Eu senti uma goma quente vir até minha boca e engoli novamente quando ouvi a voz de Miranda reclamando da incompetência da Emily visto que sua esteticista desmarcou. A voz que a principio vinha longe, agora já se aproxima cada vez mais.
— Eu pedi uma brasileira, esbelta e limpa, veio uma apática e suja, será que é pedir muito que as pessoas façam seu trabalho?
Eu estou a ponto de ter uma sincope. Não sei como agir, não sei se devo ficar de pé esperando que ela me der seu casaco e bolsa. Nem são mais na minha mesa que ela joga eles. Por que eu estou tão nervosa?
— O quê que você está fazendo aqui? – Ela questiona depois de ter ficado paralisada por longos e eternizante segundos. Seus olhos ainda estão surpresos.
— Bom dia Miranda! – Desejo entre gagueira e com meus lábios trêmulos pelo nervosismo.
Ela parece se recompuser, volta para sua postura de líder predadora, passa a mão arrumando seu topete e tira o casaco jogando juntamente com a bolsa em cima de Emily.
— Ah! Emily, ligue para Marcus para que adiante a reunião. – Ela entra em sua sala.
Solto o ar que estava prendendo sem sequer perceber. Enquanto Emily guarda as coisas de Miranda, ligo para Marcus. Toda a demanda foi para cima de Emily, e não acho isso justo.
— Andréa. – Meu coração quase para ao ouvi-la me chamar.
Respirei fundo tentando transparecer o mais profissional possível, e com o bloco e caneta em mãos, sigo para sua sala.
Miranda estava com a revista da Vogue aberta, seus óculos na ponta do nariz, o cotovelo apoiado à mesa e a mão segurando o queixo com o dedo indicar nos lábios, causando curvatura neles. Incrível e fascinantemente linda.
— Pois não, Miranda. – Minha voz soa como um bichinho amuado e com medo.
Ela não se move, não emite nenhum som, ela se quer parece estar ali. Simplesmente segue analisando uma das paginas daquela revista e isso me deixa ainda mais nervosa.
— Pensei que Nigel havia lhe instruído há ficar uma semana em repouso, Andréa. – Sua voz estar rouca, com mais intervalos entre as falas. Pelo que conheço dela, ela não está nenhum pouco confortável. — Não quero que minha revista vire esse espetáculo onde minhas assistentes competem quem fica pior física e esteticamente.
— Mi-randa, bem, como você... Eu não posso ficar uma semana toda sem trabalhar, Miranda, e eu estou bem, a maquiagem escondem bastante. – Tento!
Miranda sabe que estou nervosa, Miranda e envergonhada, constrangida, sabe também que eu não quero perder meu emprego, Miranda sabe que a gente precisa falar, e eu, será que sei? Mesmo querendo, eu não sei como iniciar, e também não quero que se sinta pressionada... Mas eu preciso.
Posso decididamente tá dando um tiro no meu pé nesse exato momento, mas é o que meu coração tolo pede para que eu faça, então me viro, vou até a porta e tomo a liberdade de fechá-la, qual só vi fechada duas vezes nesses longos meses em que trabalhei com ela.
Viro para voltar e Miranda tá com as costas completamente encostadas na cadeira, seu queixo está ainda mais levantado e uma das suas sobrancelhas agora se encontra arqueada, ela tira os óculos lentamente, coloca-o sobre a mesa.
— Miranda! – Exclamo sentindo meu rosto completamente vermelho. Olho para ela.
Miranda arqueia ainda mais a sobrancelha e semicerra os olhos.
— Sobre o que aconteceu entre a gente. – Eu sinto minha voz sair delgada.
Ela parece se vestir de arrogância ao perceber do que estou tentado falar, e isso me enche de insegurança. Calo-me e desvio o olhar, o nervosismo toma conta de todo o meu ser, começo a morder meu lábio inferior grosseiramente. — É... Foi a minha pri
— Andréa, o que aconteceu, aconteceu, foi um erro e é tanto que você vol...
— Espera, deixa eu falar, por favor, eu consigo falar. – Pedi também a interrompendo.
— Não! Você já tomou demais o meu tempo, Andrea, e eu posso te demitir por isso. Espero que você esteja ciente de que o que aconteceu ali foi atípico, e sem significância, mas que precisa ser mantido em total confidência. – Ela se levanta, dá a volta na mesa, se escora nela cruzando os braços. — Se você quiser uma indenização por causa desse incidente, eu aceito pagar o que for para não ver meu nome estampado nas capas de revista que a dama de ferro dormiu com seu funcionaria entre outros títulos ainda mais decadentes, Andréa.
Eu nem consigo descrever se estou em choque, se estou magoada, ou se estou surpresa, provavelmente é uma mistura de tudo, com forte toque de raiva. Eu sinto meu coração apertar, arder, a goma quente volta para minha boca, meu estômago parece ter enchido de ácido sulfúrico. Ele Queima! Meus olhos não estão indiferentes ao que estou sentindo por dentro.
— Miranda, eu jamais faria algo para prejudicar, ou expor você. – Consegui falar, mesmo com a voz carregada de decepção.
— Ótimo! Isso significa que não estava enganada sobre o seu caráter. – Ela volta para sua cadeira.
Miranda volta a colocar os óculos no rosto, pega a revista e folheia agindo naturalmente, como a bela e insensível filha de uma puta que ela é.
Eu não tenho direito de me sentir magoada, eu sei que aquilo não significou nada para ela, eu já sabia, sei que foi apenas sexo, que aconteceu sem um dialogo, que foi calor do momento, mas para mim, significou e muito.
Eu esperava o que? Que ela me ouvisse falar todas as baboseiras que eu pretendia falar? Que depois que me declarasse para ela, ela também se declararia para mim e iríamos viver uma historia de amor proibido? Ah meu Deus, como eu sou ridícula.
— Isso é tudo! – Ela profere me tirando do meu devaneio.
Eu sequer consigo me mover, a sensação que tenho é que se eu der um passo, desmorono. Eu só estou tão cansada, talvez vir trabalhar não tenha sido mesmo uma boa ideia. Por que a sala está ficando tão pequena? Por que a minha cabeça diz que eu devo falar algo a ela? Por que eu não consigo sair da porcaria desse lugar?
Eu nem sei em que momento foi que comecei a chorar.
— Sente-se, Andréa! – Ela segura em meus braços. Quando foi que ela se levantou de sua cadeira? — Olha para mim! – Eu olho para aqueles olhos azuis tão calmos como o céu, e agora eles nem parecem tão gelados como alguns minutos atrás. Ela me dar da sua própria água diretamente na minha boca, como se eu fosse uma criança.
— Me desculpe Miranda, isso não vai se repetir. – Pedi ao me dar conta de toda a situação que eu acabara de causar. — Você precisa de mais alguma coisa? – Tento disfarçar minha voz embargada.
Ela balança a cabeça em negação, pego meu bloco e caneta que eu nem vi quando deixei em sua mesa e saio às pressas em direção ao banheiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.