XVIII

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Ruggero havia dispensado o almoço, pois decidiu sair para caçar, mesmo que a neve estivesse dificultando muito qualquer percurso até a floresta, entretanto, ele não conseguia ficar dentro de casa e, sinceramente, mesmo que não encontrasse nenhum animal, só o fato de atirar já ajudaria muito.

O problema foi que como estava muito atordoado por tudo que havia acontecido, além da pétala que não estava mais morta, ele se viu dentro de um imbróglio insano; parecia estar enlouquecendo e não sabia o que fazer.
Antes mesmo de chegar à floresta, ele viu quando uma carruagem pomposa seguiu o caminho que levaria até o castelo, mesmo de longe ele conhecia o brasão preso do lado de fora da carruagem.

O duque da Alemanha.

─ O que você quer, John? O que você quer... ─ O príncipe resmungou, então gritou para que Trovão corresse e o cavalo obedeceu.

Estavam voltando para o palácio.

O vento gelado batia forte contra o rosto de Ruggero, mas a ânsia de chegar logo o fazia pouco se preocupar com o frio.
Para ele, aquilo não era nada perto da agonia que ia crescendo em seu peito.

Ruggero não era burro, ele sabia perfeitamente o que aquela visita significava e, sinceramente, não era uma simples visita de cortesia. Sua mãe nunca dava ponto sem nó.
E, claramente, empurrar Miss Karol para a Alemanha era bastante agradável aos olhos da rainha.

Quanto mais se aproximava do castelo, mais ansioso o príncipe ficava.

Ele gritou para que um dos guardas abrisse os portões e o mesmo obedeceu; Trovão mal tinha parado quando Ruggero pulou para o chão, com a espingarda presa por um suporte nas costas; tentando se acalmar, o príncipe retirou a arma de trás de si e a segurou nas mãos, depois acenou com a cabeça para o duque que estava conversando com Delano.

Todos se conheciam de muitos anos e justamente por isso Ruggero sabia que John não prestava para Miss Karol.
Seria um grande equivoco.

─ Com licença, Vossa Graça. ─ Delano disse, fazendo uma reverencia perante o duque, então voltou-se para Ruggero e fez outra reverência, por fim se foi. Tinha muita coisa para fazer.

─ O que faz aqui? ─ Ruggero indagou ao velho amigo.

John, envolto numa pesada capa escura, abriu um sorriso festivo.

─ Ora, seu carrancudo! Venha me dar um abraço! Quanto tempo, hein? Ontem você sumiu do baile. Não me diga que ainda tem aquela velha mania de conquistador...

Ruggero não retribuiu o abraço, mas tentou sorrir.

─ Há coisas que nunca mudam.

O duque assentiu.

─ Sempre ambicioso com relação às mulheres. Diga-me, nenhuma capturou seu coração ainda?

─ Claramente não é da sua conta. Mas... ─ Ruggero ergueu a espingarda discretamente. ─ O que faz por aqui? Veio se despedir? Imagino que já tenha que voltar para a Alemanha, há tantas responsabilidades.

─ Sim. Na verdade, esses eram os planos, mas a sua mãe me fez reconsiderar algumas coisas.

─ Minha mãe?

─Claro. ─ John se aproximou mais do amigo. ─ Ela me disse que daria a mão da senhorita que vocês abrigaram aqui no castelo. Não é excelente? A mulher mais bonita de todo o baile será minha. Parece até os velhos tempos, hein!

Ruggero esboçou um sorriso sem vontade.

─ Isso tudo é o seu instinto de homem predador falando? Por acaso tem noção que terá que passar o resto da vida com ela? Terá de respeitá-la...

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora