E aqui, nessa carta, lhe aviso que para que aquele miserável te deixasse em paz, o ameacei, e por fim ele partiu. Mas não se preocupe, ele segue com o trabalho em Boston, mas se ousar machucar você novamente, ou se aproximar de você, o quadro muda. Essa carta está ficando tão grande que talvez você não entenda tudo o que quero dizer, Andréah, nem eu mesma entendo.
Nunca foi fácil para mim, falar sobre emoções, sentimentos. Chega a ser engraçado, pois, quando se trata do profissional, eu tenho as palavras certas, e questões de segundos eu consigo elaborar qualquer resposta, e resolver qualquer situação, já o sentimental, eu não sou capaz de elaborar uma frase direito, pois, eu simplesmente travo e com isso, acabo sendo taxada como alguém fria. E quando você flagrou o Stephen reclamando da minha frieza. Apertando-me o braço, assim como Nate fez com você, eu me senti tão diminuída, Andréah, eu senti que ali, você estava vendo a verdadeira face de uma Miranda que esconde a todo custo o que realmente é no lado pessoal. A minha vida é como um cubo mágico apenas com um lado perfeito, e você já sabe qual é o lado perfeito, e os outros, eu tento sempre ignorar, o único lado que eu tento organizar as cores, é o lado materno, tenho muitas falhas, cometo muito erros com elas, ás vezes sou ausente, mas nunca desisti de tentar deixar as cores desse lado igual, já as outras, relação amorosa e a de amigos, eu nem tento mais, pois, eu sei que no final eu sempre acabo bagunçando, e era sobre isso que ele usava contra mim, o meu lado bagunçado, e para não perder mais um marido, mas um padrasto e fazer minhas filhas passarem por todo inferno da impressa sobre a mãe que é incapaz de manter um casamento, eu me submetia a aceitar todas as falas, ofensas e humilhações que Stephen me causava. Calada, humilhada, pequena, apenas por medo, medo de bagunçar um lado que já estava organizado e outro em organização, eu fechei os olhos para os abusos psicológicos e me sentia culpada por despertar a ira dele. Mas, eu te achava tão parecida comigo, que precisei o mandar partir, para você não deixar o seu namorado voltar para você. Se você não tivesse nos flagrados, provavelmente ainda estaríamos juntos, mas eu precisava te mostrar o que se deveria fazer quando um homem tentasse lhe agredir. E acredite, ele pagou caro pelo tapa que deu em você, e até custo acreditar que você se colocou na minha frente para me proteger.
Lembra-se da primeira vez que você foi entregar o livro? Você e esse maldito costume de flagra situações que não deve (rsrs) eu estava sem sinal, e o estresse dele foi apenas por eu não ter podido ir ao jantar que havíamos combinado. Mais uma vez ele me fez sentir péssima esposa, péssima mulher. E eu tive que me explicar para ele, e quando você me viu justificando, eu senti meu lado organizado ameaçado e então, mesmo no meu íntimo, sabendo que você iria guardar apenas para você. Eu lembro que nesse dia, depois que você foi embora, e os ânimos já haviam se acalmado, na hora de dormir, bem... aconteceu, e ao termino, ele fez questão de lembrar o quanto sou ruim de cama, o quanto meu corpo vem decaindo, e o quanto sou seca e me aconselhar ir ao médico, perguntou porque eu não escondia meu cabelo branco. Eu agradeci os conselhos dele apenas para não iniciar mais uma briga, eu engoli a minha soberba que eu uso como editora chefe, a minha imponência para descontar em você, eu tive que lhe dá uma tarefa impossível, eu tinha certeza que você não conseguiria, mas, mais uma vez a garota atrevida me surpreendeu, ali, vendo seu jeito atrevido, começou a despertar sentimentos em mim que no começo, apenas pensei que fosse orgulho em saber que você estrava entregando tudo que prometera na entrevista de emprego. Principalmente, quando os dias foram passando, e eu não ouvi burburinhos sobre o que você havia visto, eu não tinha me enganado ao seu respeito, e foi ali que meu olhar sobre você estava mudando. E quando fizemos amor à primeira vez, todas as reações que eu tive durante o ato, fora contraria do que todos os homens que já tive, reclamavam. Eu também fiquei confusa, Andréah. Antes de você, eu acreditava que era seca, eu era menos mulher, que eu era incompleta por não ter mais meu útero e por isso eu era tão amarga. Mas a cada toque, a cada caricia, a cada sensação, você fazia desabar o muro que eu acreditei ser real em mim. Eu me vi molhada, eu me vi chegando ao ápice, eu me vi gostando de sexo. Até então, sexo para mim, era apenas algo fisiológico para procriar, e como eu já não tinha mais útero, não me interessava fazer, fazia por obrigação de esposa. A verdade, é que eu sempre odiei o sexo, até fazer com você. E aqui, em Milão, quando você se declarou para mim, e disse que era apaixonada por mim, eu não acreditei, como uma pessoa como você se apaixonaria por uma mulher como eu, velha, de cabelos brancos, que muitas vezes Stephen me aconselhava a pintar? E você se explicou e me disse coisas que nunca ninguém havia me dito, eu vi no teu olhar, sentimentos que nunca ninguém me deu quando me elogiavam, eu vi ali, que quando você fugiu, não foi por arrependimento e sim por incompreensão. Eu senti tanta verdade, tanta felicidade, que eu me entreguei a você como nunca havia me entregado a outro alguém. Eu tive felicidade com você, que eu já havia aceitado que nunca teria, Andréah. Eu tive os melhores dias da minha vida amorosa com você, eu pude me olhar e encontrar em mim, falas, atitudes que eu já nem lembrava que tinha, eu pude ter uma crise risos com o nariz melado de brigadeiro que eu nunca pensaria que iria ter, afinal, quem se atreveria melar o nariz de Miranda Priestly? Só você... Foi uma situação tão banal, eu sei, parece bobo, mas foi tão significativo, me fez sentir humana novamente, me sentir viva. Fez-me sentir eu. Coisa eu não fui condicionada a ser. Nenhum homem jamais se atreveu a puxar os meus cabelos como você, ou falar palavras chulas como você, me colocar em posições que você colocou, ou me deixar molhada como você deixou. Tudo que vivemos aqui, nesse quarto de hotel, foi fora da realidade Andréah, mas, infelizmente tenho que voltar para a realidade, e eu não tenho Andréah, como sustentar essa Miranda que você conheceu aqui, eu não tenho brio para isso, você está certa quando disse que eu sou pérfida, eu sou uma farsa, e só me visto mesmo como rainha do gelo, eu guardo emoções, sentimentos, eu só não me abalo no profissional, no mais, eu sou medíocre e covarde, e não posso arriscar viver algo com você, pois, eu sei que irei te machucar, você merece alguém que te mostre para o mundo, que não tenha receio de mostrar sentimento, que consiga falar para você, todas as coisas que eu disse aqui, olhando nos olhos, e não que troque os horários das nossas passagens e nem que fale por cartas, para fugir de você. Você merece mais que uma dama de ferro, que um diabo em Prada. Você merece alguém da sua idade e que lhe faça feliz, alguém sem uma bagagem tão pesada para carregar, alguém por inteiro. Você merece muito mais que eu, você nasceu para brilhar, para viver, você seguir em frente, se apaixonar, viajar, crescer profissionalmente, como alguém que faz a mesma busca de ascensão, você alguém que não tenha vergonha de se mostrar.
Espero que um dia você me entenda, Andréah, mas eu preciso partir sem olhar seu rosto de decepção. Com carinho, Miranda Priestly!
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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.