LV

284 44 861
                                    

─ Acha mesmo que esse plano é prudente? ─ Theo indagou enquanto observava o amigo enfiando algumas peças de roupa numa bolsa de couro muito pequena, mas que serviria no momento para não chamar atenção.

─ Ficar aqui até o dia da viagem seria o mesmo que me entregar a morte. Não posso, Theodoro.

O moreno cruzou os braços, ainda observando.

─ Você nem sabe se aquela cabana é segura. Quem garante que o Ravi não vai mandar alguém te seguir, ou pior, fazer alguma besteira? ─ Theo bufou. ─ Ruggero, se formos juntos na madrugada anterior a viagem, poderemos nos proteger. Não acho que ir sozinho seja seguro para você.

Ruggero atirou as roupas que não conseguia enfiar na bolsa em cima da cama e encarou o amigo.

─ Depois de tudo o que eu te contei você acha que tenho sanidade para esbarrar com qualquer um deles? Cáspita, Theodoro! Meu pai é um homem miserável, o meu irmão é um estúpido e a minha mãe... ─ Desviou o olhar. Aquele assunto doía. ─ O melhor que posso fazer é sumir daqui. Ademais, sei que poderá levar Karol e Nelly em segurança até a cabana. Eu os estarei esperando na entrada da floresta assim que o sol se pôr amanhã.

─ Ruggero...

─ Eu nunca fui de dar ordens a você, mas se isso te fará me obedecer... Tenha isso como algo que não pode recusar. Terá que me obedecer, Theo. Eu estou mandando.

Mas o cortesão não parecia convencido.

─ Não me peça para aceitar algo que possa colocá-lo em perigo! Eu não vou obedecer a uma insanidade dessas!

Cansado demais para uma discussão, o príncipe exalou pela boca e relaxou os ombros tensos.

─ Nada irá acontecer comigo, eu prometo. Ademais, só confio em você para levar minha mulher e meu filho sãos e salvos até mim, portanto cuide de tudo por aqui que eu cuidarei do que falta para partirmos.

─ Não há realmente nada que eu possa fazer para que desista disso?

Ruggero contornou a cama e foi até ele, tocando-lhe o ombro.

─ Só a morte me faria desistir. ─ Disse com firmeza. ─ Não consigo respirar aqui dentro, nem viver, tampouco raciocinar. Demorei anos pensando que um dia isso melhoraria, mas não foi assim. Mas agora decidi que não vou mais me submeter à péssima energia desse castelo. Já chega. Já basta de tanta dor. Eu quero recomeçar, ser feliz. E isso jamais acontecerá dentro dessas malditas paredes.

Theodoro o fitou profundamente nos olhos.

─ Tente se manter vivo, por favor. Não estarei lá para te proteger. ─ Gracejou apesar do pesar que pairava no ar.

Ruggero riu.

─ Farei o meu melhor para continuar respirando. Eu prometo.

Não era a primeira vez que aquela situação toda soava como errada, mas o monarca resolveu ignorar.
Ele pensava que a angustia que sentia provinha da última descoberta. Seria uma dor a mais que ele carregaria, mesmo sem possuir culpa.

Uma marca eterna.

─ Ruggero, você acha que conseguiremos?

─ Claro. Sem dúvidas.

Theo assentiu.

─ Eu acredito em você. ─ Sorriu. ─ Vai realmente ficar naquela cabana velha? Deve estar caindo aos pedaços.

─ Arrumarei o que precisar, mas passaremos poucas horas por lá.

─ Tudo bem. Mas tome cuidado. A floresta não é segura, você sabe.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora