43. Melissa

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Dirigindo pelas ruas, que estavam bem calmas até então, liguei o rádio e comecei a repassar mentalmente as instruções de Ali. Eram simples, mas se eu fosse segui-las à risca, Missy poderia se divertir somente no final da tarde... Na verdade, eu só pensava nisso, na diversão. Tinha tantas coisas que eu queria fazer como pai, coisas que, quando mais novo, não tive a oportunidade ou simplesmente não quis fazer, e eu mal sabia qual escolher para ser a primeira.

Pelo menos uma dessas coisas eu já poderia riscar da minha lista amanhã! Ali e eu convencemos os caras a irmos todos juntos ao nosso antigo colégio para o encontro de ex-alunos. Eles tentaram fugir isso, mas Alice provou que ainda é boa em fazê-los mudar de ideia e os fez prometer que não dariam para trás. Assim, eu já estava planejando passar pela casa da minha família antes de virmos embora. Queria que, principalmente, minha mãe e minha irmã conhecessem Missy.

Eu ainda não tinha contado nada sobre isso a elas, nada de muito específico sobre como era minha relação com Ali agora e, menos ainda, sobre a questão da paternidade. Eu apenas esperava que elas não reagissem tão mal quanto eu quando Ali me contou tudo, mas tinha certeza de que amariam Melissa, afinal acho que é impossível não gostar dela.

Olhei mais uma vez para o meu relógio de pulso, certificando-me de que estava dentro do horário e, após algum tempo dirigindo, estacionei o carro, saltando deste logo em seguida. Travei as portas já acionando o alarme e segui em direção à escadaria da porta principal da Quainton Hall School, avistando Mark em seu banquinho.

- Boa tarde, Mark!

Cumprimentei com um grande sorriso, parando ao pé da escada, e ele comprimiu os olhos em minha direção, parecendo me analisar ao fazer uma leve careta para enxergar através dos óculos de grau retangulares.

- Harry! – sorriu depois de alguns segundos e se levantou, começando a descer as escadas vagarosamente. – O da televisão, amigo da pequena Missy e dono de um cachorro enorme.

Ele disse em um tom brincalhão, postando-se ao meu lado de braços cruzados, de modo que pudesse continuar com os olhos fixos na movimentação da rua, e eu ri com sua recepção. Não é que o velho tinha uma boa memória?

- Pensei que não se lembraria de mim.

- Quê isso, garoto? Só faz algumas semanas que você não aparece – e me olhou brevemente com o cenho franzido. – Está me chamando de velho gagá?

- Imagina, o senhor está ótimo! – eu ri da forma como disse e ele deixou que um sorrisinho surgisse em seus lábios finos.

- Eu sei. Veio buscar sua pequena amiga?

- Vim buscar minha filha – corrigi e ele se virou para mim, me encarando sob os óculos com expressão de estranheza.

- Tem uma filha que estuda aqui? Não sabia.

É, até um tempo atrás eu também não tinha nem ideia, pensei e apenas sorri de leve para Mark, que logo voltou sua atenção para a rua.

Segui seu olhar e, depois de longos minutos, notei que alguns transportes escolares, como minivans e micro-ônibus, já estacionavam ali por perto; e mais alguns grandes e caros carros de pais engravatados, que logo saltavam destes. Interessante que estes eram sempre pais engomadinhos com cara de empresários podres de rico, o que me levava a pensar em qual seria o tamanho da fortuna que Ali, ou Robert, gastava para manter Missy naquela escola... Talvez eu deva começar a preparar o meu bolso.

- Está na hora – Mark alertou, chamando minha atenção, e seguiu para as escadas, subindo calmamente.

Assisti-o abrir os portões da escola e se sentar novamente em seu banquinho e, assim, dois homens, que até o momento conversavam mais à frente sobre algo que parecia ser um assunto bem sério, também subiram as escadas e sumiram do meu campo de visão logo que cruzaram os portões.

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