4. O amanhã

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Seus olhos mal me notaram quando passaram distraidamente por mim antes de focalizarem o que realmente procuravam: Missy. Ela segurou o suspiro e mordeu os cantos dos lábios ainda seguindo em passos largos até a menina. Balançou a cabeça levemente em negação ao se inclinar sobre Missy e colocou uma mão de cada lado do rosto dela, como se estivesse verificando sua temperatura.

- Está tudo bem com você? Por que está aqui fora? – perguntou um tanto alarmada, tentando fechar mais o casaco da menina como se fosse realmente possível. – Está frio aqui.

- Está tudo bem, mamãe – assegurou achando graça no comportamento da mãe e olhou para mim de soslaio.

- Não era para sair da escola – ela a repreendeu em um tom mais baixo e virou seu rosto em minha direção.

Eu sorri em divertimento pela situação e seus olhos se arregalaram no mesmo instante. Suas mãos subiram mais uma vez até o rosto de Missy e cobriram as orelhas dela, fazendo com que eu percebesse a aliança prateada com um notável diamante em seu dedo anelar direito.

- Caramba, era mesmo verdade.

- Ora, vejam se não é a nervosinha de ontem – eu ri, ignorando totalmente o leve incômodo que aquela aliança me acometeu, e ela endireitou sua postura com rapidez, colocando as mãos na cintura.

- E o senhor Não-toque-na-minha-cerveja – sorriu sarcasticamente e todos nós, até mesmo Snoop, nos levantamos.

- Você o conhece? – Missy franziu o cenho para a mãe, que logo se virou para ela.

- Filha, vai indo para o táxi. A gente conversa depois, está bem?

A menina olhou da mãe para mim com calma, tentando descobrir o que se passava ali, mas, por fim, deu de ombros. Ela sorriu levemente para mim antes de nos dar as costas, andando em direção ao táxi em um passo meio saltitante, e parou somente quando estava perto da porta do banco de trás, que ainda estava aberta.

- Por favor... – suspirou fazendo-me retornar meu olhar a ela. – Diz que não está me seguindo. Isso seria muito estranho.

- Ah, claro! – franzi o cenho, rindo de forma debochada. – Porque eu sempre sigo mulheres que conheci no dia anterior em um pub, fingindo que as encontrei por obra do acaso. Não tenho mais nada para fazer da vida mesmo.

- Tudo bem, eu sei... Entrei em desespero – ela gesticulou fechando os olhos e respirou fundo. – Desculpe por isso e obrigada por ter ficado aqui com ela, Judd.

Seus olhos me inspecionaram bem rapidamente, também notando a presença de Snoop ali, então ela deu um pequeno sorriso e me deu as costas, começando a andar em direção ao táxi que ainda a esperava. Mas eu me adiantei:

- Você sabe o meu nome – disse e ela se virou com o cenho levemente franzido e o leve sorriso que não lhe abandonou. – Eu não sei o seu. Não acho que isso seja muito justo.

Tudo bem, eu já tinha certeza de quem ela era. Já havia admitido isso para mim mesmo. Mas queria que ela me dissesse, queria ouvir dela. Talvez assim fosse mais... Real.

- Você não vai me ver de novo, não precisa saber meu nome – disse e voltou a me dar as costas, então eu suspirei.

- Ei, Missy! – chamei fazendo a mãe da menina parar de andar no mesmo instante. As duas me olharam. – Você estuda aqui, certo?

A menina sorriu fazendo sinal de positivo com sua pequena mão e eu tornei meu olhar para a mulher à minha frente. Sorri mais uma vez. As reações dela estavam mesmo me divertindo.

- Acho que vou vê-la de novo, sim – disse dando alguns passos tranquilos em sua direção, levando Snoop comigo.

Ela olhou do cão para mim e deu um passo atrás. Balançou a cabeça de leve em negação e abriu a boca parecendo escolher o que dizer, mas, por fim, ela bufou impacientemente e olhou por cima de meu ombro.

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