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Há, meu caro leitor, um provérbio cigano que diz: "A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a sua própria natureza." Isso demonstra que muitas pessoas podem ter as mesmas cartas nas mãos, mas escolhê-las usá-las de formas diferentes, de acordo com o que carregam em si.

A coisa certa nas mãos erradas se torna uma arma, mas nas mãos corretas, pode ser uma benção.
Porém, diante de tudo o que pensou, Ruggero se questionou profundamente, com medo de estar delirando, de cometer um equivoco tão grande que pudesse descarrilar tudo. Naquele momento, a coisa certa que estava em suas mãos era, na verdade, uma maldição.

E quando acordou no dia seguinte, pouco antes do nascer do sol, o príncipe se esgueirou para fora do quarto, confabulando uma forma de retirar todas as dúvidas que ainda pairavam sobre sua cabeça.
Era uma necessidade inumana que o movia. Morreria se não tirasse tudo a limpo.

Por isso antes de partir rumo a uma resposta, Ruggero encarou a moça deitada na cama, tão bonita e angelical quanto sempre.
Parecia saída de seu sonho e ainda lhe custava acreditar que havia sido sua a noite inteira... Com o coração na mão, o rapaz pressentiu que independente do que soubesse, já estava atrelado àquela dama para sempre.

─ Isso sempre foi seu... ─ O príncipe sussurrou após deixar sua preciosa rosa ao lado de Miss Karol. ─ Igualmente os meus sentimentos, Belle Rose.

Após depositar um beijo na testa dela, Ruggero se foi.

Precisaria viajar por algumas horas.


Miss Karol despertou com uma sensação estranha. Era a primeira vez em muitos e muitos anos que não havia um aperto em seu peito e nem uma sensação perigosa serpenteando por suas veias.
Enquanto organizava os pensamentos e colocava a vida em ordem, deu-se conta de que estava sorrindo. Sentia-se feliz.

Ela massageou as têmporas e bocejou, por fim se espreguiçou.

De alguma forma ainda podia senti-lo por todos os lados. Sua pele marcada era sinal de que o carinho foi verdadeiro e a entrega também.
Foi como estar finalmente completa. Ruggero a punha em êxtase e estado de perfeição.

Sorrindo mais ainda a moça virou de lado a fim de puxar o travesseiro em que ele estava antes, para sentir o perfume do príncipe, entretanto, suas mãos esbarraram nos espinhos da bela rosa pousada ali.

Um filete de sangue desceu por seus dedos e respingou no lençol, mas isso não chamou sua atenção.

A rosa era o que fazia seu coração disparar.

Miss Karol jogou o corpo para frente, sentando.

─ Mas o que é isso... ─ Murmurou. ─ Por que a rosa está aqui... Ruggero? ─ Olhou em volta. ─ Ruggero? Não tem graça... Cadê você? Porque trouxe a rosa?

Porém ninguém respondeu. Nem haveria como responderem. Ela estava sozinha, de cara com seu passado.
Um passado amargo.

Miss Karol envolveu seu corpo nu em um dos lençóis e desceu da cama, pisando na ponta dos pés enquanto ia espiar no banheiro, entretanto, estava vazio.
Para o azar dela, não havia uma boa explicação para aquela rosa estar ali.

O pânico começou a deixá-la angustiada.

A moça não conseguia pensar em um motivo para Ruggero deixar a rosa mais importante do mundo pra ele, ali.
Claro que não. Não fazia sentido.

Com certo receio, mas muito medo que alguém mais visse, ela pegou a flor em cima da cama e a trouxe para perto de si, inalando o perfume delicioso que exalava pelo quarto inteiro, obrigando-a a voltar ao dia em que a colheu...

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora