3. Olhos azuis

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-... Você está sendo muito injusto – ela acusou ao dar um passo à frente, então mordeu os lábios trêmulos. Vi que seus olhos estavam marejados, mas doía em mim também!

- Você está indo embora!

Retruquei com firmeza e em um tom pouco mais elevado no tempo em que me aproximei dela, quebrando totalmente o muro de falsa constância e de defesa que ela havia construído em torno de si em questão de segundos. Os ombros dela se encolheram levemente e os olhos se fecharam com força quando a dor se fez ser sentida. Ela estava quase se partindo diante de mim, assim como eu já estava em estilhaços.

- Harry...

- Você tem noção de como eu me sinto ao saber só agora que você está indo para bem longe de mim? Saber que não me contou sobre isso, mas que contou justamente para esse cara? – questionei transbordando incredulidade e decepção, então ela abaixou o olhar fungando baixinho. – Tem mesmo certeza de que sou eu quem está sendo injusto aqui? 

- Não estava sendo fácil, eu só pensei que... Que se...

- Eu não sei o que você pensou... – balancei a cabeça negativamente. – Mas se já não estava sendo fácil, agora está muito mais difícil. Pelo menos para mim.

Um baixo burburinho ao meu lado me despertava aos poucos. Incomodando-me. Abri os olhos devagar, mas a claridade que os atingiu fez com que eu me arrependesse imediatamente, então fechei os olhos com força e senti que minha cabeça latejava um pouco. Minha garganta ardia. Eu começava a tomar conhecimento de todas as reclamações que meu corpo fazia.

Ajeitei-me melhor onde estava deitado, que até o momento não tinha ideia de onde era, e, mantendo-me de olhos fechados, tateei com cuidado a superfície de tecido liso e macio abaixo de mim.

Certo, era uma cama como qualquer outra. Tudo bem até aqui.

Continuei a tatear e rapidamente me arrependi pela segunda vez de minhas péssimas escolhas em menos de um minuto, pois mais à frente tinha um corpo. Droga! Tinha um corpo e eu nem sabia a quem pertencia. Aliás, eu nem me lembrava do que tinha acontecido na noite passada direito. Por que diabos teria alguém ao meu lado?

- Tira a mão de mim, caralho! – a voz conhecida de Dougie disse, já me trazendo uma felicidade imensa por isso significar que eu não estava com uma garota qualquer. 

- Querido, não fale assim. Ele nem acordou direito.

A voz calma e carinhosa de Victoria me fez, por fim, ter coragem de abrir os olhos. Dougie estava sentado ao meu lado na cama, afastando minha mão de si com uma cara exagerada de nojo enquanto encarava a namorada, que estava em pé e de braços cruzados perto da porta, rindo da situação.

Tori, com certeza, era o par perfeito para Dougie. Mais calma do que qualquer outra pessoa que eu já conheci na vida – exceto quando está com sono –, a namorada de meu amigo ainda conseguia entender suas formas de demonstração de afeto e achar graça de seu humor estranho. Já disse, os dois são um grude que deu certo. O que é mesmo ótimo, porque Dougie nunca mediu esforços para mimar as pessoas que mais amava.

Olhei brevemente o cômodo onde estava, até onde e com a velocidade que meus olhos me permitiram, e constatei que definitivamente não estava em um dos quartos de meu apartamento.

- Ele estava me apalpando! – ele se defendeu alterando um pouco o tom de voz e fazendo minha cabeça latejar.

- Cala a boca, porra! – resmunguei contra o travesseiro sentindo minha voz sair estranha e me virei lentamente sobre a cama até ficar de barriga para cima.

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