Capítulo 9 - Vínculos

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Não importava o quanto Draco tentasse, não conseguia se concentrar no trabalho. Hermione já havia lhe chamado a atenção quatro vezes, mas não adiantava. Sua mente estava focada em Harry e naquela estranha manhã que passaram juntos.

Que jeito desagradável de começar o dia. Uma discussão com Harry não estava nos planos de Draco. Na verdade, sabia que Harry explodiria mais cedo ou mais tarde. Só não esperava que fosse tão cedo. Draco havia baixado suas defesas naquela manhã. Deveria estar preparado para as palavras cruéis de Harry. Deveria tê-las visto chegando. Mas ele não vira nada, e agora estava pagando o preço pela negligência.

Não esperava se sentir tão sorumbático. Não fazia ideia de que doeria tanto ouvir Harry chamá-lo de viado. As desculpas de Harry não eram o bastante. Ele queria ver Harry implorando por perdão. Seria melhor ainda se Harry lhe desse um boquete em troca de absolvição. Draco sacudiu a cabeça e então sorriu tristemente. Aquilo era algo que nunca aconteceria.

"Você sabe que eu te odeio. Sabe que eu gosto de te machucar. Eu chamarei você de nomes horríveis pra sempre. Não sei porque está tão surpreso!" As palavras desagradáveis de Harry continuavam lhe assombrando. Junto com elas vinham outras, ainda mais doloridas e grosseiras. Draco se lembrava muito bem das palavras de seu pai no dia em que ele pegou Draco na cama com outro rapaz.

"Você é uma desgraça! Uma perversão! Acha que eu vou permitir que você continue com isso? Acha? Tirarei essa doença de você mesmo que tenha que te matar!" E realmente, Lucius quase havia matado Draco com suas incessantes sessões de tortura psicológica, poções e feitiços para curá-lo daquela doença. Todos os truques mágicos de Lucius haviam sido em vão. Draco continuara o mesmo. Pena que Draco era filho único, porque Lucius não havia desistido dele. Lucius pressionara Draco até ele atingir seu limite. Havia tentado fazer de Draco um Comensal da Morte. Lucius levara Draco a loucura. Até que um dia, quando Draco tivera o bastante, ele havia percebido que o doente não era ele. Seu pai, aquele que Draco sempre tivera orgulho, era o doente. Seu sistema de crenças inteiro era doente.

Draco se juntara à Ordem em segredo. Traíra seu pai e abandonara a única vida que conhecera. Mas aqueles sacrifícios não significaram nada para o mundo bruxo. Com a morte de Dumbledore, não sobrara ninguém para defendê-lo. Dumbledore havia sido o único a acreditar em Draco. O velho homem lhe dera uma segunda chance na vida. Mas com Dumbledore morto, Draco ficara sozinho para enfrentar as consequências de suas ações. Fora condenado pela sociedade por trair os próprios pais (sem levar em conta que eles haviam sido servos de Voldemort). E ao mesmo tempo, Draco fora tratado com desdém por carregar o sobrenome Malfoy.

O nome dos Malfoys, tão respeitado no passado, caíra em desgraça.

Foram os Weasleys e Hermione que ajudaram Draco a recuperar sua honra novamente e a se recompor. Por isso Draco lhes seria eternamente agradecido.

Ele franziu a testa conforme as memórias o invadiam. Achava que havia deixado o passado para trás, mas passar uma manhã com Harry lhe provara o contrário. Harry ferira seus sentimentos. Por um momento naquele dia, Harry o lembrara de Lucius. Draco havia se sentido tão inferior, tão indefeso. Podia suportar que Harry o odiasse por ser Malfoy, seu inimigo. Mas não conseguia lidar com Harry odiando-o por ser gay.

A aceitação de Harry não devia ser tão importante pra ele, mas era.

Ao menos Harry havia sido honesto. Aquela honestidade, por mais brutal que fosse, o pegara de surpresa. E mesmo que as palavras seguintes de Harry não tenham lhe servido de consolo algum, não foram totalmente desanimadoras.

Ainda havia uma chama brilhando nos olhos de Harry. Toda a dor que Harry sofrera obscurecera seu olhar, mas a chama ainda estava lá. Draco queria ser aquele que traria a chama de volta. Queria ver aqueles belos olhos verdes cintilando com a mesma alegria de antes.

Bem me quer, Mal me querOnde histórias criam vida. Descubra agora