28. Espirros

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#Alice's POV

O único lugar para onde eu poderia ir naquele exato momento era o apartamento de Sarah e eu estava torcendo, com todas as minhas forças, para que ela não tivesse inventado de sair cedo justo hoje.

O apartamento dela era como um refúgio, tanto para mim quanto para Missy, pois quando Robert viajava e nós não queríamos ficar sozinhas era para lá que íamos. Sarah não reclamava, na verdade, achava melhor assim já que ainda não tinha se acostumado totalmente a morar longe dos pais e até colocou como regra número 1 conversar apenas em português em seu apartamento para se sentir mesmo em casa. Meu noivo, por outro lado, não suportava a forma como interagíamos e se recusava a entrar no apartamento. E podemos dizer também que ele e minha prima não fazem o tipo melhores amigos.

Enfim, quando o carro encostou em frente ao prédio eu não pensei nem duas vezes, logo destravei o cinto de segurança, peguei minha bolsa e a pasta que estavam no chão e abri a porta para deslizar para fora do carro, mas tudo sem querer parecer que eu estava desesperada para sair dali. Mesmo que no fundo eu estivesse. Fiz somente o suficiente para demonstrar que sim, eu também estava sentida e confusa com tudo, estava magoada.

- Vejo vocês depois de amanhã? – ouvi e me virei para encará-lo.

Com um braço apoiado na porta ao seu lado, ele apertava e estralava dedo a dedo de sua mão perto do rosto enquanto a outra segurava firmemente o volante à sua frente. Então parou por um momento e virou o mínimo possível de seu rosto para poder me olhar de soslaio com seus duros olhos azuis à espera de uma resposta. A frustração e a mágoa eram tão palpáveis que eu senti meus joelhos vacilarem.

- Claro...

- Qualquer coisa, eu ligo.

Reprimi o suspiro e bati a porta, já dando as costas para entrar no condomínio sem olhar para trás nem por um momento. Então, só quando sabia que já estava longe demais para ser vista, eu corri. Não me importei em subir as escadas, não tinha paciência alguma para esperar pela boa vontade daqueles elevadores velhos e, com toda certeza, aquela mesma musiquinha que sempre toca dentro deles não me ajudaria a relaxar nem um pouco.

Entre um espirro e outro, ao chegar à porta do apartamento, me tornei uma das pessoas que menos gosto no mundo e fiquei apertando a campainha incansavelmente até que Sarah aparecesse. Desculpa, odeio que façam isso na porta da minha casa, mas eu precisava mesmo entrar!

- Oh, porra! – ouvi-a resmungar em português junto ao som da porta sendo destrancada e, quando essa se abriu, Sarah sobressaltou de susto levando a mão livre ao peito. – Meu Jesus Cristo!

Virei-me de forma breve para espirrar mais algumas vezes e respirei profundamente, na medida do possível, para falar a verdade, porque meu nariz estava começando a ficar congestionado, então olhei para Sarah.

- Sem um único comentário engraçadinho, por favor? – pedi e passei por ela seguindo direto em direção à um dos quartos. – Não posso aparecer em casa desse jeito.

- Não mesmo. E saiba que está sendo muito difícil não fazer um comentário engraçadinho – confessou vindo atrás de mim e eu tive que respirar fundo mais uma vez. Minha aparência devia estar mesmo péssima. – O que aconteceu com você? Por que sua roupa está toda molhada?

Coloquei minhas coisas sobre a cama desarrumada de Sarah e me virei para os armários, alcançando uma toalha limpa, assim segui para o outro quarto com minha prima ainda em meu encalço.

- O que você fez, Ali? Onde estava? Conta, pelo amor de Deus, a curiosidade está me matando – ela insistiu ao tentar chamar minha atenção, mas eu ignorei suas perguntas abrindo algumas gavetas da cômoda.

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