XXXV

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Nelly ia passando pelo gabinete dos príncipes quando viu Theodoro parado em frente a janela, com as mãos entrelaçadas atrás das costas e a cabeça ligeiramente abaixada, os ombros caídos.
Naquele momento a Aia soube que ele precisava de alguém.

Não que fosse correto adentrar o gabinete sem permissão, ainda mais ficando sozinha com um cavalheiro, mas ela não se conteve.
Ao passar pela porta, fecho-a devagar, pois não queria assustá-lo.

Com o coração acelerado, Nelly chegou perto de seu amado e tocou-lhe o ombro.

─ Theo?

O cortesão tocou a mão dela que estava em seu ombro e foi se virando, esboçando um sorriso apesar do pesar que tinha no peito.

─ Eu estava pensando na senhorita.

─ Estava?

─ Sim. Quando as coisas ficam difíceis costumamos nos refugiar em bons pensamentos, em recordações que apaziguam nossos corações.

Nelly sentiu o rosto queimar de vergonha.

─ Que palavras lindas.

─ São inspiradas na dama mais bonita que conheço. ─ Theodoro levou a mão dela até os lábios e depositou um beijo casto, então a olhou nos olhos. ─ Sei que ultimamente não tenho dado-lhe a atenção que merece, mas não pense que deixei de pensar na senhorita. Eu nunca, jamais, paro de pensar em você.

Nelly trouxe a mão dele que estava segurando a sua até perto do rosto, então a beijou como ele havia feito, arrancando do rapaz um sorriso sincero, menos preocupado.

─ Eu também não deixo de pensar no senhor... Digo, em você.

─ As coisas não estão fáceis, não é? Eu nunca pensei que iria ver o príncipe daquele jeito. E, pior, quase não me deixam chegar perto dele.

─ É muito injusto, até por que você é o melhor amigo de Sua Alteza.

Theo assentiu.

─ Desde que os meus pais se foram, primeiro a minha mãe e depois o meu pai, eu me senti muito sozinho, Nelly. Acho que sempre pensei que tudo que me faz bem, um dia vai embora. Como se eu estivesse fadado a perder as pessoas que amo...

─ Não diga isso! ─ Ela se adiantou, chegando perto do cortesão, tocando-lhe o rosto com as duas mãos. ─ Não é verdade. Não é.

─ Seria fácil pensar que é apenas um pensamento ruim, mas veja o príncipe. Ele nem me olha nos olhos desde o ocorrido. É como se não confiasse em mim...

─ Isso vai passar. Eu sei que o príncipe está confuso, ainda mais depois do jantar de ontem que foi um completo vexame, mas logo ele irá colocar os pensamentos em ordem, as memórias irão voltar, e a amizade de vocês também. Eu sei disso.

Theo a fitou nos olhos, prendendo o fôlego ao tê-la tão perto.

─ Quando você fala assim, eu sinto paz. Você me transmite uma força que eu não tenho, Nelly. É o sentimento mais bonito do mundo. Obrigado.

─ Ora... ─ Ela aquiesceu, corando. ─ Só estou falando a verdade. A última coisa que desejo é vê-lo tão triste assim.

Apaixonado, o cortesão ajeitou uma mecha do cabelo dela, prendendo-a atrás da orelha, por fim desceu a mão até a cintura da moça, mantendo-a ali.

─ Se você estiver sempre perto de mim, acho que até me esquecerei de como é a tristeza.

Nelly sorriu.

─ É exatamente o que quero, Theo. Quero que esqueça essa tristeza. Seu coração é bom e não merece padecer assim. Diga-me, como poderei prosseguir o meu dia se souber que você não está bem? Não faça isso comigo...

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora