14. Perto demais

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- Respondendo à sua pergunta... Eu o amei – Ali explicou com o olhar perdido em algum ponto no chão e sustentava o mesmo leve sorriso. – Muito. Não sei para ele, mas tenho certeza de que o que tivemos foi uma das melhores coisas que já aconteceram na minha vida – e riu fraco balançando a cabeça negativamente. – Só que, mesmo se ainda o amasse, agora não faz mais diferença alguma. Já passou, eu vou me casar em breve e terei de esquecer... Não é?

- Ali, sério, você não precisa falar sobre isso comigo se não quiser – disse ao apoiar as mãos no mármore frio e desviar meu olhar de seu rosto para o copo de água mais uma vez. – Eu nem devia ter feito aquela pergunta, é algo que não me diz respeito e não pensei bem antes de fazê-la.

Aliás, talvez eu tenha pensado até demais, rápido demais, então não consegui manter a minha boca fechada enquanto meu cérebro forçava a saída de pelo menos algumas palavras e eu acabei fazendo aquela pergunta pelos motivos errados, pelos que interessavam apenas a mim.

Eu já não sabia mais ao certo se tudo isso o que disse agora para ela fora apenas com a intenção de tranquiliza-la, de me desculpar com relação à minha inconveniente curiosidade sobre sua vida e seus relacionamentos passados ou, simplesmente, porque eu não queria ouvi-la falar dessa forma sobre outro homem. Talvez um pouco de cada.

E bastante da última opção.

Mas, ainda assim, depois de desligar o purificador ao ver que o copo de vidro já estava cheio o bastante e começando a suar por conta da baixa temperatura da água, esforcei-me em esboçar um leve sorriso quando nos entreolhamos. Percebi seus ombros relaxarem um pouco e ela suspirou.

- Certo – deu um meio sorriso antes de mudar de assunto: – Todos vocês continuam os mesmos. Mudaram por fora, fingiram que cresceram, só isso.

- Eu disse a você, não disse?

- Sim, você disse – ela assentiu com um sorriso divertido e pegou o copo que eu já lhe estendia. – Obrigada.

- Gostou da recepção? Eles que planejaram, tenho nada a ver com isso.

- Foi a melhor possível! – ela riu e eu me encostei ao seu lado contra a pia, cruzando os braços. – Fora o pequeno susto, eles fizeram com que eu sentisse como se tivesse acabado de voltar para casa, sabe? Como se o tempo não tivesse passado e eu não fosse adulta. Foi engraçado.

- Então, nesse caso, a ideia foi minha. De nada – arqueei as sobrancelhas fazendo-a rir mais uma vez antes de beber de sua água. – E você acha que isso é bom ou ruim?

Franziu o cenho enquanto terminava de engolir o líquido gelado e levou a mão à boca.

- Hm. O que?

- Você sabe... – dei de ombros virando-me para ela. – Continuarmos os mesmos.

- Ah! Sim, é muito bom – ela sorriu e comprimiu um pouco os olhos. – Eu acho que não gostaria de chegar aqui e encontrar quatro astros do rock fúteis e metidos. Gosto de vocês assim, os mesmos garotos de sempre.

- E você, apesar de se sentir adulta... – comecei vendo-a sorrir de lado e rolar os olhos antes de beber mais água, e ri com isso. – O que? Você só tem vinte e cinco anos, Ali, não precisa se sentir adulta ainda.

- Exatamente, Harry, eu tenho vinte e cinco anos – ela arqueou as sobrancelhas para mim e eu sorri balançando a cabeça negativamente. Adulta... – E não sei se percebeu, mas eu já sou mãe. E vou me casar!

- E daí?

- Não dá tempo de não ser adulta nessa minha rotina – disse entre risos franzindo o cenho com se aquela ideia fosse mesmo absurda. – Não consigo nem ficar mais de uma hora dentro de um pub.

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