O dia do casamento
Karol estava parada em frente ao espelho de seu quarto enquanto madame Soraya e Nelly arrumavam os detalhes do primoroso vestido que, passando bem longe do que ela queria, não foi feito em Bruxelas como a maioria dos vestidos das noivas ricas da época, tampouco pelas mãos de um estilista famoso... Não. Era um modelo muito bonito, feito com as rendas de uma fábrica da Inglaterra, além de um tecido de seda que apesar de belíssimo, lhe dava raiva.
Nada era como ela queria!
─ Depois que a rainha Vitórrria usou branco em seu casamento, todas as jovens querem se casar com essa cor! O que achou, senhorrita?
Miss Karol respirou fundo. Parecia que o vestido estava pinicando em sua pele.
─ Acho que... Está bom.
─ Bom?! ─ Nelly guinchou, ajeitando a grinalda feita de flores de laranjeira que simbolizavam a pureza, tecendo mais uma camada de glamour em toda a vestimenta. ─ Perdoe-me, mas esse é o vestido mais lindo que já vi. Veja, é tão grande, bufante, rodado! Parece perfeito se casar com um traje deste.
A noiva forçou um sorriso e madame Soraya percebeu.
Astuta, a modista ficou de pé e foi endireitar o decote discreto que ia de ombro a ombro, emprestando mais elegância ainda a jovem.
─ Peço perrrrdão se o vestido não a agradou, mas foi o príncipe que disse que vocês tinham pressa... Se eu tivesse tido tempo, prometo-lhe que seria muito melhor, senhorrita.
─ A culpa não é sua, madame. Aliás, o vestido é um primor. Acho que estou nervosa e por isso parece que não gostei.
Soraya a estudou por alguns segundos, analisando-a muito bem com o par de olhos azuis mais espertos de Áquila, por fim assentiu, sorrindo.
─ Querrida Nelly, você poderria buscar um pouco de água para a sua senhorrita? Ela parrrece realmente inquieta.
─ Claro que sim. Com licença. ─ Nelly sorriu para Karol pelo espelho então se foi.
Assim que a Aia saiu, madame voltou a encarar a noiva.
─ Senhorrita Karrol... ─ Falou devagar. ─ Sejamos francas, já que estamos sozinhas...
Miss Karol virou a cabeça, olhando-a.
─ Se vamos ser francas, acredito que irá parar de usar esse sotaque falso.
Soraya arqueou uma sobrancelha e deu de ombros com desdém.
─ Acho que acabou se tornando parte de mim. Já me sinto uma francesa nativa.
─ Mas a senhora não é... Diga-me, como soube de mim? Naquele dia no ateliê quando olhou para as minhas mãos...
─ Somos ciganas, nós enxergamos além. Assim que a vi entrando no meu ateliê, eu soube que você era igualzinha a mim, mas não me atrevi a falar nada. Agora, seja sincera, o que faz aqui? Quem é a sua família? Nosso povo se dissipou tanto...
A senhorita respirou bem fundo, sentindo o espartilho amassar as costelas de tão apertado que estava.
Com certo cuidado para não estragar o vestido, Miss Karol andou até a porta e a trancou, temendo que alguém as ouvisse.Não havia por que continuarem fingindo. Karol sabia que Soraya a havia reconhecido e até esperou ser desmascarada por ela, mas logo se deu conta de que a ética de seu povo se mantinha de pé.
Soraya era como ela, então não necessitava mais fingir.
─ Minha família... Ah madame, se eu lhe contasse...
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A Face do Anjo
FanfictionSINOPSE:"No inverno de 1840 o Reino de Áquila, situado ao Sul da Inglaterra, fora bombardeado por fofocas em torno de uma moça que havia sido encontrada desmaiada na floresta. A jovem tivera a sorte de ser resgatada pelos irmãos mais importantes de...