Antes...
- Walsh! Então, já tem tudo pronto?
Assenti com a cabeça, com os braços atrás das costas e tão direita que chegava a ser doloroso. Mas tinha de ser, eu devia obediência àquele homem sentado na minha frente. Era meu tenente.
- Sua passagem já está aqui, está tudo tratado. - Ele colocou um envelope em cima da mesa e me sorriu, coisa rara. - Atlanta, certo?
Assenti. - Sim, senhor. A partir daí será comigo.
- Tem alguém te esperando lá?
- Falarei com meu irmão, mas se não tiver, eu me viro.
- Eu sei, Walsh. Não foi nomeada Sargento á toa. Agora relaxa, pega sua passagem e vai.
Dei um passo em frente, peguei o envelope, me afastei e coloquei a mão na testa. Ele repetiu o gesto e eu abaixei a mão, ganhando um novo sorriso dele.
- Boas férias, garota.
- Obrigada.Quando cheguei no aeroporto, e esperava para embarcar, peguei o celular e digitei o número do chato do meu irmão mais velho. Fiquei olhando as pessoas enquanto esperava que ele atendesse.
Todo mundo me olhava, mas era regra nós, soldados, viajarmos fardados e então eu cumpria.
- Sim?
- Oi, sou eu. Partirei hoje, assim que chegar em Atlanta eu te aviso. Pode ser?
- Leah. Claro, te pego no aeroporto. Não vem com muita bagagem, né? - Escutei ele rindo do outro lado. - Não vai me fazer percorrer o aeroporto carregando suas malas como um mordomo.
Sorri. - Eu deveria. Mas não se preocupe. Levo apenas uma mochila.
- Graças a Deus. - Brincou. - Te vejo lá então, caçula.
- Você não cansa de ser chato?
- Se for para azucrinar você... não.
Desliguei a chamada e vi que já estavam chamando meu voo.
Coloquei o phone de ouvido e segui a fila de gente até entrar no avião.
Uma garotinha e sua mãe seguiam sentadas do meu lado, ficando a criança no meio. Ela parecia nervosa e eu toquei no seu braço, chamando a atenção.
- Você está bem?
Ela assentiu, envergonhada.
Sorri. - Primeiro vôo?
Ela mordeu o lábio e assentiu de novo. Sorri para ela.
- Não faz mal ter medo. Sabe, no meu primeiro vôo eu estava aterrorizada. Mas vai correr tudo bem.
- Podemos cair. - Ela sussurrou.
Peguei na sua mão e vi que sua mãe nos olhava, mas me sorriu, sem me impedir de falar com a menina. Parecia que eu estava conseguindo mais do que ela conseguira.
- Se cairmos, eu te salvo, fechado?
Ela riu. - Como? Você cai junto comigo.
Dei de ombros e indiquei a mochila.
- Aquilo é para ser usado se o avião cair. É só puxar uma corda e a gente consegue voar.
Ela olhou a minha mochila e pareceu muito pouco convencida.
- Sério? Parece tão normal.
Eu ri. - Eu sei. - Estendi a mão para ela. - Meu nome é Leah, trabalho no exército, acredita em mim, aquilo é tudo menos normal.
Dei por mim fazendo uma prece para que a gente, de facto, não caísse, porque minha mochila cheia de roupa não iria servir para nada.
Olhei a mãe dela, e a mulher me sorriu e disse um "obrigada" apenas mexendo os lábios. Sorri, percebendo que a menina ficara muito mais tranquila.
O vôo chegou no destino sem qualquer turbulência ou problema e quando aterramos, a menina se despediu com grande entusiamo.
Quando chegamos na porta do desembarque, ou a das chegadas, como todo mundo chamava, retirei meu phone de ouvido e enrolei o fio no Ipod, olhando em volta.
Depois vi ele, ali parado no meio da multidão, me sorrindo e esperando. Balancei a cabeça, sorrindo também, deixei uma mulher carregada de bagagem passar na minha frente e depois me dirigi ao meu irmão.
Ele me abraçou, apertando forte e eu devolvi o abraço, ainda com o Ipod na mão. Me afastei.
- Como você está, irmãzinha?
- Ótima e você? Continua o mesmo chato de sempre?
- Sabe como é, preciso manter minha reputação de irmão mais velho, né?
Rimos os dois e saímos do aeroporto, percorrendo o caminho com ele me fazendo um monte de pergunta sobre meu trabalho.
Quando chegamos na rua, vejo um carro de policia. Parei de andar.
- Sério? - Falei sorrindo.
Meu irmão me deu seu sorriso torto.
- Nem todos temos a sorte de estar de férias, caçula. Eu e o Grimes temos de trabalhar. Você sabe, manter a cidadezinha segura e tal, né? - Shane colocou minha mochila na mala e abriu a porta de trás para eu entrar.
Balancei a cabeça, parecia que eu estava indo para a prisão, e percebi que era isso que algumas pessoas pensavam pela forma como nos olhavam.
Lá na frente, o xerife Grimes se voltou para trás, me sorrindo.
- Bem vinda de volta, Leah. Como você está?
Suspirei.
- Cansada de morte e destruição. Preciso mesmo dessas férias.
Ele sorriu. - Você merece. Nossa, da última vez que vi você, era um pouco mais nova. O que você fez com a antiga Leah?
Eu ri. - Formei ela na melhor equipe do exército norte americano. Ah, e coloquei uma rifle na sua mão.
Grimes riu ao mesmo tempo que Shane entrava no carro.
- O que eu perdi? - Perguntou enquanto Rick ligava o carro.
Dei de ombros. - Nada além do seu juízo, mas isso foi quando nasceu.
- Cala a boca, idiota.
- Cala você, eu não perdi meu brilho.
Shane riu. - Você nem gosta de brilho.
Soltei uma gargalhada, olhando pela janela.
- Não mesmo, Deus que me livre.Dias depois...
Escutei Shane entrando em casa e se dirigindo na cozinha, onde eu estava preparando o jantar. Ele se aproximou, me beijou no rosto e sorriu.
- Que cheirinho bom. Já tinha saudades disso.
Sorri.
- Vai tomar seu banho, quando acabar isso estará pronto. - Depois indiquei a televisão e ele seguiu meu olhar. - Que raio de gripe é essa? Já estão falando para as pessoas terem cuidados redobrados e, qualquer tipo de sintoma, ir correndo no hospital. Que merda é essa?
- Sei lá. Mas é estranha para caralho. Só espero que acabe logo.
Quando Shane saiu, meu celular tocou. Peguei ele e vi que era o número da base dos EUA. Atendi, já imaginando minhas férias acabando mais cedo.
- Walsh. - Falei.
- Sargento Walsh? General Ferry na linha, posso passar? - Perguntou uma voz do outro lado.
- Claro.
Esperei e um ruído de fundo se ouviu e logo a voz do meu General surgiu.
- Walsh? Espero que esteja bem, já que o motivo de meu telefonema não seja o melhor.
Arrepiei.
- Estou escutando.
- Fica mais um tempo por aí, a base deve precisar de você. Estão sendo recrutados todos os soldados possíveis por conta dessa gripe. As pessoas estão ficando loucas.
- Já percebi. Vi na televisão.
- Não sei se será chamada, mas eu autorizei sua estadia prolongada por aí, para prevenir. Já tratei de tudo por causa das passagens, não se preocupa. Assim que melhorar, você volta.
- Entendido, senhor.
- Até mais, Sargento Walsh. Se cuida.
- O senhor também, General.
Desliguei e fiquei olhando o vazio. Que merda estava acontecendo ali?
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Heart's On Fire
FanfictionLeah sempre sentiu que tinha de existir algo mais. Algo de diferente nesse mundo. Nunca fora como as outras garotas, isso era certo, e nunca fora a predileta da família - seu irmão mais velho ocupava esse lugar. Mas quando fez dezoito anos, Leah dec...