Chegamos numa encruzilhada e meus homens seguiram numa direção, buzinando duas vezes, e eu segui na direção contrária, buzinando uma vez. Depois percebi Daryl me olhando fixamente e revirei os olhos por baixo dos óculos.
- Vai ficar me olhando?
- Porque vamos na direção errada?
Eu ri. - Não vamos na direção errada, sabichão, vamos na mesma direção, só que por um caminho mais longo.
- Porquê?
Suspirei. - Porque esse caminhão leva as coisas que vão diretamente para o Negan e, no caso de haver um ataque, o Santuário apenas perde metade da carga. No caso do ataque ser a esse caminhão aqui, aí é só o Negan que perde sua carga, entendeu?
Ele assentiu e se manteve calado, mas não por muito tempo.
- O que você falou com Rick?
Ri de novo. - Ora, ora, está ficando curioso agora? Tipo aquelas velinhas que sempre moram na nossa rua e que ficam se metendo na nossa vida? - Olhei ele. - Coisas, Dixon, coisas que você não precisa saber. Regras.
- Alexandria é...
- É minha, nesse momento. É minha responsabilidade mantê-la para o Negan por isso, novos líderes, novas regras. Mas não se preocupe, Rick entendeu direitinho. Ah! E tem mais. Vi minha sobrinha.
Daryl ficou tenso e sua cabeça girou na minha direção.
- Nem pensa em chegar perto dela! Nem contar para o Negan!
- Acha que sou burra? Nunca iria colocar ela em perigo desse jeito.
- Já está colocando.
- Daryl, é a filha do meu irmão! Eu tinha o direito de conhecer! Caralho, você conheceu ela primeiro, ficou todo cheio de mimimi com a bravinha e eu não posso? É minha sobrinha!
Daryl ficou me olhando e juro que vi algo nos seus olhos, como se ele tivesse achado graça, mas ele se manteve sério.
- Como você sabe que eu chamei ela de bravinha?
Suspirei. - Foi o Carl. Agora cala a boca, que isso você sabe fazer, porque eu quero apreciar a viagem.- E aí? Alexandria deu muito trabalho?
Sorri, enquanto pulava do caminhão e colocava os óculos na cabeça.
- Você nem imagina o que eu achei lá.
Fui na parte de trás e abri, vendo Negan ficar surpreso e se aproximar, enquanto Daryl dava a volta e parava não muito longe de mim.
- Merda, baby doll! Alexandria tinha todas essas armas?
Assenti, colocando as mãos na cintura. Negan sorriu, aquele sorriso enorme e idiota.
- Bom trabalho, Leah.
Assenti e tirei as mãos da cintura, me aproximando de Daryl e empurrando ele, devagar, no braço, para que ele andasse na direção do Santuário.
Ele seguiu do meu lado pelos corredores até chegarmos na cela e eu parei.
- Virei buscar você amanhã. Por hoje Negan acha melhor você ficar aqui.
Daryl não respondeu e eu fiz um barulho com a língua e dei de ombros.
- Entra. - Indiquei a porta aberta.
Daryl passou na minha frente mas de repente, parou, me olhando.
Fiquei quieta, olhando aqueles olhos azuis que eu adorava, não querendo saber o que ele estava pensando fazer. Ou talvez eu quisesse saber, mas Daryl me odiava e não iria mudar sua opinião assim tão fácil. Mesmo assim, eu permaneci quieta, observando ele.
Então, do nada, senti suas mãos agarrando meu rosto e seus lábios nos meus, me beijando como da primeira vez. Minhas mãos, automaticamente voaram no seu cabelo, mas logo Daryl se afastou, olhando o chão. Quando ergueu o olhar novamente, era o mesmo cara fechado de antes.
- Merle morreu. O Governador matou ele e você não é a mesma. - Falou e entrou na cela, puxando a porta atrás de si.
Fiquei ali, sem saber o que fazer e nem o que pensar. Era muita coisa ao mesmo tempo, mas... Daryl me beijara.Passei o resto do tempo fazendo minhas tarefas e andando pelo Santuário. Na verdade eu não queria andar por ali, eu queria abrir aquela cela, tirar Daryl de lá e levar ele para um lugar seguro, longe dali, onde nós dois pudéssemos voltar a ser como antes, na floresta. Só nós dois.
Suspirei, isso seria impossível!
- O que preciso oferecer a você em troca dos pensamentos que estão criando rugas nesse rosto de anjo?
Olhei para o lado e vi Negan me sorrindo. Revirei os olhos e olhei a vedação, lá na frente, e apoiei os cotovelos no corrimão.
- Não tem nenhuma esposa disponível para fazer coisas nojentas, não? - Perguntei. - E que negócio é esse de rosto de anjo? Anjo merda nenhuma!
Negan riu e se colocou do meu lado, bem próximo e na mesma posição que eu.
- A esposa que eu queria não me quer, o que é uma novidade no meu historial. Em relação ao anjo... é, você tem razão. Você está mais para atirador furtivo no estilo kamikaze com indícios de ninja samurai selvagem. - E sorriu de novo.
- Deus do céu. - Falei, fechando os olhos.
- Ah cala a boca, você me adora. Até veio toda animadinha de Alexandria, toda orgulhosa das suas conquistas.
Abri os olhos e olhei ele.
- Que merda está acontecendo com você? Desde quando você fica desse jeito comigo? Me adotou agora, foi?
Ele suspirou e fez uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Aquilo era novo.
- Percebi que tem gente aqui dentro que está tentando roubar meu lugar. E depois existe você. - Ele me olhou. - A pessoa que mais deveria me odiar e tentar de tudo para me ver morrer, mas que é a única em quem eu posso realmente confiar. A única que entendeu o que é ser uma Salvadora. - Negan passou a mão pelo rosto e suspirou. - Caralho, Leah, eu me apeguei a você. Me preocupo, fazer o quê?
Franzi o cenho. - Você não se preocupa com ninguém.
- Escutou o que eu disse?
Ergui as mãos em sinal de rendição e depois abaixei novamente, olhando ele de canto.
- Não serei sua amiguinha do peito. E muito menos sua esposa nas horas vagas.
- É pena. - Ele sorriu. - Agora, se você fala para alguém que eu disse tudo isso, eu te envio para junto do seu irmão, do mesmo jeito.
Sorri e ergui o queixo.
- Vou contar o quê? Que você tem sentimentos?
- Você me faz lembrar minha esposa, a verdadeira. - Negan falou. - Ela era assim, enfrentava qualquer coisa.
Fiquei olhando ele e depois levantei e balancei as mãos.
- Chega! Pára de falar, se não vamos acabar abraçados, na frente de uma fogueira, cantando músicas deprimentes e chorando com as histórias de nossas vidas. E eu não gosto de você a esse ponto, na verdade eu te odeio. Com licença.
Me afastei, achando aquele homem ainda mais doido do que antes.
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Heart's On Fire
FanfictionLeah sempre sentiu que tinha de existir algo mais. Algo de diferente nesse mundo. Nunca fora como as outras garotas, isso era certo, e nunca fora a predileta da família - seu irmão mais velho ocupava esse lugar. Mas quando fez dezoito anos, Leah dec...