VI

365 48 624
                                    

─ Vá derramar essa água na outra bacia que eu irei preparar um café bem forte e amargo. Duvido que esse garoto não melhore dessa ressaca. ─ Tomázia disse. ─ Parece que virou moda chegar bêbado todos os dias.

─ Não brigue comigo, Tomázia. Sabes que eu te amo!

─ Bêbado ama qualquer um. ─ Ela resmungou, saindo do quarto.

Theodoro saiu do campo de visão de Karol, então ela espiou o resto do quarto. A porta estava aberta.

Recolheu-se novamente. O coração batia acelerado contra o peito.

─ Pronto, Alteza.

─ Não preciso de preceptor, Theodoro. Deixe-me sozinho. Ainda posso tomar banho sem ajuda.

O cortesão o ajudou a levantar-se da cama.

─ Estou vendo, nem consegue ficar de pé sozinho.

Miss Karol tampou a boca, temendo que uma respiração descompassada lhe trouxesse à luz.

─ Sabes sobre o quê eu estava pensando, meu fiel amigo?

─ Posso imaginar, Vossa Alteza. ─ Theodoro respondeu com enfado, apoiando o amigo da melhor forma para que ele não caísse.

Ruggero tropeçava nos próprios pés.

─ Eu vou jogar aquela rosa fora! ─ O príncipe guinchou. ─ É a minha maldição. Vou jogá-la e estarei livre.

─ Mas amas àquela rosa.

─ Mas odeio quem me deu. ─ Ele riu e começou a tossir. O seu cortesão lhe colocou sentado numa cadeira, então se ajoelhou para desamarrar-lhe os cadarços das botas. ─ Na verdade, eu odeio todas! Todas as mulheres.

─ Não foi o que pareceu...

Ruggero riu. O amigo tinha razão.

Mas ao mesmo tempo Theodoro não compreendia.

As damas da noite não lhe faziam mal, além disso, eram feitas para serem esquecidas. Dão prazeres e depois somem. Não pedem nada em troca.

Diferente de outras que levam a alma de quem amam.

─ Sou um condenado, Theodoro. Vê? Sou um condenado. Pensei que estava enfim encontrando uma razão, mas não existia. Nada de realmente bom permanece para mim.

─ Tenho certeza que a reencontrará, Alteza.

O jovem príncipe deixou a cabeça pender para o lado.

─ Ela morreu, Theodoro. Ela morreu.

─ Ela morreu?

O espanto na voz do cortesão foi palpável e esperado; Theodoro encarou Ruggero com os olhos levemente arregalados.

─ Eu a matei. ─ Declarou o príncipe.

Seria demais exigir uma explicação plausível para as palavras do amigo, então o conselheiro calou-se, recolhendo-se em seus próprios questionamentos, tentando não expor a surpresa que lhe estremecia os ossos.

Olhou para Ruggero rapidamente e viu o olhar de seu monarca perdido. Como se ele nem estivesse ali.

Voltou-se então para os cadarços, jurando para si mesmo que era só um equivoco.

Para Theodoro, por mais que Ruggero fosse um homem sombrio e com diversos demônios, era impossível que fizesse mal a alguém de verdade.
Ele conhecia o bom coração do príncipe, muito embora não duvidasse que um amor fosse capaz de levar um homem as raias da loucura.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora