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Nigel parecia está bem, mas, apenas parecia, seu olhar mais opaco é evidente mesmo por detrás dos óculos. Também não é para mesmo, lidar com frustrações não é nada fácil.

Afoita, sigo de volta para minha mesa, e antes de sentar em meu lugar, foi inevitável não parar subitamente ao ver que Miranda está olhando em minha direção. Eu simplesmente estanco ali, juntando minhas mãos na frente. Minha respiração está afobada, provavelmente meu rosto está ganhando um rubor, então apenas cumprimento ela com um gesto positivo de cabeça e me acomodo em meu assento igual uma tonta.

Tento entender mentalmente o que foi a minha reação, mas, sou tirada de meu frenesi ao ouvir sua voz chamar meu nome baixo, praticamente sussurrado e chutaria "molhado". Definitivamente a maneira que ela pronuncia o meu nome, é única, é nesse momento que agradeço meus pais por não ter me dado um nome americano, e sim italiano. A pronuncia é sempre diferente... E na voz dela, no timbre dela, é simplesmente espetacular.

Busco encher meus pulmões de ar, sigo até ela. Não entendo o porquê, mas, ultimamente é complicado para mim, ficar cara a cara com ela. Talvez seja porque quase a deixei na mão, na semana mais importante para ela? É! Talvez.

Miranda tira seus olhos do laptop, e como se estivesse em câmera lenta, ela deposita seu olhar frio como a Glaciar Matusevich, e faz um scaner do meu corpo. E sabe aquele ar que eu tinha enchido os meus pulmões? Então, é aqui que resolvo soltar. E bem tense, como sempre, euzinha Andy lascada da vida, libero de maneira espalhafatosa, fazendo Miranda ouvir minha lufada. Ela então parece se assustar? Não, claro que não. Ela se endireita na cadeira, pega sua agenda e começa a ditar suas ordens um tanto quanto surreais, e confesso mais uma vez que isso tem me irritado bastante.

Qual é? Realmente pensei que já tivesse ultrapassado essa fase de realizar desejos quase impossíveis. Mas, pelo visto, Miranda não pensa assim. E isso significa que mais uma vez irei passar todo o dia praticamente fora da Runway, e longe dela.

É isso mesmo, estou sentindo falta de ficar perto dela. Falta de senti-la sugando toda minha energia, falta de ficar menos a vontade sabendo que ela também estar ali, tão perto. Quem sente falta daquele diabo? Provavelmente eu.

É praticamente fim de expediente, e cheguei à conclusão de que não bastou a chamada de atenção de Miranda pelo que fiz em Paris, ela está se vingando, não é possível que tenha outra explicação.

— Merda! Quem é o louco de me ligar enquanto estou com as duas mãos ocupadas, inclusive a boca? Sim, estou carregando uma sacola pequena com a boca.

Apenas ignoro o barulho chato que o celular faz, e sigo pela faixa de pedestre.

— Ela já foi? – Jogo as roupas que trouxe em cima da mesa de Emily.

— Não, em reunião com Clacker.– Emily sussurra sabendo que Miranda tem ouvidos de morcego. O animal que possui uma super audição. Morcego, noite, treva... Não é por nada não, mas...

Nunca fui a fim de filmes de vampiro.

Meu celular toca mais uma vez, olho para tela e vejo que é Nate. Vontade nenhuma de atender, mas como sei que preciso ser mais maleável, e que não estou sendo um ser humano fácil nos últimos meses, resolvo atendê-lo.

— Ei Andy, podemos jantar hoje?

— Não sei Nate, porque não deixamos para o final de semana?

— Tenho uma surpresa para você. – Sua voz é dengosa.

— Vai fazer igual ontem, caso não saia no horário que você supõe que devo sair? – Foi inevitável não alfinetar, eu ainda estou extremamente chateada com ele. E sou um pouco rancorosa sim.

— Prometo me comportar caso você demore.

— Combinado, Nate, preciso desligar. – Não espero ele se despedir.

Olho para modelo que estava saindo da sala de Miranda, a nova capa da revista será com ela. E uau, ela é tão... Alta.

Será que eu serei queimada pela inquisição da moda, caso diga que ela tem rosto andrógeno? É que eu nunca entendi o conceito de beleza para moda...

Eu espero que não, só sei que nunca me senti tão baixa perto de uma modelo, como me sinto agora.

— Miranda, as amostras de tecidos, as saias do James Holt que você pediu. Os laços das meninas.

Era demais dizer um obrigado? Claro que é.

— Meu jantar com Massimo foi confirmado para as sete?

— Sim, Miranda.

— Café!

Por que ela não pediu quando eu estava na rua?

Reviro os olhos e sigo em busca do maldito café. Talvez eu esteja saturada.

Meus olhos estavam tão cansados, jantar fora com Nate é tudo o que menos quero, mas prometi, e tenho sido tão negligente com ele, com certeza ele ficaria furioso, caso eu disse apenas para ficarmos em casa. Seria bom também se ele não estiver lá fora me esperando.

E então eu saio do prédio e lá estar ele, apoiado em um carro qualquer, jeans lavado, tão lavado que já tinha perdido sua cor original, um casaco de frio com algumas bolinhas de pelo, sapato que pela misericórdia, desde quando passei a ser tão critica com as vestimentas assim?

— Olá, garota Miranda? – Ele provoca me puxando pela cintura.

Reviro os olhos e retribuo o selinho que ele me dar.

Ele parece feliz, o que será que aconteceu?

— Vamos?

— E onde será esse jantar?

— Em um lugar maravilhoso, Michelin, por sinal.

— E onde você conseguiu dinheiro para ir á um restaurante Michelin? – Semicerro meus olhos.

— O chefe de lá foi meu melhor professor, e temos uma amizade... E como hoje é um dia especial para mim, ele me convidou para jantar lá, com direito a uma acompanhante de olhos grande da cor de chocolate. – Ele beija meus lábios. Desde quando o beijo dele mudou?

Seguimos para o restaurante. Estou muito curiosa para saber qual será essa surpresa, a qual o havia deixado tão entusiasmado assim. Ele parece até aquele Nate da época de faculdade.

Ele segura minha mão e sorrir debochado ao avistar Miranda também jantando ali. E eu só me pergunto o porquê desse comportamento, ele pensa o quê? Que Miranda é uma ameaça para ele?

Sinto meu rosto corar quando os olhos de Miranda se prendem em nós. Uma das sobrancelhas arqueada.

Tenho certeza absoluta que ela está se perguntando o que e como conseguimos estar aqui, nesse ambiente tão chique.

E sabe o que é mais pilhério? É que nossas mesas são praticamente uma de frente para a outra. Porém, se o restaurante fosse um cateto, formaríamos a hipotenusa. Reviro meus olhos, e olho para Miranda. Ele está levando à taça de vinho tinto a boca. Por que ela faz isso em câmera lenta? O gole é tão imperceptível, que nem parece que ela tomou algo, se não fosse pela deglutição. A pele de seu pescoço me parece tão fina. O sorriso milimétrico que ela dar ao apreciar o sabor do vinho, e maneira que pisca os olhos é tão lindo, nem parece que é um demônio de saia Prada.

Bem que dizem que vinho esquenta, seu tórax está ganhando um rosado lindo. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora