26. Senhora Callagham

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Tudo bem, é só apertar a campainha. Já vi e revi meu atual comportamento e não, não estou agindo como um obcecado e não estou sendo impulsivo, talvez apenas sendo gentil e atencioso com pessoas de quem gosto bastante. Claro, vê-las é sempre muito bom, um prazer, uma coisa que eu gostaria que se repetisse mais vezes, mas acredito que não estou fazendo as coisas acontecerem de um jeito estranho, forçado, se é que você entende o que estou querendo dizer. Acho até que minha preocupação sobre como posso parecer já mostra que não quero ser inconveniente, logo, não estou obcecado por elas.

Não há o que temer afinal, então por que estou hesitando se nada de diferente vai acontecer e eu nem vou forçar para que aconteça? Ela pediu para que seguíssemos em frente como amigos, para que eu enfim superasse e eu... Bom, na verdade, eu não consegui responder nem prometer coisa alguma naquele momento, mas acho que posso tentar atender ao seu pedido. Vou tentar. E por isso está tudo bem um amigo apertar campainha da casa de uma amiga!

Inclinei-me um pouco para o lado a fim de tentar enxergar algo pela janela e, sem sucesso, suspirei ao passar a palma da mão pela calça jeans. Estava frio assim como nos outros dias, mas por algum motivo eu sentia minhas mãos úmidas. Então enfim apertei a campainha.

Uma vez.

Nada. Nenhum sinal de movimentação.

Mais uma vez.

- ESTOU INDO! – pude ouvir alguém gritar de dentro da casa. Era Alice.

Esperei por alguns minutos e nada mais aconteceu. Olhei para o relógio em meu pulso e balancei de leve a cabeça, pensando que talvez eu só tenha imaginado ouvir a voz dela, que talvez eu esteja mesmo tão obcecado a ponto de começar a imaginar coisas.

Estava um tanto intrigado comigo mesmo, mas, apenas para desencargo de consciência, levantei o braço e, com o dedo indicador indo de encontro ao pequeno botão, levei um susto quando a porta à minha frente se abriu subitamente.

- Nem pense nisso! – Alice disse categoricamente com um sorriso divertido em seu rosto e eu tive que rir, aliviado em vê-la ali, de verdade. – Tem gente que não sabe a hora de parar e fica com o dedão na bendita campainha até que alguém abra a porta. Espero que você não seja um desses.

- Com certeza não.

- Ótimo! – riu e pegou em meu braço. – Vem, entra!

E me puxou gentilmente para dentro da casa, logo fechando a porta principal atrás de nós. Ali estava linda, como sempre, tinha os cabelos soltos e estava maquiada, bem arrumada em sua camiseta branca de mangas longas e calça jeans, mas estava apenas de meias, então eu não sabia dizer se ela ia sair ou se tinha acabado de chegar de algum lugar.

- Gostei do seu cachecol.

Levantei meu olhar a tempo de vê-la sorrir para mim antes de soltar meu braço e seguir até a mesa de vidro que ficava ao fundo da sala de estar, próximo à janela, passando a dar atenção para os papéis que estavam ali espalhados junto à uma pasta branca.

- Ah, muito obrigado! – sorri ladino e deixei meus olhos curiosos analisarem tudo à minha volta. – Resolvi arrumar a bagunça que tinha em meu quarto esses dias e o achei caído por lá.

As paredes eram em um tom creme e os móveis, escuros com a superfície de vidro. O piso era de madeira, marfim, eu diria. Havia um grande tapete felpudo, sofás de couro de dois e três lugares, além de pesadas cortinas brancas, que estavam fechadas. As cores que se contrastavam e a luz baixa deixavam o ambiente bastante aconchegante, terno, para falar a verdade. Aqui tinha também muitos eletrônicos, alguns DVDs e uma televisão de, talvez, 60 polegadas? Não sei...

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