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Dois dias depois

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Dois dias depois...

Eu estava sentada no topo do muro de Woodbury, com um rifle na mão e a katana na bolsa, presa nas minhas costas.
Olhei a estrada e o espaço em redor, procurando zumbi ou qualquer tipo de movimento. Na verdade, eu procurava um certo tipo de movimento que só um caçador sabia fazer... Eu tinha tantas saudades do Daryl que nem conseguia dormir á noite. Sentia falta da sua presença, da forma como o seu braço me abraçava para dormir... Mas por um lado era bom ele não estar ali, já que o Governador era realmente desprezível e eu nem queria imaginar se ele colocasse a mão no Daryl.
Até esse dia, eu não saíra da comunidade, talvez o Governador não confiasse em mim o suficiente para me deixar sair, ou achasse que eu era como uma mamãe gata, que se mantiver longe dos filhotes por um tempo, assim que você abrir a porta ela vai correndo até eles, e aí você pode segui-la. Mas eu não iria voltar na casa da floresta e nem iria procurar Daryl, não assim. Não quando ele poderia me seguir ou enviar alguém atrás de mim. Ele se achava esperto demais... mas comigo isso não iria resultar.
- Bom dia, Sargento. Madrugou, hein?
Suspirei quando escutei a voz de Martinez e vi ele de pé, do meu lado, olhando a estrada.
- Meu nome é Leah.
- É, mas acho mais excitante te chamar de Sargento. - Ele me sorriu.
Olhei ele, encarando.
- Sabe o que é excitante? Minha katana separando essa sua cabeça oca do seu corpo. - Sorri.
- Bravinha, você. É mesmo irmã do Shane. - Ele riu. - Tenho uma novidade para você, a não ser que queira cortar minha cabeça.
Revirei os olhos, sentindo minha paciência indo embora.
- Vai falar ou preciso de pedir por escrito? - Perguntei.
Martinez sorriu. - Sei de outra forma de pedir.
Levei a mão no rifle e ele ergueu as mãos, como se se rendesse.
- Calma, Walsh. - Ele abaixou as mãos, sorrindo. - Você vai sair comigo e com o Shane, hoje. Vamos na cidade, alguns homens viram movimento por lá ontem á noite e o Governador quer que a a gente dê uma olhada.
Franzi o cenho, já imaginando quem estaria na cidade. Mas ele não iria fazer isso, né? Daryl não era idiota e já deveria estar bem longe daqui. Quem quer que fosse que estivesse na cidade, não era o caipira.
- Eu vou com vocês? - Perguntei, quando percebi qu estivera calada tempo demais.
- É. Legal, né? - Ele começou a descer o muro. - Daqui a vinte minutos, no portão.
Suspirei, olhei em frente e pedi a Deus que me desse toda a paciência do mundo para aguentar aquela gente até eu achar uma forma de sair dali.
Peguei o rifle, coloquei no ombro e desci. Um homem já estava se preparando para subir, para me substituir na vigilância. Me acenou e eu repeti o gesto, me afastando, andando por Woodbury até á casa de Shane.
Entrei mas logo parei, segurando a porta e não acreditando no que estava vendo.
Mexendo na geladeira, estava uma mulher, quase nua... e vestindo um dos meus moletons.
Larguei o rifle no chão e ela pulou de susto, girando e sorrindo quando me viu.
- Leah, que susto! Desculpa, mas eu...
Avancei pela cozinha, sem nem ligar para ela, agarrei o meu moletom e puxei.
- O que você está fazendo? - Gritou ela.
- Isso é meu! E eu não dei ordem para que uma vadia qualquer pudesse vestir!
Ela tentou segurar minhas mãos, mas eu era mais forte.
- Leah, me solta!
Olhei aqueles olhos azuis e sorri. - Largar? Tem certeza? - Dei de ombros. - Tudo bem.
Agarrei pela gola do moletom e puxei ela comigo até chegar na porta. A garota tentava se soltar, imaginando o que eu iria fazer.
- Leah, desculpa! Eu só vinha pegar algo para comer, seu irmão estava tomando banho e...
- E achou que meu moletom era para vadias usarem? - Agarrei ela pelos ombros, na frente da porta, e fiz ela me olhar. - Você até pode dormir com o meu irmão, mas nas minhas coisas você não toca! E acho que vai aprender.
- Leah, por favor,eu estou só de calcinha. Deixa eu pegar minhas roupas e eu vou embora.
Sorri. - Sério?
Arranquei o moletom dela e empurrei a vadia, que caiu pelas escadas e ficou no caminho de acesso, com todo mundo olhando ela, já que a gritaria chamara a atenção de todos.
- Eu quero as minhas roupas, Leah.
Cruzei os braços. - Quer? Então tivesse colocado elas em vez do meu moletom! Agora cai fora daqui!
A garota levantou e deu um passo na minha direção.
Levantei a mão e retirei a katana da bolsa, arqueando uma sobrancelha e esperando, mas a vadia parou.
- Você... - Depois seus olhos viram algo do meu lado. - Shane! Fala paraa Leah me devolver minhas roupas! Ela é louca! Olha o que ela fez!
Shane me olhou e eu esperei, inclinando a cabeça para o lado. Meu irmão olhou a vadia de novo.
- Carly, não posso fazer isso. É a minha irmã, e ela é mais importante do que todas as garotas do mundo. E também, quem mandou você vestir as roupas dela?
A garota me olhou, sem acreditar e depois bufou de raiva.
- Vocês são doidos, Walsh! Loucos! Vocês me pagam, irmãos maravilha!
Guardei a katana e fiquei vendo ela se afastar.
- Vai pela sombra! - Gritei.
- Podia ter pegado leve. - Falou Shane, sorrindo.
Olhei ele, estreitando os olhos. - Você podia parar de trazer vadias para a nossa casa. Ela vestiu minha roupa!
Ele pareceu inchar de orgulho e depois me sorriu. - Mas... Mandou bem, maninha. Aquela lá não servia para grande coisa, mesmo.
Revirei os olhos e entrei em casa. - Porque você transa com elas se nem respeita ao ponto de... Ah, esquece!  Vem! Martinez estará esperando a gente no portão.
- A gente?
Olhei ele e sorri. - Vou junto.

No final da tarde, depois de termos regressado a Woodbury, eu fiquei sozinha, olhando alguns carros militares, cheios de armas e suplementos de combate, que o Governador e alguns homens tinham trazido.
Estiquei a mão e toquei num deles, sendo invadida por imensas memórias de dias passados, coisas que eu nunca mais viveria.
- Saudades?
Olhei para o lado. O Governador estava ali, me olhando e sorrindo, de mãos nos bolsos.
Abaixei a mão e respirei fundo.
- Algumas. - Respondi. Depois indiquei os carros. - Onde conseguiu eles?
O homem se mexeu, s aproximando e apoiando um dos braços no carro e olhou ele.
- Achámos um pequeno acampamento com cinco ou seis homens do exército.
Assenti e dei de ombros. - Cadê eles?
Aquele olhar azul me olhou, gelado, mas o sorriso demorou um pouco para sair do seu rosto. Fiquei alerta, sem desviar o olhar. O Governador parou de sorrir e fez uma expressão de pena.
- A gente tentou falar com eles, sabe? Explicar que tinhamos uma comunidade, mas eles não queriam ouvir. - Ele deu de ombros. - Não deram tempo para terminar, pegaram as armas e atiraram em nós. - Eele suspirou. - Uma pena. Se fossem como você, Woodbury ficaria muito mais segura. - Sorriu.
Assenti, mordendo o lábio e depois me segurei para não socar ele.
- Engraçado você dizer que eles atacaram... - Comecei. - Sabe  Governador, o exército está treinado para ajudar as pessoas, a gente não mata só por matar, não em nosso próprio território, não nossa própria gente. Eles teriam escutado e teriam ajudado vocês. Principalmente numa situação como essa, de apocalipse... Segundo ponto, soldados sabem atirar bem demais, melhor que qualquer homem que você tenha aqui dentro. - Cruzei os braços. - Agora me fala, como cinco ou seis homens treinados, que toda a sua vida atiraram com armas, acabaram mortos e você e esses seus amiguinhos regressaram sem nem um arranhão?
O Governador ficou me olhando com uma expressão estranha e eu soube que tinha tocado num ponto sensível. Algo ali estava errado.
Ele sorriu. - Você é muito perspicaz, Leah.
- Por isso eu era Sargento. Mas me fala.
Ele sorriu. - Foi o que aconteceu, eles atiraram, nós nos defendemos. Sabe que esse mundo muda as coisas.
Assenti. - Muda, muda sim. Esse mundo em que vivemos pode transformar pessoas normais em tiranos, do mesmo modo que pode tornar um zé ninguém num sobrevivente da porra.
Ele se aproximou de mim e olhou em volta antes de falar. - Não fique tecendo teorias, Walsh, elas podem machucar você.
Ergui o queixo, não tinha medo algum dele. - Não minta para a sua gente, Governador, pode acabar machucado.
- Está me ameaçando?
Sorri. - Não, nunca ameaçaria um líder. Uma pessoa que só quer o bem para o seu grupo.
Ele sorriu. - Exato.
- Mas eu ameaçaria um tirano, sem dúvida.
Me afastei, virando as costas a ele e me dirigindo para casa.
Ele matara o grupo de militares que achara. Eles estavam mortos porque, por alguma razão, o Governador não os queria em Woodbury. Esse homem merecia a morte.
Entrei em casa e Shane estava sentado em frente da mesa, limpando sua arma.
- Oi caçula. - Sorriu, me olhando e baixando o olhar de novo.
Me aproximei e sentei na sua frente.
- Ele matou um grupo de militares. Só porque sim.
Shane parou o que estava fazendo e me olhou. - O quê?
- Os carros, as armas... Ele conseguiu tudo isso porque ele os matou. E não precisava.
- Como sabe?
Dei de ombros. - Ele contou uma mentira ridícula. Acho que esqueceu que eu sei como funciona.
- Então... a história de terem sido atacados...
- Era mentira. - Me inclinei na frente, apoiando os braços na mesa. - Shane, eu quero ir embora daqui. Se eu ficar mais tempo, eu vou acabar matando aquele homem. Ou ele me mata.
- Leah...
Levantei. - Não sei se consigo por muito mais tempo.
Me afastei, indo no meu quarto.

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