulos a noite. ─ Adiantou-se, içando-a pela cintura. ─ A sua noite de núpcias não pode ser com um homem que você não ama. Estarei te esperando, Majestade. ─ Sussurro a última palavra, depositando um beijo no canto da boca dela, então se foi, esgueirando-se para que ninguém visse.

Karol puxou o ar com força e precisou se apoiar na parede.

Queria voltar atrás, mas já não podia mais.

Já era a rainha de Áquila e mesmo que Bruno não viesse a reconhecê-la como filha um dia, ainda assim, continuaria sendo a monarca mais importante do reino; o plano de sua mãe estava completo. Karol tinha conseguido o amor dos filhos de Antonella, a Coroa Real, o castelo inteiro, poder, dinheiro, submissão de um povo... Tudo que Lily quis, mas nunca teve. Inclusive, a decaída de Antonella.

Mas porque nada disso a fazia feliz?

Acima de tudo, Karol morria de medo da reação de Ruggero quando ele descobrisse tudo o que ela tinha feito, dos erros que cometeu.
Talvez ele a amasse naquele momento, mas e depois?