-... Aneurismas pequenos costumam ser assintomáticos, talvez nem mesmo a sua mãe soubesse o que estava acontecendo. Mas o que houve dessa vez... As fortes dores de cabeça, náuseas e tonturas podem ter sido consideradas algo normal para ela, quando, na verdade, eram os sintomas do aneurisma rompido se manifestando.
O médico sentado na cadeira à nossa frente explicava tudo com calma, mas meus olhos estavam fixos apenas nela. Eu olhava para seus dedos imóveis, que estavam entrelaçados aos meus sobre seu próprio colo. Acompanhava sua respiração irregular, que ela ainda tentava controlar depois de tanto tempo de espera por alguma resposta sobre sua mãe. E via seu rosto deixar transparecer uma tristeza e uma angústia tão grande como eu jamais havia visto. Alice estava desmoronando.
- O ideal seria que isso fosse detectado precocemente para que houvesse chance de fazer um tratamento. Ela precisava de um diagnóstico, por isso...
- O que tudo isso quer dizer afinal? – Ali indagou com sua voz baixa, trêmula e levemente embargada.
Então eu encarei os dois médicos que estavam naquela pequena sala de espera conosco há poucos minutos, sabendo que eles já teriam dito algo para tranquilizar Ali se a notícia fosse boa, mas desejando estar errado. Desejando que Sue estivesse bem.
- Aneurisma cerebral, infelizmente, é algo comum e muito grave. Apenas dois terços dos pacientes sobrevivem mesmo quando fazemos o possível... – ele disse e Ali apertou minha mão e fechou os olhos com força. – Sua mãe não resistiu à hemorragia. Sinto muito.
Inspirei profundamente, mas, naquele momento, respirar se tornou algo impossível de ser feito até mesmo para mim. Meu estômago afundou e eu me forcei a engolir aquelas palavras a seco, pois sabia que precisava me manter firme por e para ela.
Voltei a olhá-la, mas antes que pudesse tomar qualquer atitude, Ali soltou minha mão e se levantou da cadeira ao meu lado, logo saindo em passos rápidos da sala de espera. Ainda atordoado pela notícia, murmurei um pedido de licença aos médicos e me apressei para ir atrás dela, passando por nossos amigos e meus pais, que nos esperavam no corredor e me indicaram para qual caminho ir.
Não demorei a enxergar Ali mais à frente e começar a seguir seus passos entre as poucas pessoas que circulavam pelos corredores brancos e silenciosos, até que ela parou perto de um lance de escadas e ameaçou descer, mas acabou por se afastar dali devagar. Eu a alcancei quando ela se encostou contra a parede e levou as mãos às têmporas, mantendo o olhar fixo no chão.
- Amor... – toquei seu ombro, mas ela permaneceu da mesma forma, então me aproximei mais. – Ali, por favor, olhe para mim?
- Eu nem posso ir para casa... Eu... – tentou dizer com a voz falha, cobrindo o rosto com as mãos. – Eu não...
Um soluço baixo escapou de seus lábios e eu mordi os meus, sentindo um bolo se formar em minha garganta quando olhei de forma breve para os lados, vendo nossos amigos a alguns passos de distância de nós. É claro que eles nos seguiriam, mas até o momento apenas nos observavam de longe. Preocupados, os três se entreolharam e deram de ombros sem saber o que fazer ou dizer.
Voltei minha atenção para Ali e a puxei pela cintura com cuidado até que seu corpo encontrasse o meu, então a abracei. Sua pele descoberta estava gélida e ela tremia de leve por conta do ar frio que percorria todo o hospital enquanto se encolhia pela imensurável dor que devia estar sentindo.
Aos poucos, senti suas mãos tocarem meu peito e subirem até que seus braços estivessem envolvendo meu pescoço. Senti-a apoiar sua cabeça na curva de meu pescoço e logo suas lágrimas quentes molhavam minha pele.
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Make It Change
FanfictionEle perdeu a garota de seus sonhos há alguns anos. Na verdade, há mais de 7 anos. E nunca conseguiu superar isso, sempre imaginou como seria e onde estaria agora se tudo tivesse acontecido ou terminado de uma forma diferente. Mas e se essa garota de...