Bem me quer, Mal me quer

Capítulo 18 - Rotina

Sua rotina diária era algo que Harry prezava muito em sua vida. Qualquer coisa que perturbasse seu cronograma era muito mal recebida. Harry pensou que Draco seria uma daquelas perturbações. Mas conforme a semana ia passando, ele percebeu que a presença de Draco, longe de irritá-lo, estava se incorporando a sua vida facilmente.

Para Harry, a maneira com que eles estavam se ajustando aos hábitos um do outro era incrível. Ao invés de correr, Draco o havia convencido a caminhar com ele. Por isso, toda manhã eles se levantam as seis para caminhar pelo Parque Grimmauld. Harry ainda não havia se acostumado aos olhares de pena sobre ele, mas a companhia silenciosa de Draco compensava aquela inconveniência, especialmente quando Harry se deu conta de que Draco não parecia perceber que as pessoas o olhavam com desejo.

Harry perguntou-se quando o mundo havia ficado de cabeça para baixo. Um mundo onde Draco não percebia seu próprio poder de sedução era muito estranho. Draco havia sido o deus do sexo da Sonserina. Harry lembrava-se muito bem do quanto Draco havia se gabado daquilo. E agora Draco parecia não se importar.

Após a caminhada, eles tomavam café juntos. Não conversavam muito, mas a constante presença de Draco a seu lado todas as manhãs funcionava como um calmante.

Draco não voltava do trabalho todos os dias para almoçar com ele, mas Harry sempre se surpreendia ao ver a comida pronta em cima da mesa na hora do almoço. Draco havia contratado uma coruja para lhe trazer o almoço. Harry ficara muito tocado com aquele gesto. Queria agradecer Draco por ser tão atencioso com ele, mas as palavras sempre ficavam entaladas na sua garganta.

Conversar ainda era um problema entre eles, e Harry ainda explodia muito facilmente. Mas Harry estava começando a aprender a como controlar seus impulsos, e para cada comentário rude que fazia a Draco, compensava se desculpando e contando a ele alguma coisa pessoal da sua vida. Draco nunca fizera piada desses momentos de vulnerabilidade, o que surpreendia muito Harry. O loiro sempre se comportava como um cavalheiro. Ele havia amadurecido tanto que Harry sentia-se envergonhado de si mesmo. Draco constantemente o surpreendia. Viver juntos estava se tornando interessante, e não tão difícil quanto Harry achara que seria.

A trégua entre eles mostrara a Harry o quanto Draco mudara. Agora que eles estavam tentando ao máximo não irritar um ao outro, Draco estava mostrando a Harry um novo lado dele. Aquelas mudanças definitivamente estavam fazendo com que Harry se sentisse inseguro. Por um lado, Harry começara a considerar que talvez Hermione estivesse certa sobre ele e seus sentimentos por Draco. Por outro, aquele mesmo conhecimento estava enfurecendo-o. Ele não queria sentir nada por Draco.

Outra coisa que irritava Harry era o fato de que, mesmo que algumas vezes ele contasse a Draco algo pessoal sobre sua vida, Draco, por outro lado, nunca lhe contava nada que não fossem trivialidades. Harry ainda não sabia nada sobre Bill e sobre o que havia acontecido com Draco no passado que parecia perturbá-lo tanto. E Harry estava surpreso por perceber que queria conhecer Draco melhor.

Queria perguntar sobre os pais de Draco. Queria saber o que havia acontecido a Draco quando ele havia sumido do mundo bruxo por um pequeno período de tempo depois da formatura. Sobretudo, queria saber se era verdade que Bill e Draco iriam morar juntos quando o loiro deixasse a casa de Harry no fim do mês.

Ele amaldiçoou Fred por lhe contar aquilo. Mas pensando melhor, a culpa era de Harry. Não deveria ter perguntado sobre o relacionamento de Draco e Bill. O que ouvira de Fred havia lhe deixado com um tremendo ciúmes. Fred achara sua reação divertida, mas a situação era tudo menos divertida para Harry.

Às vezes ele flagrava Draco no telefone com Bill, e sempre se sentia tentado a escutar. Apenas uma vez ele havia cedido a tentação, dizendo a si mesmo que iria escutar só um pouco. Mas Draco o havia flagrado no ato, espionando-o. O loiro havia franzido a testa e batido a porta na cara de Harry. Harry sentira seu rosto queimar tanto de vergonha quanto de raiva. Mas o que um homem podia fazer?