XXVI

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Ruggero não havia conseguido dormir quase nada. O dia anterior havia sido um inferno, sem contar no papel de palhaço que fez indo até o quarto dela, falando aquelas coisas. Ele se odiava por ter cedido aos instintos.

Já Theodoro, que havia ido levar alguns papéis até o quarto do príncipe, deixou de lado as obrigações e percebeu que naquele momento seu monarca precisava de um amigo e não de um cortesão para lhe entregar trabalho.

Estava óbvio que Ruggero estava abatido, diferente.

─ Alteza, aconteceu alguma coisa?

Ruggero terminou de vestir a camisa e começou a abotoá-la, esbarrando um dedo no outro e se atrapalhando. Até isso o irritava.

─ Acha pouca a desgraça de ontem? É um inferno, Theo. O inferno!

─ Lá de baixo nós ouvimos tudo. Perdoe-me se estou sendo intrometido, mas acho muito estranho esse casamento. Seu irmão nem a conhece direito...

─ Pois é! ─ Ruggero desistiu de abotoar a camisa e foi se sentar na cama. Estava cansado, exasperado. ─ Acontece que o meu irmão é um asno! Apaixonou-se como um pato e agora vai cair no conto da cobra e pronto! Vai se casar com ela sem sequer esperar para conhecê-la...

Theo cruzou os braços.

─ O príncipe Ravi realmente se apaixonou, não foi?

─ É o que parece. Meu irmão é burro. Ele acha que essa paixão vai durar para sempre. Daqui a pouco esse fogo apaga, e ele vai estar casado e sofrendo. Eu sei disso.

─ O senhor sabe ou deseja isso?

Ruggero virou a cabeça e encarou Theodoro.

─ O quê?

─ Alteza, acima de tudo me considero seu amigo, o senhor é para mim toda a família que tenho desde que perdi meu pai, portanto, sinto-me no direito de falar abertamente o que penso. E, para mim, está óbvio que está morrendo de ciúmes do Ravi. O senhor também se apaixonou por ela, certo?

─ Está louco?! ─ Ruggero guinchou, ficando de pé. ─ Isso é ridículo!

─ Ah é? Então porque ontem foi até o quarto dela? Eu o vi entrando lá, depois a Nelly saiu. A Nell não quis me contar o que estava acontecendo, mas deduzi. ─ Theodoro suspirou pesadamente. ─ Vai ser uma grande confusão isso tudo. Alteza, se a quer, trate de dizer antes que seja tarde, mas ficar se esgueirando até quarto da moça não irá trazer bons resultados, muito pelo contrário.

O príncipe sabia que o amigo tinha razão e apesar de ser muitos anos mais novo, Theodoro sempre possuiu uma maturidade admirável. Ruggero realmente gostava dele, confiava cegamente e tinha dentro de si a certeza de que precisava protegê-lo, por isso o levou para o castelo depois de tudo o que aconteceu com o pai dele.

─ Ela quer ficar com o meu irmão.

─ Mas ela o ama?

─ Eu não sei. Não sei nada sobre aquela diaba! ─ Guinchou. ─ Ela me confunde por inteiro, Theo, você compreende? Parece que eu vou ficar maluco, mas ao mesmo tempo tenho uma raiva imensa... Eu tenho a sensação de que a dor dela dói mais em mim do que qualquer traição que ela possa cometer, caso fique com o meu irmão. É patético, mas é o que sinto.

Theodoro passou as mãos pelos cabelos e abanou a cabeça.

─ Sabe, Alteza, eu me apaixonei pela Nelly. Bom, não é segredo para o senhor que sempre pensei nela, eu já tinha mencionado antes. ─ Theo disse e Ruggero assentiu. ─ Baseado nesse sentimento, em tudo o que ele causa no meu peito, eu tenho a certeza de que o amor não deve ser assim. O senhor está indo para um caminho de obsessão. Está prestes a travar uma batalha contra seu irmão para tê-la e disso ninguém sai vencedor.

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