XXVIII

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Atordoado, Bruno se desvencilhou de Penélope e se pôs a fechar a braguilha da calça, tentando se recompor na vergonha imensa que sentia.

─ Senhorita Karol...

─ Ah não se apresse, Majestade. ─ Miss Karol foi se sentar numa poltrona perto da janela e cruzou as pernas. Paciente. ─ Olá, Mrs. Coimbra, como vai?

A viúva estava em completo choque e precisou de muita força para endireitar o vestido e os cabelos bagunçados, lutando para montar sua figura respeitosa de antes, mas que já não convenceria a mocinha sentada ali.

Penélope, pálida e trêmula, não sabia nem onde ficar, onde colocar as mãos, o que dizer...

Aquilo não era para ter acontecido. Nunca. Ninguém podia descobrir.

O rei, por sua parte, não acreditava que havia deixado a porta aberta. No fundo, ele não esperou que chegasse a tanto, sequer tinha planejado como das outras vezes; foi um descuido tolo que podia lhe custar muito.

Mil pensamentos rodopiavam pela sala; e Miss Karol só observava atenta.

─ Isso que a senhorita viu...

─ Poupe-se das explicações, Mrs. Coimbra. O que eu vi está bem claro. Mas, para a sua sorte, eu não sou rancorosa. Até me esqueci das inúmeras vezes em que me acusou de coisas baixas e feias. De verdade. Meu coração está limpo de ressentimentos.

Penélope não acreditava, mas estava nervosa demais para retrucar. Queria morrer.

─ Acho que é melhor conversarmos com calma. ─ O rei propôs, dando a volta em seu gabinete, indo sentar. ─ Acredito que houve uma grande confusão e que somos adultos o suficiente para resolver isso aqui. Sem interferências externas ou algo do tipo.

Miss Karol sabia o que ele estava tentando fazer, mas não estava disposta a entregar o jogo assim.

No fundo, sua mãe sempre teve razão sobre ele. Bruno era fraco. Covarde. Traidor.

Odiava-o muito mais. E se odiava por ter o mesmo sangue dele.

─ É claro. ─ Mrs. Coimbra guinchou. ─ O rei está certo. Podemos resolver isso aqui. A senhorita não pode contar nada. De modo algum. Pense na rainha, no povo... Em minhas filhas. Ó, sim! Minhas meninas seriam excluídas da sociedade, humilhadas... Por favor, por tudo o que é mais sagrado, não permita que nossa reputação vá para o lixo. Eu sei que pode me entender...

─ Perdão, mas eu não tenho como entendê-la, pois jamais me prestaria a um papel desses. ─ Karol apontou para a mesa onde estiveram antes. ─ Confesso que me envergonha falar sobre isso, porque sequer sou casada e acredito que uma dama não dialoga sobre esses assuntos, mas, vejamos, é difícil esquecer o que se presencia assim. E, para começo de conversa, sinto muita dó de suas filhas, por isso não fiz escândalo algum. Estou quieta, ou não?

A viúva cambaleou e se apoiou numa cadeira.

─ Por Deus! Não conte à Antonella... Ela é minha melhor amiga. Se ela souber...

─ Acalme-se, senhora. Respire um pouco. Eu não fiz absolutamente nada.

O rei pigarreou.

─ A senhorita Karol é uma moça muito amável e inteligente, Penélope. Sei que está agindo assim porque tem consciência das coisas e não irá deixar-se guiar por qualquer coisa ruim. Ela é uma boa pessoa.

─ O senhor me lisonjeia falando assim, Majestade. Agradeço as belas palavras e devo reforçá-las, porque são verdadeiras. Eu realmente não pretendo expô-los. Claro que não. Seria um tremendo escândalo e Áquila não precisa disso, tampouco minha amada rainha. ─ Ela forçou-se a não rir. ─ Por mais que a sua esposa não acredite, eu a tenho como uma mãe. Jamais iria querer vê-la magoada, sofrendo.

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