Qual é o nosso estado normal?
A gente tem um estado no normal, não tem? Porque eu nunca sei, e hoje não poderia ser diferente, porém, meu nível de divagação está em sua alta plenitude.
Entramos no avião, Miranda senta no lado direto, mais a frente e eu no lado esquerdo um pouco atrás dela. A viagem será longa. Por final, qual a distancia de Paris, para New York? Eu não faço ideia, nós, americanos sempre fomos péssimos em geografia. Sorrio de mim mesma. Por um momento, esqueço completamente que o tempo não tá dos melhores. Miranda se acomoda, não dando ouvidos algum para o que a comissária fala. Acredito que ela já tem decorado todas as falas, viaja tanto. Confesso que tenho inveja do seu passaporte.
Por algumas frações de segundos, sinto meu estômago prensar meu diafragma por causa do avião decolando, e é aí que eu volto a pensar no quanto o tempo tá fechado.
Não é que eu tenha medo de avião, claro, eu tenho, mas não para ficar assim do jeito que estou. E justamente por não saber o motivo de está assim, é que parece que as coisas pioram.
E na tentativa de distração, começo a personalizar o celular novo. Não dá muito certo, pois logo estou nervosa novamente. Bufo e me mexo pela milésima vez, sentindo-me incomodada até pelo cinto. Respiro profundamente, ligo a tv individual na tentativa de mais uma vez de me acalmar.
Eu já não sei se é realmente medo do tempo, ou se havia algo, talvez o estresse, os dias sem dormir direito, o meu surto em quase ficar longe de Miranda, eu não sei... apenas sei que o mal tempo é um agravante que corrobora para que minha respiração deixe de ser automática, desabotoou dois botões da minha blusa social branca, em busca de mais conforto e de ar.
É engraçado que nossa respiração é ótima, é perfeita, até que começamos a prestar atenção nela, de repente, torna-se algo estranho, me mexo novamente. Eu havia parado de me mexer? Nem sei mais. Céus, eu sei que aqui em cima, a oxigenação é menos, mas será que já não está fora do normal?
Caramba! Preciso tirar meu cinto, e assim o faço. Olho para os lados em busca da aeromoça, porém, não a vejo. Eu quero respirar!— Andréa! – Miranda exclama, como se me puxasse para outra dimensão, e para mim, naquele momento com certeza é a melhor do que a que eu estava.
— Sim, Miranda? – Questiono ao me aproximar da sua poltrona.
— Preciso repassar a agenda dessa semana. – Ela profere baixo, enquanto fecha a persiana da janela ao seu lado.
— Oh! Claro, Miranda. – Volto para meu lugar o mais rápido possível para pegar minha bolsa.
Iriamos revisar pela terceira vez a agenda dessa próxima semana? Não estou achando ruim, para mim, nesse momento, qualquer distração, seja até mesmo trabalho, é bem vinda. Volto para onde Miranda estar, sento ao seu lado e começamos a repassar sua agenda.
E nesse período, aquelas sensações ruins que eu estava sentido, havia sumido como um passe de mágica.— Busque encaixar um horário com Demarchelier na quarta-feira. – De repente me pego hipnotizada pela forma que seus lábios fazem um bico ao falar o nome do Patrick Demarchelier.
Porém, a minha divagação é interrompida pelo comandante pedindo para ajustarmos os cintos, pois passaremos por uma turbulência. Sorrio audivelmente nervosa.
Mas, imediatamente coloco o cinto, e nem passa pela minha cabeça voltar para o meu lugar, Miranda calmante coloca o dela, e a minha respiração que já havia ficado no automático, volta a ficar um trabalho difícil de fazer.
O avião começa a “tremer”, e eu sinto como se tivesse uma goma presa em minha garganta.
Meus olhos que já são grandes; Sinto ficarem ainda mais arregalados, levo minha mão em busca de tranquilidade e encontro uma mão ao meu lado, no momento não me importa que: não tocar em Miranda. É uma regra fundamental para permanecer no trabalho, e agarro sua mão. A turbulência fica ainda mais forte, e conforme o medo cresce dentro de mim, finco minhas unhas na pele da mais velha.Fecho os olhos com forças e peço para qualquer divindade existente nos proteja. Sou nova demais para morrer, tenho desilusão para viver.
E assim como começa, a turbulência passa, ainda bem que a movimentação do ar devido à diferença de temperatura e pressão das moléculas de ar que geram correntes de ar ascendentes e descendentes, que fazem o avião balançar, é passageira.— Gostaria de chegar a minha casa com todos os membros do meu corpo, Andréa.
E então eu olho para Miranda com o cenho franzido. De que raios essa mulher está falando?
Ela está com uma das sobrancelhas arqueadas, me olhando com cara apática. Como se tivesse falado o óbvio.
Desço meu olhar para seu colo, ele está levemente rosado — nossa! Nunca tinha visto de tão perto o quanto ela tem sardas espalhadas. Lindas!— Sua respiração também parece que não está mais no automático.
Desço ainda mais o olhar, e então vejo que minha mão está sobre a dela. As pontas dos meus dedos estão levemente brancas de tanta força que eu faço nelas. E quando o tino de sanidade volta a tomar conta do meu ser, subo o olhar em busca do seu olhar. Ela está exatamente com a mesma cara. Mas é claro que estaria. Ela não é a mística do x-man.
Olho novamente para minha mão sobre a dela, e só agora sinto o quão quente é. Solto, e vejo que cometi um pecado, machuquei aquela pele tão linda e delicada, vejo o sangue brotar em umas das marcas das minhas unhas. E sentindo-me cruel por ter machucado aquela mão tão linda e quente, a seguro e trago em direção a minha boca, beijo na tentativa de sarar. Que ela não sinta dor.Quando eu era criança, e me machucava, a minha mãe sempre dava um beijo para sarar logo. Agi de maneira natural, sem muito pensar, apenas não queria ver aquele machucado ali nela, principalmente ter causado aquele machucado.
Imediatamente solto sua mão e abro minha bolsa em busca de um curativo. Reviro os olhos ao me dá conta que só tenho com estampa das Meninas Super Poderosas. Então me sentindo ridícula, e meu rosto queimando de vergonha, escolho o da Docinho, que combina mais com Miranda. Cubro o machucado que fiz. Não ousei olhar mais para sua cara. A desvantagem de saber ler as pequenas expressões que Miranda faz, é que com certeza, se eu olhar para ela, verei reprovação em seu olhar.
Levanto nervosa, volto para meu lugar, voltando a sentir falta de ar, inquietação, palpitação, nervosismo. Minha mente está tão bagunçada que eu sequer consego assimilar tudo o que eu havia feito. Só tenho certeza de que tem grande probabilidade de eu fazer parte das obras Vanitas.++
Espero que gostem!
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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.