1. Tudo de novo

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- Você não é insubstituível, Harry!

Suas palavras me atingiram como um forte tapa no rosto. Eu engoli a seco, atordoado, mas se realmente quisesse que ela ouvisse, que entendesse, tinha que continuar. Tinha que insistir. Não podia desistir dela.

- Eu te amo, você sabe disso. E você me ama! – consegui dizer.

Ela então parou por alguns segundos apenas para me encarar com seus olhos comprimidos, conseguindo assim quebrar com qualquer resquício de firmeza que ainda poderia haver em mim. A mais pura incredulidade era o que eles transmitiam. Sua respiração estava irregular como a minha e seu rosto, lavado por lágrimas, expressava toda a raiva e dor que eu causei a ela.

Era tudo minha culpa.

- Não diga isso! – ela apontou seu dedo para mim e veio em minha direção em passos largos e decididos. – NUNCA MAIS DIGA ISSO! SEU IDIOTA!

Meus olhos se abriram rapidamente. Até rápido demais. Assustado e ofegante, fiquei encarando o teto branco de meu quarto por alguns instantes, tentando me recuperar daquele pesadelo que era mais uma lembrança da qual eu tentava desesperadamente esquecer há mais de anos.

Fechei os olhos com força em uma tentativa fracassada de afastar vestígios daquele dia que pudessem ainda estar escondidos em qualquer parte da minha mente e passei o dorso da mão pela testa, sentindo-a molhada. Eu estava suando frio. Então, ainda de olhos fechados, passei as mãos pelos lençóis embaixo de mim, que grudavam por toda a extensão da minha pele e que também estavam molhados pelo suor.

Um sonho... Aliás, um pesadelo não pode causar um impacto tão grande em uma pessoa, pode? Ainda mais sendo uma antiga lembrança?

Parece que sim.

Abri meus olhos lentamente, encarando o teto mais uma vez por alguns segundos, e virei minha cabeça para olhar a mulher que ainda estava dormindo ao meu lado. Loren, minha namorada.

Confesso que ela não era a mulher que eu queria aqui nesse momento. Gostava dela, sim. Já éramos muito amigos antes de namorarmos, mas ela definitivamente não era a mulher que eu amava e queria ver ao meu lado na cama pelo resto da vida.

A mulher que eu queria estava somente em meus pensamentos e lembranças. Em meus sonhos e, na maioria das vezes, pesadelos. Ela sempre aparecia de uma forma inusitada, às vezes bem-humorada e carinhosa de início, mas então ela me puxava de volta até aquele maldito dia e gritava comigo enquanto socava meu peito, dizendo o quanto eu era idiota, assim como no pesadelo da noite que se passou. Mas ainda assim, eu precisava daquela mulher. Daquela única mulher.

Mas como? Como e quando eu conseguiria tê-la de volta?

Uma resposta única, simples e óbvia: Eu nunca a teria.

Rolei os olhos e enfim me arrastei para fora da cama, frustrado comigo mesmo por ter permitido que esses pensamentos tivessem inundado minha mente com tanta facilidade. Recordar tão vividamente de um dia que havia acontecido anos atrás me parecia patético. Humilhante.

Dirigi-me até o banheiro para fazer minha higiene matinal e depois, quando retornei ao quarto, encontrei Loren ainda na mesma posição – jogada ocupando dois terços da minha cama e, provavelmente, no décimo quarto sono – com parte dos cabelos loiros sobre meu travesseiro. Então suspirei. Tenho a leve impressão de que isso não vai durar muito.

Vesti-me rapidamente e logo desci as escadas, seguindo direto para a cozinha para preparar com calma o meu café da manhã antes de enfim me sentar junto à ilha de mármore.

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