A Face do Anjo

XV

Do topo da escadaria mais imponente de todo o reino de Áquila, o príncipe descia com uma dama exuberante ao seu lado. Com o braço ligeiramente estendido para que ela pudesse se apoiar, os dois trocavam olhares furtivos entre um degrau ou outro.

Era impossível ignorar o magnetismo que os envolvia.

Por maior que fossem os desentendimentos que os pusessem em vários atritos, naquele momento Miss Karol sabia que não havia outra pessoa que pudesse deixá-la mais firme diante daquele passo tão importante que daria.

Já para Ruggero, completamente enfeitiçado, contando as respirações para não declinar degrau abaixo sem controle, foi como um sopro dentro de seus pulmões saber que alguém precisava dele, que realmente necessitava de sua companhia para um momento tão significativo.

Com o canto de olho, o príncipe olhou para ela.

─ Demonstre confiança. ─ Ele sussurrou para ela. ─ Aqui o que conta são as aparências.

A moça empinou o queixo e pousou seu olhar adiante.

─ Acho que já estou me dando conta disso.

Ele riu, fitando-a de soslaio.

Assim que alcançaram a antessala foram recepcionados por Tomázia que já estava indo buscar a mocinha, afinal a apresentação à sociedade já havia começado; Miss Karol seria a última e faltava pouco para a sua vez.

Dali de onde estavam, podiam ver as pesadas portas do salão fechadas e do lado de fora algumas moças aguardavam, preparando-se para entrar ao lado de suas mães ou irmãos mais velhos.
Apesar de ser apenas uma cerimônia simbólica, ainda assim, era capaz de arrancar muito nervoso das meninas e de seus familiares que ansiavam por um bom casamento.

Quem viu a cena da mocinha descendo as escadas com o príncipe à tiracolo, não pôde acreditar; as meninas estremeceram e suas mães - e irmãos - tinham os queixos caídos; nunca viram o filho mais velho da rainha agir daquela maneira. Nunca.

Apesar de curiosa com o fato de o príncipe estar conduzindo a recém-chegada, a Aia da rainha achou por bem não perguntar nada, mas com delicadeza, afastou o príncipe, já que ele não poderia entrar com a moça.
Era algo que, infelizmente, ela teria de fazer sozinha.

Enquanto se afastava, o príncipe não pôde deixar de encará-la.

─ Obrigada. ─ Miss Karol sussurrou para ele.

─ Disponha sempre que quiser. ─ respondeu o príncipe com a voz bem baixinha.

Ruggero piscou o olho e foi adentrar o salão por outra porta, ávido por vê-la cruzando as portas sob os olhares curiosos da sociedade.

─ A senhorita está linda! - Tomázia exclamou, endireitando o pingente de lua que estava um pouco torto. ─ Tenho certeza que qualquer cavalheiro deste salão irá ficar honrado em cortejá-la. Quer que eu busque o seu cartão de dança?

Miss Karol segurou a mão de Tomázia.

─ Espere... Tomázia, eu estava descendo as escadas com o príncipe por que...

─ Não é necessário explicar nada a mim, Miss Karol. Fique tranquila. Convivo há tempos demais aqui nesse castelo para entender que algumas coisas não são da minha conta. Além do mais, prefiro encarar como uma gentileza de Sua Alteza.

A mocinha assentiu, corando.

─ Isso mesmo. O príncipe Ruggero foi apenas cortês. Eu não queria chegar sozinha, no entanto é exatamente o que vai acontecer...

─ Não se abale com isso, porque posso garantir que sozinha ou acompanhada, a senhorita será impecável.

Miss Karol sorriu.