40. Cherry wine

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ATENÇÃO: Esse capítulo contêm cenas de violência contra mulher.

Pelo meu próprio bem e por todos aqueles que tenho por perto, eu não podia ter dúvidas. Combinamos e assim deveria ser, era o certo.

Parei por um instante e olhei à minha volta com o cenho franzido, só então percebendo que tinha apertado o passo e começado a perambular sem destino algum pelos corredores brancos e silenciosos do St. Thomas' Hospital. Segui a indicação de algumas placas à procura da saída e suspirei nervosamente, toda vez esbarrava sem querer em alguém. Eu posso ter soado firme, mas por dentro ainda estava um tanto aturdida pelo assunto que devia ser esquecido e precisava ficar sozinha para me acalmar, precisava sair daquele lugar.

Apesar de não ter experiências muito boas em hospitais, o problema agora não era com o lugar em si, mas comigo. Eu só precisava de um pouco ar puro e respirei profundamente depois de passar pela recepção do prédio e enfim o deixar, me afastei da entrada e permiti que a brisa fria batesse contra meu rosto, logo invadindo todo o meu corpo quente.

Pronto. Está tudo bem, na mais perfeita ordem.

Olhei por cima do ombro para as portas de vidro do hospital e agradeci aos céus por nenhuma das meninas ter vindo atrás de mim, pois não queria ter que voltar a encará-las ainda hoje, aquilo tudo já havia sido o bastante para que eu sequer tivesse ideia de como reparar. Se é que teria a chance de reparar, até mesmo porque Sarah também ficou para trás e eu não duvidava de que ela poderia estar, neste exato momento, contando tudo o que achava que devia contar para as outras.

O dia mal havia começado e agora eu só pensava em entrar em um dos táxis parados do outro lado da rua e seguir diretamente para minha casa, me esconder a fim evitar novas situações embaraçosas, mas não podia. Não depois de ter, de certa forma, enfim me acertado com Harry. Não podia fazer isso com ele, ainda mais hoje por conta do resultado do exame e não podia, de jeito nenhum, também fazer isso com Missy. Há quanto tempo ela anseia por isso? Por poder dizer que tem mesmo um pai?

Andei até um dos bancos de madeira que ficavam ali por perto, na mesma calçada do hospital e me sentei tentando não me preocupar com o último acontecimento. Eu sabia que sim, Robert estava mudando e se esforçando muito para controlar seu temperamento e sabia, também, que nós estávamos de fato muito bem já havia um tempo, provavelmente desde que nos mudamos para a Inglaterra, mas não podia negar que toda essa situação com Harry... Com as memórias sobre o nosso passado juntos, sendo trazidas o tempo todo à tona, além de... É claro, as memórias mais recentes e não tão agradáveis que, infelizmente, tenho com o meu noivo... Tudo isso estava me abalando.

Meu coração podia até tentar enganar o meu cérebro e me fazer ficar extremamente confusa sobre o que é certo ou errado, tentar me fazer esquecer por alguns instantes de que eu não podia ter esse tipo dúvidas, mas o medo que as acompanhava sempre me lembraria da dor que eu não queria sentir outra vez.

- Sério, fazia tanto tempo que eu não me divertia assim...

- Que isso, Alice? A gente só deu uma volta – ele disse como se não fosse grande coisa e eu dei uma risada contida, ajeitando Missy entre meus braços.

- Mas para quem não saia de casa há dias, só uma volta no bairro já é como conhecer outro mundo, acredite.

- É... Já está mais do que na hora de Robert amadurecer, deixar de ser um idiota e aproveitar o tempo que tem com vocês, que vieram de outro país só por causa dele.

- Não, eu entendo que ele tem andado bastante ocupado e estressado por causa dos problemas na Mächtig – encolhi os ombros e ele balançou a cabeça em negação enquanto andávamos lado a lado pelo jardim até a porta principal.

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