X

377 52 685
                                    

Miss Karol tropeçou pela décima vez e caiu, porque seu tornozelo já dolorido estava ficando pior.

Ela se arrastou até perto de uma árvore e se recostou ao tronco, erguendo a barra do vestido e alisando a pele ardida, mesmo sabendo que a dor vinha de dentro, dos ossos, dos músculos, de alguma extremidade que havia se machucado bastante quando desceu do cavalo.

Angustiada, a moça fechou os olhos, buscando um elo de controle dentro de si.

O que aquele homem estava fazendo na cidade? Como chegou ali? Que inferno!

Nada tinha que ser assim.

Mordeu o lado de dentro da bochecha, aborrecida consigo mesma.

As coisas estavam saindo de seu controle. Logo poderia anoitecer e, lógico, pensariam que ela fugiu, que não foi grata pelo acolhimento, que era uma mal-agradecida, uma herege.

Rangeu os dentes.

─ MISS KAROL? MISS KAROL!

Mesmo que tentasse – e sim, ela tentou – o coração se reavivou ao ouvir aquela voz.

Ela esperou um pouco, talvez estivesse apenas delirando.

─ Cadê essa maluca... ─ Ruggero resmungou para si. ─ MISS KAROL! MISS KAROL!

─ AQUI! ─ Ela gritou com todas as forças. ─ ESTOU AQUI. PERTO DO RIO. AQUI, ALTEZA!

Seguindo o som da voz dela, o príncipe se deixou guiar, encontrando-a sem muita demora.

Naquele ponto a neblina estava se dissipando, talvez pelos filetes discretos de sol que rompiam as nuvens.

Ele freou Trovão e pulou para o chão.

Miss Karol tentou se levantar, mas o tornozelo estalou e enviou uma dor insana por toda a perna.

─ O que houve? ─ Ruggero quis saber, já que ela não saiu do lugar.

─ Meu tornozelo. Devo ter torcido quando desci do cavalo. Na verdade, não doeu na hora, mas agora está latejando!

O príncipe se agachou perto da moça, tateando o lugar onde ela apontava, deslizando sua palma pela pele macia dela; houve um descompasso no tempo.

─ Aqui? – Murmurou.

Miss Karol não queria pensar que ele a estava tocando; se alguém soubesse...

─ Exatamente.

─ Isso é culpa da sua teimosia...

Ela enrugou a face delicada.

─ Se for para me lançar acusações, prefiro que me deixe aqui.

─ Se eu fizer isso, meu irmão não irá me perdoar.

A menina ponderou.

─ Voltou por causa dele?

Engolindo em seco, Ruggero a olhou de soslaio.

─ Achou que seria por você? Ora, não se engane comigo, senhorita.

Desconcertada, Karol bufou e se afastou dele, usando de toda sua força e coragem para se colocar de pé e, quando o fez, apoiou o pé; a dor, mesmo inescrupulosa, iria passar, porque se fosse algo pior, teria sido mais insuportável logo quando desceu do cavalo.

─ Com isso não precisará se preocupar, Alteza. Não me enganarei com você.

Ele a estudou por um momento, pensando se deveria ajudá-la ou não.

─ Isso é bom, porque vejo que já temos opiniões bem formadas um sobre o outro.

Ela empinou o queixo.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora