XXII

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Ravi não havia conseguido dormir quase nada. Com as pálpebras pesadas e o corpo dolorido pela noite péssima que teve, o rapaz vestiu sua pesada capa e saiu do castelo. Precisava caminhar um pouco, mesmo que a neve continuasse castigando a Inglaterra.

Ele adentrou o pátio principal e acenou para alguns guardas que imediatamente fizeram uma reverência, então, com os braços cruzados e a cabeça baixa, o príncipe voltou a pensar sobre o que Miss Karol havia dito. Ainda parecia irreal demais.

Era difícil de acreditar, mas a parte racional de sua mente ia perdendo as forças. Ele estava apaixonado e encantado demais para ponderar com clareza. Pela primeira vez na vida era mais fácil usar apenas as emoções.

O príncipe tinha perfeita consciência de que seu casamento com a duquesa Paulina estava se encaminhando, bem como sua ascensão ao trono, mas depois da conversa que teve com Miss Karol, o jovem já não tinha a menor vontade de prosseguir com tudo isso.

Se os pais o quisessem deserdar, por ele tudo bem. Talvez fosse a hora de ir pela própria cabeça.

Ouvir-se.

Karol não amava Ruggero e, consequentemente, o irmão não devia amá-la, caso contrário teria sido mais persuasivo para tê-la; portanto, para Ravi, estava explicito que entendeu tudo errado antes e que, de alguma forma maluca, o destino o estava mostrando que havia uma chance para ser feliz plenamente e de coração aberto.

Totalmente entregue.

─ Alteza!

Com o cenho franzido, Ravi virou o rosto a tempo de ver Damian Casadeval se aproximando.
Damian era filho do dono da maior joalheria de Áquila e, sem dúvidas, ocupava um posto de muito respeito na cidade, principalmente por sua elegância e gentileza; além de ter acabado de se formar em medicina. Retornara a Áquila com muito prestigio.

Eles se conheciam de vista, nunca foram amigos próximos, portanto Ravi estranhou a forma descontraída que o rapaz se aproximou.

─ Bons dias.

─ Como vai, Alteza? ─ Damian não fez uma reverência, apenas parou na frente do príncipe e cruzou os braços, esbanjando soberba no olhar. ─ Eu vim saber se as rosas que mandei para a senhorita Karol chegaram. E, bom, espero ter a sorte de vê-la.

Ravi o olhou de cima para baixo, então sorriu de canto.

─ Sinto dizer-lhe que a senhorita está descansando ainda. É muito cedo.

Damian, portador de tempestivos olhos negros e uma face de traços bem marcados, além de cabelos castanhos que emolduravam um rosto quadrado e firme, se pôs a ponderar; não parecia tão cedo assim, ademais, a tinha visto no baile da noite anterior e a moça se recolheu bem cedo; até havia se recusado a dançar com ele por estar cansada.

Ele imaginou que ela já estaria de pé, que havia recebido suas flores.

─ O senhor tem certeza?

─ Está duvidando do seu monarca?

─ Não é isso, eu só...

─ Sr. Casadeval, sei que não somos amigos, mas permita-me dar-lhe um conselho...

─ Claro, pode falar.

─ Não perca o seu tempo aqui. ─ Ravi apontou para o castelo atrás de si. ─ Ali dentro está abarrotado de buquês, chocolates, mimos... Então, sinceramente, não há a menor chance dela saber quais são as rosas que você mandou. Acredito que Miss Karol sequer se importe com isso neste momento.

Assombrado com a dureza das palavras do príncipe, Damian franziu o cenho.

─ Mas ela...

─ Ela é uma bela moça, muito educada e de muita gentileza, mas sejamos francos, está óbvio que se ela quisesse mesmo conversar com o senhor, ela o estaria esperando.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora