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O meu banho não durou muito tempo, pois eu estava com medo, vai que algum raio caísse sobre mim. Minha avó nunca deixou ninguém tomar banho enquanto chove, ou esteja trovejando... Falando em chuva, ela começou a cair sem timidez.

Ao sair do banho, encontro uma muda de roupa de dormir em cima da cama. E confidencio que me sinto de certa maneira acarinhada. Sento com cuidado na beira da cama. Pego com cuidado a camisola em tom pêssego de seda com detalhe de renda no mesmo tom do tecido. Surpreendo-me que junto da camisola e do hobby, também tem uma calcinha, branca, delicada, La Perla. Talvez nesse momento pareça uma idiota sorrindo para as peças de roupa, levo ao nariz, e tem cheiro de novo. Pensei que tivesse o cheiro de Miranda.

Tem ideia de que estou na casa de Miranda? Que irei usar roupa dela, que irei dormir na casa dela? Isso é muito assustador, principalmente por pensar que eu quase a abandoei. Quer dizer, que eu quase me demiti da Runway e ela poderia acabar comigo pela forma que eu quase fiz.

Não vesti a calcinha, eu detesto dormir de calcinha, coloquei apenas a camisola, o hobby, e fiquei pensando se sairia do quarto para ir comer algo. Estou sem comer nada desde o almoço.

Levo a mão no peito ao me assustar com o barulho que o vento fez na janela do quarto. Sigo com cuidado até a porta de saída, abro com delicadeza para não fazer barulho algum, e quando coloco minha cabeça para fora, para ver se o corredor está vazio, assusto-me com a claridade de mais um raio. São Pedro deve está de mal humor.

Como não vejo ninguém (Miranda Priestly) no corredor, sigo por ele nas pontas dos pés em direção à cozinha. A sensação que tenho é que estou dentro de uma casa daqueles filmes de terror.

Desço as escadas sentindo o frio da noite chuvosa na minha pele apenas protegida pelo fino hobby. Arrepio-me! Meu estômago faz barulho.

Sorrio nervosa ao ver que me perderei dentro daquela cozinha. Eu sequer consigo encontrar a geladeira, então sigo abrindo qualquer porta que seja da altura de uma geladeira, e a encontro. Tiro o necessário para um sanduíche e inicio o preparo.

Eu não consigo relaxar com a possibilidade de que Miranda pode aparecer a qualquer momento. Eu conheço minhas limitações e sei que não saberei como agir perto dela. Céus, Miranda já me deu tantas concessões. Sinto meu rosto queimar ao me lembrar do episodio do avião. Não serei hipócrita e dizer que não me sinto a mais capacitada entre eu e Emily, já que com Emily ela nunca foi tão permissiva assim. Pelo menos meu trabalho eu faço bem feito a ponto de Miranda me dar mais abertura com ela.

Levo a mão ao peito mais uma vez por me assustar novamente com o barulho do vento nas janelas. Tentei seguir ignorando o meu medo. Meus pensamentos voaram novamente até as palavras de Nate em relação a nós, Miranda e eu...

Comprimo as sobrancelhas ao me dar conta do que ele estava querendo realmente dizer quando diz que eu estava me deitando com ela. O suco que estava em minha boca vai para o balcão e eu me engasgo com o pedaço do sanduíche que iria para meu estômago.

— Nate pensa que... – Arregalo os olhos e sinto meu rosto praticamente pegar fogo.

E eu não tenho a mínima ideia do porque estou rindo envergonhada disso. A chance de isso acontecer é praticamente nula, será que ele não sabe que Miranda Priestly é inalcançável? Que eu sou hétero... Ter um caso com Miranda... Sorrio balançando a cabeça em negação. Isso é absurdo!

Organizo as coisas e volto para o quarto tentando fazer o mínimo de barulho possível, tiro o hobby e por fim me afundo por debaixo do edredom sentindo o conforto daquela cama enorme.

Abro os olhos com medo do barulho altíssimo de mais trovão, e logo volto a fechá-los tentando ignorar o mundo desabando lá fora, e na minha cabeça.

Acordo com a sensação de que tem um elefante sobre meu peito, acho que é um ataque cardíaco, eu não sei, eu só não estou conseguindo respirar direito. Sento-me assustada, procuro meu celular e vejo que ainda é uma da manhã. Ouço a chuva cair ainda forte. E um medo inexplicável começa a tomar conta de mim, não é apenas da chuva, e eu não consigo explicar em o motivo de tanta aflição e inquietude. Tento voltar a dormir, mas todas as posições são desconfortáveis, talvez esteja estranhando a cama.

Depois de longos minutos tentando controlar meu coração, minha angustia, meu medo, minha ansiedade, resolvo me levantar para respirar melhor, mas o quarto agora já nem parece mais tão grande, e a cada minuto que se passa, ele parece ficar ainda menor. Sigo em direção à porta e fico no corredor tentando ignorar volta e meia à claridade dos raios invadirem o corredor pela janela de vidro. Fico ali sem saber o que fazer, andando de um lado para o outro como uma barata tonta.

— O que você está fazendo? – Quase dou um salto no ar ao ouvir a voz de Miranda.

— E-eu, eu, é, desculpa. – Sinto meu coração batendo da minha garganta.

— Você está bem? – Sua voz me pareceu preocupada?

— Sim! – Respondo balançando minha cabeça em negação.

Fecho os olhos e os ouvido por causa de um trovão estrondoso. Não vai passar nunca?

— Vem. – Sua voz sai baixa.

Eu não penso nem duas vezes, e vou. Estou com medo, casa estranha, aflita, nervosa, estressada, cansada, e esse maldito temporal tirando a pouca tranquilidade que eu já não tenho.

Entro em seu quarto e o cheiro dela toma conta das minhas narinas. Ela se deita do lado direito da cama, e eu fico parada observando até ouvir mais um barulho de trovão e corro para debaixo de seu edredom.

Se eu não estava conseguindo relaxar no outro quarto no mesmo teto que Miranda, aqui, na cama dela é que piorou tudo.

Fico ali travada na cama olhando para o teto e sentindo meu pescoço, rosto queimarem. A cama é macia, cheirosa, tem cheiro dela, é aconchegante. Meu Deus! Eu estou sem calcinha. 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora