Ruggero quase tropeçou nos próprios pés ao adentrar a antessala do palácio.
Tentou se apressar para alcançar a escadaria, mas foi interceptado pelo chamado severo de sua mãe e precisou parar, apesar de estar em completa combustão espontânea.
─ Filho, onde estava?
Ele passou a mão pelos cabelos desgrenhados e bufou.
─ O que quer, mãe?
A rainha olhou o filho de cima a baixo e franziu o cenho.
─ O que aconteceu com a sua roupa? O seu cabelo... Ruggero, por favor, não me diga que você... ─ Ela meneou a cabeça de um lado para o outro, irritada. ─ Pelo amor de Deus! Ruggero, essas moças são filhas de nossos conhecidos e você é um príncipe. Eu não acredito!
─ Não precisa ficar desesperada, mamãe. Eu não fiz nada que possa envergonhá-los. Não toquei em nenhuma das suas preciosas moças. ─ Retrucou impaciente. ─ O que a senhora quer? Será que pode ser rápida? Estou morrendo de dor de cabeça.
Antonella respirou fundo e se aproximou do filho, estudando-o por alguns segundos, então assentiu vagamente.
─ Eu o estava procurando porque assim como o seu pai, seu irmão e eu, você também deve ficar no baile até o fim. Somos os anfitriões. Vá lavar esse rosto, arrumar essa roupa e volte para o salão.
─ Não. Eu não vou. Não faço a menor questão dessa porcaria. Será que pode deixar-me em paz ao menos uma vez na minha desgraçada vida?!
─ Não fale comigo assim, ainda sou a sua mãe, Ruggero! Pelos Céus! Será que não entende que estou fazendo isso para o seu bem? Filho, olhe para mim, eu sou a sua mãe e não a sua inimiga. O que está havendo com você?
─ A senhora quer mesmo discutir a nossa relação esquisita agora? Por favor, sejamos francos, a sua única preocupação é que eu não vá para a cama com uma das mocinhas desse reino.
Ela amargou o sorriso cínico que ele esboçou.
─ Eu quero que entenda o peso do cargo que ocupa neste reino.
─ E eu quero que a senhora entenda que nesse momento em especifico estou pouco me importando com o que quer que seja.
Antonella bufou.
─ Volte para o salão, Ruggero.
─ Eu não vou. Não sou mais aquele garotinho bobo que todos alfinetavam com duras palavras ou ordens. Eu cresci, minha mãe, e por mais difícil que seja para você, eu desenvolvi uma personalidade que não foi moldada em suas mãos ou nas mãos do meu pai, portanto, sei o que quero e o que faço.
─ Você ainda é um moleque inconseqüente que acha que já pode ser chamado de homem. Tem a mesma petulância do seu falecido avô, mas eu posso adiantar que ter um gênio forte assim não te levará a lugar algum.
Ruggero a encarou. Sempre que falava do pai, Antonella ficava mais rígida, amarga. Para o príncipe, isso era sinal de que a mãe nunca soube lidar com pessoas que não obedecem a seus anseios.
─ Quando eu era criança, eu desejei muito que a minha petulância, como a senhora diz, servisse para fazê-la perceber que eu precisava da sua atenção, mas hoje em dia não é mais assim. Eu só quero que entenda que eu sou o seu filho e não um criado que cumpre seus caprichos.
A rainha olhou para o lado quando viu alguns servos passando com bandejas, então amenizou o tom de voz para não chamar atenção, voltando-se para o filho.
─ Querido...
─ Não quero conversar, mãe. Eu realmente não quero.
─ Porque é sempre tão difícil entender você?
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A Face do Anjo
FanfictionSINOPSE:"No inverno de 1840 o Reino de Áquila, situado ao Sul da Inglaterra, fora bombardeado por fofocas em torno de uma moça que havia sido encontrada desmaiada na floresta. A jovem tivera a sorte de ser resgatada pelos irmãos mais importantes de...