XXIX

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Karol deixou a cesta abarrotada de rosas em cima da mesinha no canto da parede e se aproximou da cama onde a mãe estava, então se ajoelhou e tocou o rosto da mulher que sempre a cuidou, apesar dos pesares.

Lily estava muito suada, tinha os lábios arroxeados e olheiras profundas. Seu rosto que sempre foi belo e jovial, agora se encontrava ossudo, sem vida alguma, totalmente distorcido, como se a morte cravasse as unhas em sua carne.

O tempo lhe faltava.

─ Estou indo para o centro. ─ Karol sussurrou. ─ Acho que hoje terei mais sorte, mamãe. À noite não ganhei muito, mas as rosas podem me ajudar a completar o dinheiro do aluguel.

─ Meu sol... Diga-me que desistiu... ─ Ela tossiu e se empertigou, cheia de dores. ─ Por favor, diga-me que desistiu daquele rapaz. Não pode amá-lo. Ele é proibido para você... É filho daquela mulher... Estragará nossos planos.

Karol desviou o olhar.

A noite anterior havia sido a mais intensa de sua vida e quando chegou em casa, alardeou aos quatro ventos seu primeiro amor, o encontro com sua alma gêmea. Mas Lily ficou furiosa e até piorou, simplesmente por tomar consciência de quem era ele.

Todas as moças alvoroçadas do bordel disseram a Karol quem era ele. O príncipe.

E naquele momento Karol soube que era impossível.

Em casa, Lily confirmou isso.

Não podia aceitar que a filha amasse um homem que tinha o sangue de sua maior inimiga, da mulher que roubou o amor de sua vida, que tomou a coroa que seria sua, o dinheiro... Antonella era sua praga.

E por mais que tivesse algum afeto pela filha, Lily não achava que ela merecia viver um amor que lhe foi negado.
Concebeu Karol com um único propósito e era esse que ela devia seguir.

Lily se afastou de seu povo por estar grávida, foi renegada pela família, abandonou tudo para ir atrás de Bruno e, no entanto, ficou sem nada.
Se permitiu que a gravidez fosse à frente, era por um motivo.

Caso contrário a teria matado antes mesmo de nascer, como fez com o primeiro filho que esperou de Bruno.
Naquela época, tomou um preparado forte de ervas e matou o bebê, então escreveu para Bruno contando tudo; mas ele não a quis, foi capaz de renegá-la de novo...

Mas Karol não sabia disso e nem teria motivo para saber...

─ Mamãe, por favor, apenas descanse.

Lily agarrou a mão da moça ao seu lado, apertando com todas as forças que ainda tinha.

─ Prometa que nunca ficará com ele. Prometa, senão não poderei ter paz. Eu preciso que faça o que lhe instrui a vida inteira. Minhas abdicações e sacrifícios não podem ser por nada. Filha, você precisa vingar as dores que passamos. Só você poderá acabar com o meu sofrimento. Só você... Se for preciso, mate-o. Mate-o antes que roube o seu coração.

─Mamãe, pare!

─ O amor é como os espinhos das rosas. Irão te ferir, fazer-te sangrar e, quando achar que pode se curar, ele o machucará de novo... É assim. Nós duas estamos amaldiçoadas a não receber amor. Mas podemos nos vingar. Acabe com eles por mim. Honre os meus sacrifícios. Lembre-se tudo o que deixei para trás para criar você, do quanto sofri naquela maldita fábrica até adoecer... Fiz tudo por você. Você me deve isso. Você me deve muito.

Karol puxou a mão que ela segurava e ficou de pé, zonza de tantos sentimentos caóticos que espremiam seu coração.

Não imaginava Ruggero como uma má pessoa. Gostava dele... Entregou-lhe a rosa junto da carta mais dolorosa que já escrevera. Foi má.
E doeu ser assim com ele.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora