XXIV

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A porta do quarto de Ravi estava entreaberta, mas Miss Karol hesitou um pouco antes de entrar. Ela precisava manter a postura de antes, de que o amava, de queria estar com ele, mesmo que tivesse acabado de abraçar Ruggero e de sentir algo que nunca sentiu antes. O toque dele era seu refúgio.

Soltou o ar pela boca, passou a mão pelo vestido sujo e assentiu para si mesma.

A mãe não a ensinou tantas coisas para que ela desistisse bem ali. Não. Lily nunca a perdoaria, onde quem que estivesse.
Karol sentia que não tinha escolhas, nem querendo muito. Sua mãe se esforçou muito para criá-la, quase morreu no parto, foi abandonada, enganada por Bruno... Como ela podia abandoná-la também? Ainda mais pelos filhos da mulher que quase a matou no passado? Isso seria entregar um atestado de vitória para Antonella. E a rainha não merecia.

Miss Karol empurrou a porta devagar e enfiou a cabeça pelo vão, vendo Ravi quase que imediatamente.
Ele estava se sentando e puxando o lençol para o lado, aparentemente querendo ficar de pé.

─ Ei, o que está fazendo? O senhor precisa descansar! ─ Ela disse adentrando o cômodo, assustando o príncipe que não esperava aquela atitude.

Não era por nada, mas o rapaz não desejava que ela ficasse mal falada por isso.

─ Miss Karol, o que faz aqui?

─ Eu vim vê-lo. Espere, deixe-me ajudá-lo. ─ A moça puxou o lençol para cima dele novamente e depois ajeitou o travesseiro, para que ele pudesse se recostar à cabeceira. ─ O médico não lhe recomendou descanso, Alteza? Precisa obedecer.

Ravi ficava acompanhando os movimentos dela, atento.

A dor atrás da cabeça ia aliviando, talvez pelas gotas que tomou. Ele não tinha certeza. Mas preferia pensar que era por causa da presença dela. Era a melhor sensação de sua vida perceber que Miss Karol se preocupava, que queria cuidá-lo.

─ Obrigado por estar aqui.

Miss Karol entrelaçou as mãos atrás das costas e sorriu.

O príncipe, apesar de pálido, ainda parecia majestoso. Sempre imponente. Ravi era uma potência, principalmente pelo corpo largo, o rosto firme, mas com olhar gentil; Desta vez não estava bem penteado como sempre, nem arrumado. Trajava uma camisa branca com alguns botões abertos, despojado. E os cabelos assanhados, presos na lateral por uma faixa branca, lhe conferiam um ar mais jovial. Nem acidentado o rapaz deixou de provocar um burburinho estranho dentro do coração dela.

─ Eu não poderia estar em outro lugar, meu querido. ─ Retrucou, aproximando-se mais da cama. ─ Como está se sentindo?

─ Melhor. Não acho que seja preciso ficar guardando leito. Sinto-me bem, disposto. Talvez seja uma perca de tempo e de trabalho permanecer aqui.

─ De forma alguma! Eu o proíbo de sair da cama. Pelo menos até que esteja completamente recuperado.

─ O doutor falou que não foi nada sério.

─ Mas uma pancada na cabeça sempre inspira cuidados. ─ Miss Karol, abusando da sorte, sentou-se na beirada da cama dele. ─ Não sabe como fiquei desesperada ao vê-lo caído daquela forma.

O príncipe não pôde conter o sorriso abobalhado.

Ele não se lembrava muito bem dos detalhes de sua queda. Os acontecimentos pareciam cobertos por uma névoa. A única coisa da qual não era capaz de se esquecer, era da voz dela em sua cabeça. Sabia que a moça estava ali.

─ A senhorita realmente ficou preocupada?

─ Mais do que possa imaginar.

Ravi esticou a mão e tocou a mão dela, acariciando-a.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora