Heart's On Fire

50

Não sei dizer o que senti ao vê-lo ali na minha frente, bem e vivo. Bom, eu já sabia que ele estava vivo, pois vira quando ele dirigira o caminhão mas... Era diferente.
Ele pareceu confuso e franziu o cenho, para logo ficar sério novamente. Ergueu a mão e indicou a flecha na árvore com o dedo.
- Confundi você com um deles. Foi mal.
Dei de ombros, esquecendo por momentos, toda a raiva pelo grupo ter atirado em mim.
- Tudo bem.
Daryl se aproximou e segurou meu rosto, vendo meu machucado que já estava cicatrizando.
- O que foi isso? - Perguntou.
Minha pele fervia com o seu toque, mas me mantive firme.
- Foi a Sasha, no dia do ataque.
- Hum. Terei uma conversa com ela.
- Eu estou bem, Daryl. Não importa.
- Ela não conhece você, para ela é só mais uma Salvadora, mas importa sim.
Olhei o chão e ele me soltou, dando um passo atrás. Ergui o olhar novamente.
- O que você está  fazendo aqui? Se o Negan te vê...
- Quero que ele vá para o inferno. Ficámos sabendo que minha ideia ridícula de matar os Salvadores teve o efeito contrário, ou seja, acabei abrindo a porta para escaparem aos zumbis. Só queria ter certeza de que você sobrevivera.
Assenti, perdida no meio de todos os pensamentos que tomavam conta da minha mente.
- Você poderia ter escapado. - Falou Daryl, quebrando o silêncio que se instalara.
Ergui o olhar. - Quê?
- Quando Rick e Maggie atacaram o Santuário, você poderia ter escapado.
Sorri e neguei com a cabeça, me sentindo cansada.
- Não Daryl, não podia.
Ele pareceu ficar alterado. - Como não?!  Tinha todas as chances!
- Daryl, se eu fugisse e Negan sobrevivesse, ele moveria montanhas para me achar. Quando você escapou, ele só não foi atrás feito louco porque eu tomei essa responsabilidade. Porque você era para ser um dos meus homens, e eu fiz questão de te encontrar. Se eu fugisse... - Balancei a cabeça. - Negan começaria uma guerra como nunca ninguém viu.
- Nós roubámos as armas dele.
- Pfff. Negan tem mais, ainda sobraram bastantes. E agora ele tem o Eugene, que já fabricou munição suficiente para armar dois exércitos! Negan teria arrasado Alexandria, Hilltop e o Reino, mesmo que eu não estivesse lá.
- Poderia ter matado ele. - Insistiu Daryl. - Foi uma oportunidade única! Você poderia ter colocado um fim nisso tudo!
Assenti. - Poderia, sim. Mas... não daquele jeito. Não no meio de tantos Salvadores.
- Rick estava...
- Rick estava atirando em mim, Daryl. Imagina o que eu senti?
Vi no seu olhar que ele ficara surpreso com aquela notícia. Pelos vistos, Rick ocultara esse facto do caipira.
Ele franziu o cenho. - Ele atirou?
- Uhum, logo depois, Sasha me atingiu.
- Ela ficou ferida.
- Fui eu.
Daryl olhou o chão e depois de novo para mim. - Isso tá uma merda. Você deveria estar lutando com a gente.
- Eu sei. Mas Negan me achou antes de eu achar vocês.
Ele passou por mim, pegou a flecha que estava presa na árvore e voltou para o seu lugar. Me olhou.
- Eu... Eu não gosto da ideia de você ficar aqui com esses caras, com o Negan. Você... é diferente quando está com eles. Nesse mundo de Salvadores você não... - Ele suspirou. - Você não é a Leah de antes. Mas agora, aqui na minha frente, você se parece com ela de novo.
- Daryl...
Ele negou com a cabeça. - Como eu disse antes, você ainda me tem.
Dei um passo na sua direção, mas ele se afastou e eu parei. Aquilo me deu nervos.
- A sua besta, o seu colete... Quando você escapou, quem tinha era eu. Fui eu que mandei o Dwight pegar, naquele dia, e sumir daqui. Era para ele procurar a Sherry, que fugiu também, mas eu sabia que ele iria trombar em vocês porque existia um acordo qualquer entre ele e Rick. Você tem suas coisas de volta graças a mim. Porque eu me importo, porque eu continuo a mesma de antes.
Ele ficou me olhando.
- Você ainda me tem, Leah, mas você está do lado errado.
Daryl deu as costas e foi embora, me deixando ali olhando suas costas, vendo ele se afastar até desaparecer no meio da floresta.
Tinha tanta coisa que eu queria falar para ele, tanta coisa... Mas cada vez mais eu achava que nunca iria ter essa chance.
Suspirando, saí dali, regressando ao Santuário.

- Você, por acaso, está me ouvindo?
Tirei a cabeça de cima da mão onde apoiara ela e olhei Negan, sentado do meu lado direito, ocupando o topo da mesa.
- Estou, você ainda não ficou calado um minuto.
Ele sorriu. - Que mau humor é esse, baby doll?
Suspirei e coloquei a mão para baixo, para cima da mesa, me encostando na cadeira.
- Não dormi, é isso.
- Por isso que eu estou falando em atacar as comunidades. Para voltarmos a ter paz. - Ele deu um leve tapinha no meu braço, sorrindo. - Alexandria se uniu a Hilltop e o Reino, são todas aquelas que nós possuímos. Mas - Ele ergueu um dedo. - Se a gente usar nossa arma secreta neles...
Franzi o cenho. - Você quer usar as balas neles? Enlouqueceu, foi?
- Porquê?
- Às vezes acho que alguém tomou conta do seu corpo e você não é o Negan. - Falei. - Se nós atirarmos neles, matarmos todo mundo, quem vai sobrar para garantir nossas coisas? Quem vai trabalhar?
Ele deu de ombros. - Se exterminarmos uma comunidade, podemos dividir nossos trabalhadores daqui e as outras ficarão com medo.
- Não, nem pensar. Se você avançar com essa ideia, eu estou fora.
Ele me olhou como se quisesse ler minha alma através dos meus olhos.
- Tem dias que eu não reconheço você, baby doll.
- Tem dias que eu duvido da sua inteligência.
Negan gargalhou bem alto e depois bateu sua mão na mesa.
- Puta merda, como eu adoro você, baby doll! Até fico com vontade de fazer umas coisas com você, quando você me trata desse jeito.
- Preferia morrer. - Sussurrei, mas alto  o suficiente para ele escutar.
- Está de TPM?
Olhei ele, não acreditando. - Não!
Depois ele bateu na sua própria testa.
- Merda, esqueci que você era um Sargento, e sargentos têm feitios de merda. - E riu de novo, sozinho.
Balancei a cabeça e olhei minha mão, com minha mente voando na conversa que tivera com Daryl.
Como eu queria que tudo aquilo acabasse.