38. Difícil de respirar

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Acordei mais uma vez com a respiração curta e incomodado pelo frio que sentia, sem dúvidas eu ainda estava febril e, mesmo não querendo, soltei Ali de meus braços para aconchegá-la entre os cobertores e enfim me levantar, logo seguindo em direção ao banheiro. Ainda era um pouco cedo, o despertador que Ali programou sequer havia tocado.

Fiz minha higiene matinal bem lentamente, quase parando, mas fiz e encarei meu reflexo no espelho por alguns segundos. Cabelo de qualquer jeito, barba rala já começando a aparecer, pele pálida e olheiras abaixo dos olhos... Eu estava com uma aparência ruim, ainda não achava que estava horrível, mas poderia estar bem melhor. Balancei a cabeça negativamente para afastar os pensamentos inúteis e me ocupei em procurar no gabinete por uma escova de dentes que havia comprado na última vez que fui ao mercado, estava intocada na embalagem, então a deixei sobre o lavatório.

Saí do quarto e segui diretamente para a lavanderia para pegar as roupas secas de Ali. Eu até tentei passá-las, mas isso definitivamente não era algo que tinha o hábito de fazer, então apenas fiz o melhor que pude e voltei a me arrastar escada à cima. Fiz tudo isso bocejando a cada cinco minutos e piscando pesadamente.

Quando cheguei ao quarto, Ali continuava dormindo tranquilamente, deitada de lado com uma expressão calma em seu rosto mesmo que o despertador de seu celular estivesse berrando sobre a mesa de cabeceira ao seu lado, o qual eu logo desativei. Coloquei suas roupas no banheiro junto à escova de dentes que havia separado especialmente para ela e voltei para o quarto, me sentando na beirada da cama, próximo ao seu corpo.

- Ali? – chamei pousando uma das mãos em seu braço e ela se mexeu, se deitando de barriga para cima. – Acorda, temos que ir.

- Aham... – murmurou ainda de olhos fechados e eu não pude deixar de sorrir.

Quando é que eu poderia imaginar essa situação?

Tive que lutar arduamente contra a minha imensa vontade de tornar a me deitar na cama com ela. Não gosto nem um pouco de hospitais, isso não é segredo para ninguém, sempre evito o máximo que posso, mas já estava começando a ficar realmente preocupado com tudo aquilo que vinha sentindo de uns dias para cá. E, bem... Tinha que aproveitar a companhia de Ali, pois se não fosse agora, não iria nunca ao médico.

- É sério, Ali, acorda – insisti deitando a cabeça sobre sua barriga e logo senti seus dedos se perderem em meus cabelos.

- Aham – repetiu.

- Vamos, já está ficando tarde – disse entre um bocejo enquanto aproveitava o carinho que ela fazia em mim. – Nós temos que ir ao hospital, buscar Missy na escola e, depois, os resultados do exame.

- Só mais dez minutos – ela pediu baixinho e eu me levantei relutantemente.

- Tem certeza de que vai trabalhar hoje?

- Aham – murmurou de novo, mas dessa vez tentando abrir os olhos ao se espreguiçar e se levantar da cama, fazendo-me rir de leve.

Para se levantar assim, ainda que preguiçosamente, apenas com essa simples pergunta, o trabalho devia ser algo mesmo muito importante. Então ela parou de frente para mim e passou as mãos pelo rosto, ainda bastante sonolenta ao me olhar com os olhos miúdos que tentavam se acostumar com a claridade, então, assim como quem não quer nada, eu me aproximei um pouco mais e tentei selar meus lábios aos seus, mas Ali rapidamente se esquivou.

- Está ficando maluco? – indagou com a voz um tanto rouca e eu ri mais uma vez.

- Não custava tentar – dei de ombros e por fim apenas beijei sua testa. – Bom dia.

- Bom dia – ela sorriu um pouquinho.

- Suas coisas estão no banheiro.

Ali assentiu em resposta e foi direto para o banheiro enquanto eu segui em direção ao closet a fim de trocar de roupa. Vesti uma calça jeans escura, uma camiseta branca e outra camisa de flanela quadriculada azul e preto com capuz, colocando uma jaqueta preta por cima. Saí do quarto enfiando as meias e os tênis também pretos nos pés e desci novamente as escadas. Juro que um dia eu ainda terei uma casa ou apartamento totalmente plano, sem escadas. Sério, sei que devo deixar de ser tão sedentário, mas escada é mesmo uma porcaria!

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