11. Sétimo andar

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Passaram-se alguns dias desde a última vez que vi Alice... Tudo bem, na verdade, passaram-se apenas dois dias. Eu meio que precisei desse tempo para criar uma certa coragem, e enfim ligar para o número que Gisele havia me passado e, confesso, achei até um tanto inusitado o fato de me sentir inseguro, por ter que fazer uma simples ligação. Era como se eu nunca tivesse feito aquilo.

Mas era Ali. Depois de anos. Definitivamente não era uma situação comum.

Eu não esperava que nada de previsível partisse dela e tinha razão em não o fazer. Alice estranhou um pouco a ligação de início, provavelmente por não reconhecer o número, mas quando me identifiquei ela logo fez com que a minha pequena sensação incômoda simplesmente desaparecesse. Ela parecia confortável e até brincou um pouco, para saber como eu havia conseguido seu contato. Seu tom era leve, agradável e denunciava um sorriso que seus lábios deviam ter sustentado até o fim de nossa breve conversa.

E agora eu estava ali, mais uma vez parado em frente à Quainton Hall School, esperando por Ali e Missy, que deveria sair a qualquer momento. Nós combinamos que iríamos, ahm... Dar uma volta.

- O senhor por aqui mais uma vez? – ouvi a já familiar voz grave de Mark atrás de mim e me virei.

- Mas hoje elas sabem que vim – sorri ao arquear as sobrancelhas, esperto, e ele apenas cruzou os braços. – Será que pode, por favor, parar de me chamar de senhor?

Tentei ser amigável ao manter o sorriso no rosto, pedindo a mesma coisa que eu sempre pedia para Ian, o porteiro de meu condomínio. Ouvir outras pessoas me chamando de senhor, não era uma coisa que eu julgava muito agradável. Quero dizer, nesse caso, assim como em muitos outros por exemplo, eu sou o mais novo e ele não é meu empregado ou algo do tipo. Tal formalidade, não era mesmo necessária.

- Apenas "você" seria muito melhor.

Mas minha tentativa de fazê-lo relaxar um pouco a expressão severa e desconfiada foi totalmente falha, Mark continuou me encarando com o cenho franzido.

- Tudo bem, rapaz. Como é seu nome?

- Harry Judd.

- Você não é da televisão?

- Não exatamente – balancei a cabeça em negação, cruzando os braços também e vendo-o me analisar dos pés à cabeça sem cerimônia alguma, então segurei o riso. – Sou músico. Faço parte de uma banda, então nós aparecemos na televisão de vez em quando.

- Hm. É... Você parece ser bem melhor do que o outro. Acho que gostei de você, Harry. Acho! – ele disse ao me encarar mais uma vez, finalmente abrindo um pequeno e quase imperceptível sorriso antes de se colocar ao meu lado, voltando a atenção para os pais e alunos que ali circulavam.

- "O outro"?

- Sim, o outro homem que de vez em quando vem buscar a pequena Missy – explicou ainda sem me olhar. – Callagham, se não me engano. Sempre chega aqui no horário certo, diferentemente da senhorita Sawyer – ele sorriu abertamente dessa vez e eu dei uma risada curta.

- Então isso é frequente?

- Um pouco, mas todos aqui já estão acostumados e sabem que ela não faz por mal. É uma mãe bastante dedicada, na verdade. Juro, os olhos azuis da menina chegam a brilhar quando a mãe vem buscá-la – ele disse mantendo o sorriso no rosto. – Já o padrasto, todo engomado em terno e gravata, desce de sua enorme BMW preta, entra na escola e sai com Missy sem falar ou olhar para alguém. Nem com a professora ele fala.

- Estranho.

- Pois é.

Franzi o cenho de leve e pisquei algumas vezes, antes de desviar meu olhar dele para alguns pais que estavam na entrada da escola, conversando com os diferentes professores que apareciam ali eventualmente, vestidos por aventais brancos. Os pais seguravam as crianças pelas mãos e alguns deles, antes de enfim seguirem seus caminhos, acenavam rapidamente para Mark.

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