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Três dias depois

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Três dias depois...

Acordei de um pulo, assustada quando aquela música horrorosa começou a tocar novamente. Suspirei, fechando os olhos e encostando a cabeça na parede, pelo menos não eram os gritos do meu irmão.
Abri e fechei os dedos, sentindo a mão dolorida. Eu tinha socado o aparelho do som, tentando quebrar ele, até abrir golpes na mão. Negan teve de chamar o médico para tratar dos meus ferimentos. Como resultado, tive metade da noite com os gritos de Shane ecoando pela minha cela, e quando finalmente consigo dormir, o que vinha sendo cada vez mais raro, amanhece e aquela música começa a tocar.
Como todos os dias, a porta abre, um homem entra, coloca um prato com um pão duro no chão e volta a sair, trancando de novo. Dois minutos depois, a música recomeça. Já sei que, mais ou menos no meio da manhã, a música vai parar e os gritos vão começar, durando quase todo o dia, até pararem quando anoitece. Isso se meu comportamento for bom, se eu fizer besteira, os gritos me atormentam por boa parte da noite.
A música pára antes do tempo e olho o fundo da porta, vendo sombras se movendo do outro lado. Aquilo não era normal.
A porta abre e o médico entra, abaixando na minha frente, severamente guardado por um homem que fica junto da porta.
- Posso ver sua mão? Preciso ver se está cicatrizando. - Ele me olha, parecendo saber a minha dor, não só fisica mas também emocional.
Estico a mão e ele pega delicadamente, retirando o curativo, enquanto meus olhos observam o "guarda". Um riso escapa pelos meus lábios e o médico me olha.
- Está tão melhor assim?
Neguei com a cabeça.
- Não. Só acho ridículo tudo isso. Eu sou tão perigosa assim que você precise de guarda?
Ele olha o homem e depois de novo para mim. - Negan pensa que sim.
Assenti, vendo ele tratar da minha mão.
- Bom saber. - Falei.
Ele me olhou, antes de baixar o olhar de volta para a minha mão.
- Você deveria fazer o que ele quer.
Franzi o cenho, cheia de vontade de gritar e sair socando todo mundo. Ele tinha mesmo falado aquilo?
- Nunca. - Respondi.
No final, o médico saiu da cela e a porta foi trancada de novo, com aquela música irritante recomeçando, me fazendo fechar os olhos e suspirar. Se Negan queria me enlouquecer, acho que ele estava conseguindo.
Para minha grande surpresa, após o que me pareceu uma eternidade, a música parou e a porta abriu. Um homem entrou, trazendo uma lata de feijão, uma garrafa de água e um medicamento, com uma nota escrita de que fora indicação do médico.
Revirei os olhos. Nunca iria tomar nada naquele lugar.
Depois percebi que o homem saíra, mas deixara a porta destrancada. Franzi o cenho e esperei, mas não estava ninguém do outro lado. Me aproximei, devagar, espreitando para o corredor. Estava vazio.
Aquilo fora de propósito? Ou o homem esquecera mesmo de trancar a porta?
Empurrei devagar, sempre esperando que alguém aparecesse do nada, mas ninguém apareceu. Saí da cela e comecei a descer o corredor. Andei uns bons metros tentando achar uma saída, mas de repente, escutei vozes e abri a primeira porta que achei entrando e ficando em silêncio.
Era uma espécie de quarto, com roupas e algumas facas... e tinha um facão em cima de uma mesa. Dei de ombros, preferia minha katana, mas aquele facão teria de servir.
Saí do quarto, olhando para ambos os lados e continuei minha procura pela saída daquele lugar.
Um pouco mais na frente, vi uma porta com uma pequena janela, mas entre mim e ela, estavam três homens, conversando. Droga! Como iria passar por eles?
Andei, um pouco abaixada até junto de um dos armários e me encostei nele, respirando fundo e segurando o facão com força.
Saí de trás do armário, corri para eles e logo um deles tenta pegar sua arma. Me jogo no chão e deslizei, passando por ele, chutando suas pernas e parando junto do segundo homem. Me levantei e ergui o facão, espetando sua barriga e puxando. O terceiro homem, corre para  mim e rodo, com o facão erguido e cortando a sua cabeça. O outro homem, que entretanto levantara, ergueu a arma e eu lancei o facão, que foi espetar no seu peito, fazendo ele também cair no chão.
Olhei em volta, estavam os três mortos, mas depois senti todo o sangue abandonar o meu corpo e me senti a maior estúpida do mundo.
De pé, do outro lado, estava Negan, ladeado por dois dos seus Salvadores imbecis.
Negan ergueu as mãos, me olhando.
- Quem você pensa que é para vir assim, no estilo kamikaze, e matar os meus homens? O que estava querendo com tudo isso?
- Sair daqui!
Ele riu. - Isso, baby doll, é impossível. Tenho homens em cada canto, mesmo que chegasse no portão, seria vista. Onde conseguiu o facão? E como saiu da cela?
Fiquei em silêncio, olhando ele, tentando me controlar para não tirar o facão do peito do homem morto e atacar Negan. Seria tão bom...
Ele se aproximou de mim, passando a lingua pelos lábios e andou em meu redor, parando do meu lado.
- Pensei que você seria uma bela esposa, de fazer inveja a qualquer babaca aqui dentro, mas me enganei. - Ele falou. - Você é, na verdade, uma Salvadora. E das bravas.
Ergui o queixo. - Preferia morrer.
Ele sorriu. - Entenda, baby doll, que nunca irá sair daqui.
Olhei ele. - Veremos.
Do nada, Negan socou meu rosto e eu perdi o equilibrio, caindo no chão. Olhei ele e ele me sorriu.
- Desculpa, Sargento, nada pessoal, mas entenda que não vai sair daqui. Ou se torna uma Salvadora, ou será algo que eu não queria que você fosse. E eu não iria gostar de ver você trabalhando para esses idiotas aqui. Eles são menos... cavalheiros do que eu.
Pelo canto do olho, vi um deles me olhando como um gato olha uma taça de leite. Fechei os olhos.
Negan riu. - Levem ela de volta e tenham certeza de que a porta fica trancada.
Assim que a porta se fechou, sentei no chão, encostando a cabeça na parede. Pelo menos eu tinha tentado e sempre eram menos três Salvadores nesse mundo.
Dois minutos depois, os gritos começaram e eu continuei ali, de olhos fechados. Nesse dia, os gritos continuaram por toda a noite...

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