XXXII

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Miss Karol estava quase abrindo um buraco no piso da antessala de tanto ficar andando de um lado para o outro, desejando com todas as forças irromper pelas portas da sala de visitas e envolver Ruggero em seus braços, independente do que houvesse acontecido.

Mas infelizmente Antonella impediu que ela ficasse com a família, colocando até guardas na porta.
A monarca não queria uma intrusa ali e nem Ravi pôde convencê-la do contrário, portanto a moça decidiu que ficaria por perto e na primeira oportunidade que tivesse, buscaria saber mais.

Precisava disso para viver.

─ A senhorita vai ter um treco. Tome, beba um pouco de água.

─ Eu não quero nada, Nelly. Por Deus! ─ Karol mordeu o canto da boca, ansiosa. ─ Por que estão demorando tanto?

A Aia que estava tão nervosa quanto, bebeu a água que ela não quis, entornando todo o líquido num gole só.

─ Eu não sei. ─ Limpou a boca com as costas da mão. ─ A rainha não deixou o Theodoro entrar. O coitadinho não sai da porta.

Assim como as duas, o cortesão também não se agüentava de preocupação. Por anos Ruggero foi como seu irmão mais velho, fazendo as vezes de um pai na maioria das ocasiões, visto que tinha perdido a família ainda na infância.

Se algo acontecesse com seu senhor, não tinha idéia de como prosseguiria a vida.

─ Eu não sei o que se passa na cabeça daquela velha imbecil! ─ Miss Karol resmungou para o espanto de Nelly que nunca a tinha visto falando com tanto rancor. ─ Eu compreendo que ela não me queira lá, mas o Theo? Ele e o Ruggero são muito próximos. Isso é ridículo!

─ Também não entendi a rainha. ─ Nelly respondeu baixinho. ─ Minha madrinha está lá dentro, porque o médico precisou de ajuda para limpar os ferimentos. Parece que não houve cortes profundos, mas o rosto dele está arranhado, os braços, o peito... Eu vi muito sangue nas toalhas que a madrinha levou para a cozinha quando foi trocar a água da bacia.

Aquilo deixou Miss Karol mais aflita ainda.

─ Não descobriram quem fez isso?

─ Acho que não. O Delano foi até a floresta com alguns guardas e os outros foram até o Bosque das Sombras, porque o Theodoro falou que o príncipe costuma ir bastante lá.

A mocinha se lembrava disso e naquele momento sentia ainda mais saudade daquele dia.

Suspirou pesadamente abraçando o próprio corpo.

─ Precisam encontrar o ladrão desgraçado que fez isso. Não é possível. Ruggero é um príncipe. Tem que haver alguma forma de agilizar...

─ Calma. A senhorita está pálida... Venha, sente-se aqui um pouco.

Apesar de inquieta a moça concordou, deixando que Nelly a guiasse até uma cadeira enorme que ficava no canto da antessala; Miss Karol não queria demonstrar como aquilo tudo lhe afetava, mas isso ia além de todos os treinamentos de sua mãe.

O amor não pode ser camuflado com sorrisos falsos e palavras agradáveis.

─ Eu sei que pode parecer estranho a minha reação... ─ Pigarreou. ─ Mas, Nelly, eu sou muito sensível. Não gosto desse tipo de coisa. Isso me deixa muito angustiada e...

─ A senhorita não precisa me explicar nada. ─ A Aia se agachou na frente dela, tomando as mãos geladas de Karol nas suas. ─ Eu também tenho o coração muito sentimental. Mas vamos confiar em Deus. Tudo vai ficar bem.

─ Deus não me escuta.

─ É claro que escuta. Ele escuta todo mundo.

Miss Karol apertou os lábios.

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