— Não é como se ela estivesse diferente. Ela continua ela sabe? Mas, mostrando um lado que quase ninguém já viu. Isso é engraçado, é engraçada a maneira de como ela diz que está com saudades sem usar essa palavra, é engraçada a maneira que ela pede por sexo. Ela não verbaliza, mas, fica mais provocante, e eu acho isso tão charmoso.
— Ai meu Deus que melação, você tá insuportável, chega.
— Não estou de melação. – Reviro o olho sorridente, reclamo de sua fala.
— O que seu terapeuta acha disso, levando em consideração todos esses anos que você só falou tão mal dela? – Ele gargalha debochado.
— Bem, ele disse para eu tentar perdoar o passado e me permitir sentir o presente.
— Gostei disso. Agora vamos falar de mim? – Ele morde o dedo em ansiedade.
— Vamos! – Meus olhos brilham em ver meu amigo tão radiante.
— Estou com medo de algo sair errado. – Ele solta a franga em euforia, fazendo-me gargalhar.
— Cher tá com você, já deu tudo certo. E eu só quero que você seja feliz.
— Ainda não perdoei vocês por deixarem meu provador fedendo a sexo.
Meu rosto queima com sua fala e ele gargalha.
— Suas promiscuas.
— Você não queria falar de você?
(...)
Olho-me no espelho e me sinto deslumbrante, vestido rose brilhoso, faz eu me sentir extremamente gostosa.
— Andy, ajuda aqui! – Caroline pede.
Olho para Miranda que tá ajudando Cassidy a se arrumar, e repito seus atos em Caroline. A batida na porta do quarto onde Nigel montou para nos arrumarmos, nos faz apressarmos mais. Sabemos que é o fotografo. Olho para elas; e mais lindas impossível, elas herdaram a beleza da mãe. Impecáveis!
— Vocês estão lindas.
— Sabemos! – Elas falam em uníssono.
Balanço a cabeça em negação, indo em direção à porta. O fotografo adentra, literalmente já nos fotografando.
— Parece pose de família. – Cassidy diz debochada, me deixando sem graça. Estou ao lado de Miranda, e as meninas, uma de cada lado de nós duas.
Mas algumas sessões de foto, e logo a promoter nos chama, as meninas entram primeiro, carregando porta agulhas, representando o que Nigel ama. Tudo tão perfeito e minimamente arquitetado.
Assim que as garotas chegam ao altar, é nossa vez. Eu e Miranda, lado a lado, na frente de estilistas, de editores, modelos, e pessoas importantes da mídia nos assistindo. Sinto um frio na barriga, e não consigo disfarçar o sorriso que toma conta da minha face ao sentir seus dedos procurando entrelaçar os meus. Isso não estava no script. Eu a olho. Ela retribui com cara de paisagem. Ela sendo ela... Flashes e mais flashes sobre nós e isso parece não preocupá-la. E por último, os noivos de terno branco e gravata dourada brilhosa, estavam espetaculares, eles caminham até o altar ao som de We Exist, do Arcade Fire. Esse Hino foi aclamado na comunidade LGBT por falar de igualdade e autoafirmação. Realmente Nigel quis causar, quis protestar. Não tem como não se emocionar, é um grito de luta, um grito de resistência. Como diz a própria letra: "Falando como se não existíssemos, mas nós existimos. Pai, é verdade, sou diferente de você, mas me diga por que eles me tratam desse jeito".
Não é que eu seja emocionada, é que realmente tá como ele disse, emocionante.
A cerimonia começa e termina perfeita, até vi que Miranda também se emocionou, mas ela disfarça muito bem.
No salão de festa, não poderia ser mais animado. Eu tentei não ficar todo tempo na sombra de Miranda, afinal, não temos nada, e ao mesmo tempo temos tudo. Não rotulamos, não prometemos nada, apenas estamos deixando acontecer. Mas as trocas de olhas que contracenamos é inevitável. Eu estou feliz, estou curtindo a festa que provavelmente vai até o amanhecer.
— Todos para o meio da pista! – Nigel já visivelmente alegre demais pela bebida pede no microfone ao cessar a música.
E então ele levanta um buquê que até então não foi visto na cerimonia. Confesso que me senti acanhada, e me afastei um pouco ao notar Miranda também se afastando bem para trás.
Ele faz contagem regressiva, ameaça jogar antes, engana as mulheres nos meio da galera loucas para pegarem o buquê, e quando por fim ele o joga, cai em cima dela. Todos os olhares e flashes se voltam para ela que segura o buquê enquanto revira os olhos achando aquilo ridículo demais.
Miranda levanta o buquê sem jeito, e logo puxa um garçom e o entrega falando algo que de longe é impossível eu ouvir. A música volta a rolar e as pessoas dançarem e curtirem a festa.
Sento-me em uma cadeira para tirar os sapatos e colocar o chinelo.
— Vamos pegar um ar? – Sua mão trisca minhas costas. Sorrio para ela balançando a cabeça em concordância.
Miranda segura minha mão, me arrastando para fora dali. Realmente eu preciso de ar, sinto-me tonta.
— Aceita firma um múnus comigo? – Ela me oferece o buquê que eu sequer percebi ela pegando.
— Você tá me pedindo em namoro? – Pergunto enquanto caminhamos lado a lado, sem pegar o buquê.
— Namoro é uma palavra muito jovial para alguém da minha idade. Mas, como eu não posso voltar atrás para saber como estaríamos se eu não tivesse me acovardado, podemos tentar fazer um novo recomeço.
— Sim, você está me pedindo em namoro.
Miranda revira os olhos assim que eu paro para ficar de frente para ela.
— Algum problema cognitivo que te impeça de formular uma resposta para o meu pedido? – Ela morde o lado interno do lábio inferior, formando logo em seguida um bico. Ela tá nervosa.
Pego o buquê de suas mãos, balançando a cabeça em concordância e sorrio ao perceber sua tensão esvair. Do jeito dela, ela é engraçada.
— Se não tivemos tão expostas, eu beijaria você para firmar minha resposta. – Falo baixo e pausado.
— Bem, eu acredito que consigo lidar com a pagina 6.
Meus olhos brilham, entrelaço seu pescoço e nos encarando novamente fagulhas estrelares nos rodeia aplaudindo nosso beijo calmo e apaixonado.
Talvez seja disso que se trata a vida, entre erros e acertos, surtos e nervosos, ódio e perdão, choro e sorrisos, sempre vai existir a vontade de amar e de acertar. A gente muitas vezes erra tentando acertar. Machuca quem não queremos machucar porque somos humanos, e mesmo que mais maduros a gente nunca sabe o que vem depois, então temos medo de arriscar, pois a necessidade de agir como pessoas maduras nos sabotam a todo o momento nos faz esquecer que ainda estamos aprendendo. Sonhamos, fantasiamos, mas, nunca deixamos de nos surpreender e nem de esperar. Esperar o tempo que for até perceber que o que já doeu tanto, nem deveria ter doído tanto assim se fossemos mais atrevidos. Mas, não adiante lamentar, o importante é sempre tentar um novo recomeço e amar.
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Louca para Amar
RomansaAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.