─ Minha madrinha ama o cheiro de lavanda. ─ Nelly pegou um galhinho e levou até o nariz de Miss Karol que inspirou profundamente o cheiro suave da lavanda. ─ Não é ótimo?
Não dava para discordar.
Em meio a tantas barracas de roupas, frutas e ervas, as duas se viam distraídas, adorando como a vida pulsava loucamente por ali.
Ninguém parecia tão interessado em observá-las, pois estavam ocupados tentando vender bastante.De cada lado do centro comercial, lojas e boticas se erguiam, mas as moças só queriam caminhar um pouco e não ficar dentro de estabelecimentos fechados.
Mais a frente uma sapataria estava abarrotada de clientes, então Miss Karol se lembrou que a rainha lhe mandou fazer sapatos também, afinal não poderia usar os trapos que calçava desde que chegou ao castelo.
Deixando de lado o galhinho de lavanda, a moça mordeu o canto do lábio.
─ Nelly, acabei de me lembrar que devo ir até o sapateiro...
─ Se a senhorita quiser, eu vou. Há tantas pessoas na frente. Sempre quando está perto do baile, é esse alvoroço.
─ Não, Nelly. Preciso tirar as medidas. Que coisa! Se eu tivesse me lembrando antes... Agora vamos nos atrasar ainda mais.
Um pouco nervosa, Nelly abanou a cabeça.
─ Não se preocupe. Deixe comigo. Irei embrenhar-me por aquelas pessoas e posso falar com o Senhor Jaime, o sapateiro. Tenho certeza que sabendo que é um pedido da rainha, ele a colocará na frente de todos.
Miss Karol olhou em volta, depois negou.
─ Não seria justo.
─ Mas vai ser mais injusto ainda se a rainha arrancar as nossas orelhas por demorarmos muito.
Karol riu.
─ Tens razão. Vá, Nelly. Irei esperar-te aqui.
─ Pode confiar, Miss Karol. Irei resolver isso. ─ A Aia piscou o olho para sua senhorita e endireitou a postura, misturando-se aos outros fregueses que perambulavam pelos corredores estreitos de barracas abarrotadas.
Miss Karol se encolheu um pouco para que uma moça com vestido enorme passasse, então achou por bem ir para a calçada, afinal dali podia ver até melhor a sapataria.
Por um segundo a mocinha parou para pensar nas circunstâncias que estava e ponderou internamente sobre tudo o que a levou até ali.
Pensou na mãe e instintivamente levou a mão até o pingente de lua que carregava no pescoço, então respirou bem fundo.Áquila era completamente diferente do mundo em que nasceu e cresceu, parecia outra dimensão, por isso lhe custava acreditar que era real.
Após inalar uma boa porção de ar, aquiesceu.
Colocou na cabeça que precisava começar a entender essa nova vida, caso contrário seria ainda mais difícil.
─ Bons dias, senhorita.
Antes que Miss Karol pudesse fugir, Mrs. Coimbra parou perto dela, portando um espalhafatoso vestido preto e um chapéu enorme na cabeça.
─ Como vai?
A viúva a encarou de baixo para cima, enrugando o cantinho do nariz.
─ Estou formidável! O que faz por aqui sozinha? Talvez não esteja acostumada, mas as moças de respeito, jamais caminham sozinhas, ainda mais tão cedo.
Miss Karol comprimiu os lábios, pensando em algo mais educado para responder.
─ Agradeço o conselho, é muito gentil da sua parte, mas não estou sozinha. Vim com a minha Aia.
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A Face do Anjo
FanfictionSINOPSE:"No inverno de 1840 o Reino de Áquila, situado ao Sul da Inglaterra, fora bombardeado por fofocas em torno de uma moça que havia sido encontrada desmaiada na floresta. A jovem tivera a sorte de ser resgatada pelos irmãos mais importantes de...