Capítulo 19 - Pensando em Harry

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- Pega leva no chocolate, Draco. Você passou muito mal da última vez que comeu demais, lembra? – avisou Bill.

Draco deu de ombros e deu uma grande mordida num dos melhores chocolates da loja Dedos de Mel. Era seu terceiro já. Não era à toa que Bill estava chamando sua atenção. O estômago de Draco não tolerava muito chocolate. Ele provavelmente iria se sentir muito mal depois, mas no momento ele não estava nem aí. Chocolate era a única coisa que o acalmava quando ele se sentia ansioso e preocupado. E ficar ansioso e preocupado havia se tornado um hábito desde que ele passara a morar com Harry.

Draco nunca conhecera ninguém em sua vida que mexesse tanto com seus sentimentos quanto Harry. Draco sempre imaginara Harry como alguém simples, mas o moreno na verdade era muito complicado. Suas atitudes haviam melhorado naquela semana, Draco não podia negar aquilo. Mas a natureza mal humorada de Harry era difícil de superar.

E se o temperamento de Harry não fosse difícil o bastante, Draco teve que lidar com seu lado fofo também. E a fofura de Harry era ainda mais difícil de lidar. Quando Draco achava que estava superando sua paixão por Harry, o moreno fazia algo para pegá-lo de surpresa e lhe deixar com as pernas trêmulas.

Com um suspiro zangado, Draco deu outra mordida na barra de chocolate enquanto as memórias da semana anterior tomavam conta de sua mente. Draco não conseguia se esquecer da maneira com que Harry havia concordado em caminhar com ele no Parque Grimmauld, e como o moreno havia esperado por ele no corredor pacientemente todas as manhãs. Harry também o havia esperado para o jantar. E mesmo que eles não conversassem muito, eles davam um jeito de se engajar em conversas educadas.

Quando Harry tinha algum chilique, ele rapidamente se desculpava contando a Draco algo pessoal sobre sua vida. Draco agora sabia tudo sobre o quarto ano de Harry e a maneira como ele havia se sentido no Torneio Tribuxo após a morte de Cedric. Também havia escutado Harry contar sobre o seu quinto ano e as coisas horríveis que Umbridge havia feito a ele. Draco ficou chocado em saber da forma que ela o havia torturado – embora fosse bem provável que se Draco soubesse na época, teria achado divertido e bem-feito.

Draco também não tinha boas memórias do seu quinto ano. Era verdade que ele havia feito o papel perfeito do pirralho mimado, mas tudo havia sido uma atuação. Bem, a maior parte pelo menos. Ele realmente havia se divertido sendo Monitor. Havia adorado ter tanto poder sobre os estudantes. E havia gostado das ações de Umbridge, isso ele não podia negar.

Mas foi no seu quinto ano que ele começou a se sentir desassossegado consigo mesmo, e havia começado a questionar as razões de seu pai. Para todo mundo ele se comportara como sempre. Mas por dentro ele estivera se desfazendo pedacinho por pedacinho.

Seu sexto e sétimo anos haviam sido insuportáveis. No sexto ano, sentira que nada ficaria bem outra vez. Draco dormira com um Sonserino e gostara. Havia passado por um processo de ódio de si mesmo e negação. Havia tentado sufocar aquele seu lado detestável, apenas para perceber que era impossível. Havia pegado no pé de Harry sem dó nem piedade, afinal de contas, Harry sempre fora seu saco de pancadas favorito. E um ano depois – o mesmo ano em que lhe fora permitido se juntar a Ordem de Fênix – havia se apaixonado profundamente pelo Garoto-Que-Sobreviveu.

Não disse nenhuma daquelas coisas a Harry, porém. Algumas coisas eram melhores não ditas. Sabia que Harry queria saber mais sobre seu passado. Podia sentir a curiosidade de Harry na maneira como os olhos verdes o encaravam em expectativa. Mas Draco não conseguia exprimir suas preocupações e sofrimentos do passado. Era muito difícil pra ele. Havia sido um pirralho naquele tempo. Sabia que merecia o que lhe acontecera depois. Mas saber daquilo não fazia com que ele se sentisse melhor. E odiava se lembrar do quão fraco e patético fora naquela época.

Bem me quer, Mal me querOnde histórias criam vida. Descubra agora