Bem me quer, Mal me quer

Capítulo 16 - Jogos Perigosos

'Divirta-se com as garotas.'

Harry franziu o cenho. Era o que ele teria feito se não fosse pelo fato de que sentia o estômago embrulhado. Também não podia entender porque seu corpo não parava de tremer. Talvez estivesse ficando gripado. Harry se abraçou e se sentou no parapeito da janela.

Olhando a paisagem lá fora, Harry entendia porque uma família de puros sangues como os Blacks escolhera aquele bairro trouxa para morar. O Largo Grimmauld era um lugar tão calmo e pacífico. Com exceção do seu vizinho, ele raramente via trouxas andando na calçada. O único local cheio era o Parque Grimmauld que ficava a dois quarteirões abaixo da casa de Harry. Era o mesmo lugar em que Draco o levara para correr.

Harry se abraçou com mais força ao pensar em Draco. Não importava o quanto ele tentasse concentrar-se em outras coisas, cada pensamento o levava até Draco, como se ele já não tivesse o bastante com o que se preocupar no momento. Precisava se concentrar nos seus pesadelos e no terrível fato de que sua cicatriz havia pulsado. Odiava admitir que estava com medo do significado daqueles sonhos. Voldemort havia olhado diretamente para ele. Não para o bebê Harry, mas para a sua versão adulta.

Estava com medo pela primeira vez na vida, porque a única teoria que podia imaginar era a de que talvez, apenas talvez, Voldemort estivesse vivendo dentro dele. Aquilo certamente explicaria as súbitas mudanças de humor de Harry. Explicaria porque ele parecia tão doente. Ou talvez ele apenas pensasse que Voldemort estava dentro dele porque ele estava se tornando Voldemort. Harry estava cada vez mais amargo e desesperançado. Havia deixado a escuridão tomar conta de seu ser. Talvez Fudge estivesse certo ao acusá-lo de querer ser o próximo Lorde das Trevas.

Harry balançou a cabeça. Aquilo era besteira. Ele não era Voldemort. Estava exagerando. Era tudo um sonho ruim. Apenas um sonho muito ruim... Hermione não precisava saber daquilo. Ninguém precisava saber.

Draco havia visto sua cicatriz pulsar, no entanto. Será que ele contaria a Hermione?

E lá estava ele de novo pensando em Draco. Harry tocou os lábios com os dedos distraidamente ao se lembrar do beijo. Era quase como se Draco estivesse ali, beijando-o de novo, tentando-o, fazendo-o se derreter. Harry estremeceu. Não podia entender o que estava acontecendo com ele. Nunca um beijo o havia deixado em tal estado. Lembrava-se de seu coração batendo apressado ante a visão de Cho, e mais tarde com Gina. Lembrava-se de suas palmas suando quando pedira Gina em casamento, e o modo como havia corado quando a convidara para sair pela primeira vez. Lembrava-se de como era se sentir ansioso. Mas as sensações que sentira por causa do beijo de Draco eram novas para ele.

Havia sentido o coração disparar, o que já sentira antes. Mas antes seu coração não parecia que ia saltar pela boca. Havia se sentido nervoso, afinal ele sempre se sentia assim diante de uma situação nova. Mas nunca se sentira tonto ao beijar uma garota. Nunca havia sentido aqueles arrepios deliciosos percorrerem seu corpo. O beijo de Draco lhe tirara do prumo. Aquilo certamente era algo que nunca havia acontecido com ele só por causa de um beijo. Harry nunca havia perdido o controle por um simples beijo.

Encostou sua cabeça na janela e suspirou. Havia esperado sentir todas aquelas coisas por tanto tempo. Não era justo que Draco fosse aquele a acordar tantos sentimentos nele. Harry era heterossexual. Nunca havia sentido atração por outros homens. Se ao menos não fosse Draco. Se ao menos Harry não tivesse perdido a cabeça e aceitado aquele desafio idiota que vira nos olhos de Draco. Devia saber que não podia confiar no seu temperamento explosivo. Sempre tomava as atitudes erradas quando estava zangado.

Será que ele era gay? Talvez não fosse só com Draco. Talvez ele tivesse atração por homens, apenas não havia notado antes. Fez uma careta. O Profeta Diário adoraria saber que o Garoto-Que-Sobreviveu era gay. Seria fofoca para uma vida inteira.