XIV

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Faltando pouquíssimo para o inicio do baile já era possível perceber que – aparentemente – absolutamente ninguém se recusou a aceitar o convite da rainha, pois o salão ficou abarrotado e, sabendo-se que era enorme, foi de se espantar.

Muito embora houvesse uma boa teoria por trás disso: estavam eufóricos para conhecer a mocinha que chegara ao palácio.

Mesmo que boa parte da cidade já a tivesse visto, inclusive correndo por entre as barracas do centro comercial, ainda assim, ansiavam por mais, como um viciado em álcool que permanecia nas tabernas mesmo após o dono dizer que precisava fechar.
Desejavam com todas as forças comentar sobre ela, saber se demonstraria a falta de origens que tinha e, lógico, se algum cavalheiro ousaria chegar perto, mesmo sabendo o tamanho do problema que poderia arranjar mais para frente, afinal nada se sabia sobre ela.

Cogitavam tantas coisas!

Apesar de estar carregando consigo um vestido feito pelas mãos da melhor modista da cidade, além de um alto dote pago pelos monarcas, ainda assim, questionavam-se se algum jovem de bom juízo contrairia matrimônio com uma moça que passava tão longe do que era exigido para ser considerada uma boa esposa.

Quem poderia garantir que não geraria filhos doentes? Ou pior, e se não fosse fértil? Poderia até não ser mais pura...

Mrs. Coimbra, que havia acabado de ser anunciada por Bernard, acenou para a rainha que já caminhava pelo salão cumprimentando algumas pessoas ao lado do rei; após dar uma boa olhava em volta, Penélope chamou para perto de si Amélia, a filha mais nova.

─ Veja, ali está o príncipe Ravi...

A menina, no auge de seus dezessete anos, tão desprovida de beleza quanto de simpatia, olhou para onde a mãe apontava e abriu um sorriso nada discreto.

─ Ele é tão bonito!

─ Vá! Converse com ele. Não há empecilhos, afinal somos praticamente da mesma família, não acha?

Âmbar, a outra filha que era apenas um ano mais velha, riu das palavras da mãe.

─ Sua Alteza não olharia para Amélia, minha mãe. Eu sou muito mais bonita! Entretanto, já adianto que meus olhos, minha alma e meu coração pertencem ao irmão mais velho. Ó! Tão belo!

─ Aquele rapaz sem futuro?! Recuso-me a aceitar e acredito que o seu pai diria o mesmo, querida.

─ Minha mãe, ele pode ser o que for para a senhora, mas a verdade universal é que será um rei no futuro. Imagine, não quer que a sua filha mais velha torne-se uma rainha?! – A mocinha, de nariz enorme e sardas ligeiramente pigmentadas pelo ruge excessivo que usava, maneou a cabeça de modo desdenhoso, capturando com o olhar o príncipe mais velho que ia entrando no salão. ─ Olhem! Ele está fabuloso! Ó mamãe! Estou apaixonada!

Não foram apenas a mãe e as duas filhas que puseram os olhares sobre o príncipe Ruggero quando ele apareceu na soleira da porta do salão; todas as damas e cavalheiros pararam para observá-lo, já que o rapaz quase nunca aparecia nesses eventos.

Com a coroa na cabeça e um terno azul, além de uma calça preta e luvas brancas, ele parecia saído de algum conto de fadas, tão sombrio quanto o olhar que dirigia as pessoas; porém, ainda assim, possuidor de uma áurea de atração inenarrável.

Ignorando os pares de olhos que o seguiam, o rapaz foi até o irmão mais novo – que apesar de vestir-se muito mais discreto com um terno preto e calças da mesma cor, além da coroa, sustentava uma pose imponente por natureza, olhar esperto e uma beleza mais contida por trás de gestos calculados.

─ Acabei de lembrar-me por que sempre me esquivo desses eventos. ─ Ruggero comentou com Ravi; sua voz era abafada pela música animada que ecoava por todos os lados ao sair dos instrumentos de uma orquestra que tocava em um ponto mais alto da sala.

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