7. Ela está aqui

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- E aí, cara?

Danny exclamou com um sorriso enorme ao abrir a porta do apartamento. Dei um passo para trás franzindo o cenho ao olhar à minha volta rapidamente, apenas para ter certeza de que estava no lugar certo, e ri. Eu definitivamente estava no lugar certo.

- Você não tem casa, não, Jones?

- Qual é? Eu também faço parte dessa história – ele disse jogando um dos braços ao lado do corpo e abriu espaço para que eu entrasse, logo fechando a porta atrás de nós. – Também tenho direito de contar algumas coisas.

- Sei. Certo. Agora só falta você me dizer que Dougie também está aqui com essa ideia de "contar algumas coisas".

- Dougie também está aqui com essa ideia de "contar algumas coisas" – ele disse entre risos e eu tive que conter a minha vontade de rolar os olhos.

- É sério isso? – indaguei e suspirei antes de abaixar um pouco o tom de voz. – Você acha que vai ser mesmo uma boa ideia nos reunirmos assim, para relembrar tudo o que aconteceu quando ela foi embora, só para fazer a Gi feliz?

- Eu sei, cara – ele assentiu adotando o mesmo tom que eu e apoiou uma de suas mãos em meu ombro. – Mas era coisa de adolescente, sabe? Na época pareceu o fim do mundo, porque nos marcou de alguma forma e tal, mas agora não é bem assim. E é só a Gi... E a Tori.

- Tori, claro, eu já devia imaginar.

- A Gi está até cozinhando! – gesticulou arregalando os olhos para demonstrar sua tamanha surpresa e eu ri. – Mas enfim, eu acho que vai ser fácil falar sobre isso agora, porque é algo que já não faz mais diferença nas nossas vidas. É sobre uma pessoa que a gente sabe que não vai voltar.

- Ahm, Danny...

Encarei-o por alguns instantes e pensei em dizer a ele. Pensei em dizer que, na verdade, Alice estava muito mais perto de nós do que poderíamos imaginar. Pensei em dizer que a encontrei mais de uma vez e que, hoje, nós finalmente conversamos. E que isso me fez muito feliz durante o pouco tempo que durou e apesar de tudo o que ela, mesmo que de forma não intencional, me fez enxergar.

Depois de todos os meus questionamentos enquanto ainda estava sentado à mesa com ela e sua filha, e durante o longo caminho até o apartamento de Tom, eu fiquei pensando sobre como seria agora. Sobre quem eu seria agora, mas... Ela me fez uma falta tão grande, em todos esses anos.

Ela estava tão linda. Tão confiante.

E eu queria, de alguma forma, trazê-la de volta e mantê-la em nossas vidas.

Ela disse que sentia a nossa falta, cara.

- O que?

Danny quis saber, arqueando as sobrancelhas. Mas, tão rápido quanto me atingiu, aquele pensamento logo foi embora. Ainda não era a hora.

- Nada. Esquece... Valeu a ajuda.

- Estamos aí – sorriu dando dois leves tapinhas em meu ombro antes de seguir pelo corredor até a sala de estar.

O que mais diria, depois que ele me perguntasse onde eu esperava que isso ia dar? Porque com certeza ele perguntaria. Diria que a queria de volta para mim? Porque, com certeza, eu queria.

Suspirei e encostei-me contra a parede. Essa era a segunda vez no dia em que eu me sentia completamente ridículo por acreditar que, apesar de tudo, eu ainda podia cultivar todas as minhas esperanças com relação à Alice. Mas entenda: Era inevitável!

Vê-la depois de tanto tempo e saber que ela não estava mais há um oceano de distância foi indescritível. Poder conversar com ela e perguntar sobre sua vida me tranquilizou, mesmo que meus pensamentos se mantivessem a mil. Ter seus diferentes sorrisos direcionados a mim, e ver seu rosto ruborizar com algumas das minhas frases bobas, fez com que algo adormecido se aquecesse em meu peito. A ideia de que ela poderia de repente se afastar, e não se aproximar mais fez minhas mãos suarem frio. E enfim abraçá-la, ainda que por míseros segundos, fez meu corpo inteiro formigar em êxtase.

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