Capítulo 28 - Memórias

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- Harry?

Harry abriu os olhos, piscou e então olhou ao redor, confuso. O quarto oval em que estava era simples e confortável. Havia uma única cama no canto, uma mala com o timbre de Hogwarts e uma escrivaninha perto da janela. Percebeu, atordoado, que estava no que costumava ser seu quarto em Hogwarts quando ele estava no sétimo ano. Olhou para o calendário na mesa e congelou. Sentiu suas mãos ficando suadas e frias.

- Harry?

Seu coração afundou ao virar-se e se deparar com Remus Lupin usando o conjunto de robes casuais de sempre. Remus tinha uma expressão gentil no rosto, mas ele não estava olhando para Harry – não realmente – mas para um jovem sentado na cama. O jovem era Harry com dezessete anos.

O Harry do presente começou a entrar em pânico, mas ele já conhecia o que vinha a seguir. Não havia nada que pudesse fazer para parar a cena que se seguiria. Não podia entender porque tinha que reviver aqueles momentos sempre que adormecia. Era um pesadelo sem fim. Quando ele não estava vendo sua mãe morrer, estava assistindo Sirius cair através do véu, ou sua última batalha contra Voldemort. Ou isso.

Encostou-se na parede e colocou a mão no peito para ver se conseguia diminuir a dor. Então suspirou e assistiu silenciosamente suas memórias serem repassadas na sua frente como se estivesse assistindo a um filme.

Num lado do quarto lá estava ele e sua velha estupidez. Amuado como um pirralho mimado, ele ignorava as tentativas de Remus de conversar com ele. No outro lado estava Remus, sempre tão calmo e sereno, tentando quebrar as defesas de Harry e preencher o vazio que a morte de Sirius havia deixado em seu coração. Harry sentiu o mesmo desespero de sempre ao ver aquela cena.

Desde a morte de Sirius, Remus tentara seu melhor para substitui-lo. Mas nada do que Remus fazia podia agradar a Harry. Pelo contrário, Harry encontrava-se constantemente zangado com Remus. Não era porque o odiasse. Harry apenas estivera tentando bastante não se importar mais com nada nem com ninguém. Ele estava obcecado pela ideia de destruir Voldemort e assim vingar seus pais, Sirius, e todos os que haviam sofrido nas mãos daquele monstro. Para manter o foco na tarefa a sua frente, Harry havia se afastado de seus amigos. Não podia evitar. Queria proteger as pessoas que tanto amava, e para fazer isso precisava ficar longe deles.

Harry passava seus dias tenso e alerta. Estava sempre esperando pelo cumprimento da profecia. Não se importava se vivesse ou morresse. Só queria que tudo terminasse.

Quando Remus entrou em seu quarto para lhe dizer adeus antes de embarcar numa missão para a Ordem no seu sétimo ano, Harry havia se comportado como sempre. Havia fingido não ouvir a voz gentil de Remus lhe perguntando com ele estava e se ele precisava de alguma coisa. Harry havia tratado Remus como se sua presença fosse um aborrecimento. Na maior parte das vezes ele realmente sentia ressentimento por Remus estar vivo enquanto Sirius estava morto. Sabia que aquilo era absurdo, mas não podia evitar sentir-se daquela forma. Doía olhar para Remus, e Harry se odiava por isso.

Não sabia que, quando Remus deixasse seu quarto, seria para nunca mais voltar. Harry não tinha ideia de que cinco horas depois Remus estaria tão morto quanto Sirius, e que seu rancor estúpido iria pesar tanto em seu peito que ele desejaria estar morto também.

Era muito doloroso. Era pior do que assistir à morte de sua mãe, porque ele sabia que não poderia fazer nada na época para salvá-la já que era apenas um bebê. Mas com Remus as coisas eram diferentes. Harry podia ter feito alguma coisa por ele. Podia ter dito alguma coisa. Podia ter abraçado Remus e lhe dito o quão importante ele era para Harry, e como ele se sentia grato pelo fato de Remus estar vivo e a seu lado cuidando dele. Mas ele havia deixado Remus ir sem dizer uma palavra. Não havia aprendido nada com a morte de Sirius. Havia repetido os mesmo erros de novo. Podia ter evitado a morte de ambos se não fosse tão idiota e cabeça quente.

Bem me quer, Mal me querOnde histórias criam vida. Descubra agora