12. Distração

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- Bom... Na verdade, Dougie ficou bastante bravo. Ele quis me bater pelo que aconteceu e não falou comigo por algumas semanas. Mas, depois que ele viu que o negócio com a banda estava dando certo, as coisas voltaram ao normal – eu disse, e comprimi os olhos para o tráfego à minha frente. – Ou quase voltaram, porque ele ainda está um pouco bravo. Você sabe, sempre foi como a irmã que ele nunca teve.

- Pelo menos ele não foi tão burro a ponto de deixar a banda – ela disse e nós rimos. – Eu realmente me sentiria muito mais culpada se isso tivesse acontecido. Mas ele não pode ficar bravo para sempre.

- É, mas para isso você só tem que...

Hesitei por um momento e pigarreei.

- Só tenho que o que? – Alice insistiu, curiosa.

Certo, talvez eu já estivesse pedindo demais ao querer dizer o que estava pensando há tempos. Talvez eu nem tivesse o direito de dizer e pedir aquilo. Mas, de qualquer forma, a escolha era totalmente dela!

- Só tem que voltar a fazer parte das nossas vidas.

Mais um breve silêncio.

- Ahm, Harry, eu... Eu não sei se isso daria muito certo.

- E por que não?

Mais silêncio.

- Ali, sabe que isso não foi uma pergunta retórica, certo?

- Eu sei. Eu só não sei se estou preparada.

- Preparada? – franzi o cenho em estranheza, e a olhei de soslaio vendo-a mordiscar o lábio inferior enquanto encarava as mãos repousadas em seu colo.

- Sim... Não sei. É que o final daquela conversa me deixou um pouco tensa. "Faz pouco tempo que vocês estão aqui?" – ela afetou a voz, imitando Dougie e fazendo-me dar uma risada contida. – Quando, na verdade, já fazem uns dois anos que voltamos. Quero dizer, as coisas não são como antes, e eu sinto como se fossemos pessoas diferentes, agora que seguimos rumos que antes nem imaginávamos, entende? Eu não... Você não sente a mesma coisa?

- Às vezes sim, mas nós somos os mesmos. Juro, não mudamos em nada. Por favor, diz que você não está realmente preocupada com isso.

- Não sei...

- Tudo bem, então eu te pago um vestido novo se você for à casa do Tom nesse fim de semana – brinquei ao rolar os olhos e a ouvi rir ao meu lado.

- Eu não acredito nisso. Não quero seu suborno!

- Mas o que tem de mais nisso, Sawyer? – encolhi os ombros. – Se me lembro bem, era você a rainha dos subornos, não era?

- Mas não fazia isso com tanta frequência e um vestido novinho é muita covardia, Judd! – ela disse entre risos e eu sorri.

- Só um pouquinho, talvez.

- Certo. Pode encostar aqui, é neste prédio.

Alice indicou um edifício de apenas quatro andares, revestido por tijolos maciços vermelhos e eu parei com o carro rente ao meio-fio antes de enfim desligá-lo, então saltamos deste.

- Filha, use o interfone para avisar à sua tia que já chegamos, por favor – pediu, enquanto abotoava distraidamente o sobretudo, e a menina puxou de leve sua barra.

- Ela já está aqui no portão.

Com isso, desviamos nossa atenção para o portão social cinza, que se abriu para dar passagem a uma mulher de All Star branco, calça jeans azul desbotada e moletom também branco. Seus cabelos eram ondulados e curtos, chegavam até a altura dos ombros, e eram bem mais escuros que os de Ali.

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