Com todo o cuidado que podia a rainha desceu do cavalo. Ela tinha consciência de que não havia sido uma boa idéia andar no alazão naquelas condições, mas ir a pé era fora de cogitação.
Porém, além da forte sensação de pesar por causa do que aconteceu com Delano, ela também se via tendo que suportar uma dor aguda no lado direito da barriga que dificultava até a respiração. E parecia piorar a cada passo.
A monarca parou e lutou para puxar o ar, reorganizado os próprios batimentos.
Não adiantaria surtar àquele ponto de sua vida, afinal não era a primeira morte que via e duvidava que pudesse ser a última.
Por um momento Karol se perguntou se aquela frieza para lidar com a morte vinha de sua mãe ou de seu pai...
Em segredo, a esposa de Ravi desejava não ter puxado isso da sua parte materna, caso contrário seria ainda mais difícil de continuar pensando o melhor sobre Lily, mesmo que já tivesse consciência de que a mãe não era a melhor das pessoas─ Precisa de ajuda, Majestade?─ Ofereceu um dos guardas.
Karol esboçou um sorriso cansado.
─Acho que estou enferrujada. Fazia algum tempo que não andava a cavalo.
O soldado, talvez poucos anos mais novo do que ela, assentiu.
─ Esse alazão é do senhor Bruno. É um dos mais mansos do castelo.
─ É o cavalo do meu sogro?
Pai, ela gostaria de dizer.
─Sim. ─ O guarda afagou o focinho do animal.─ Ele costuma ser bem doce com todos, mas não é sempre que permite ser montado. É uma espécie de... digamos, ele gosta de ser acarinhado, mas não ordenado. Na verdade, só o senhor Bruno sabe agradá-lo.
─De verdade? Comigo ele foi ótimo...
─ Talvez ele tenha visto na senhora algo que só viu no antigo rei. Porque só isso explicaria essa calmaria toda ao ser comandado por uma amazona, até então, desconhecida para ele.
Certa vez, Karol se lembrou, a mãe havia dito que a menina tinha herdado o dom de amar os animais do pai. Mas Lily falou como se fosse algo ruim, pecaminoso, e isso deixou a rainha, na época apenas uma criança, com sentimentos controversos.
Queria amar os bichos, mas não queria ser o que o pai era, porque a mãe fazia tudo parecer um cenário de erro.
Ter um fio de cabelo parecido com Bruno, dava-lhe um medo absurdo de ser rejeitada. Por isso o renegou a vida inteira.Karol pigarreou.
─ Enfim... Você saberia me informar se o meu marido está no castelo?
O guarda pegou as rédeas do cavalo e endireitou a postura.
─ Não, senhora. O rei saiu acompanhado do pai e ainda não retornou. Deseja que eu vá atrás dele?
─ De modo algum!─ Guinchou rapidamente, dando graças a Deus por não ver Ravi. ─ Leve o cavalo para os estábulos, por favor.
─ Sim, Majestade. Com licença.
Por mais que Karol soubesse que ninguém ali fazia idéia de seu último feito, a sensação de que a qualquer momento iriam apontá-la parecia tão real quanto aterradora.
Era uma pressão absurda no peito.Ela puxou todo o ar que podia e depois soltou, pressionando a lateral da barriga, por que a dor ainda permanecia ali, tão aguda quanto antes.
De fato, havia sido uma péssima atitude atrás da outra. Uma sucessão de erros.Empinando o queixo, a rainha soltou a capa vermelha que usava e a pendurou no antebraço, subindo degrau por degrau da entrada do castelo, empurrando para longe o pressentimento que ia tomando seu peito.
Um péssimo pressentimento.
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A Face do Anjo
FanfictionSINOPSE:"No inverno de 1840 o Reino de Áquila, situado ao Sul da Inglaterra, fora bombardeado por fofocas em torno de uma moça que havia sido encontrada desmaiada na floresta. A jovem tivera a sorte de ser resgatada pelos irmãos mais importantes de...