"Você estava agradando a chefe de outra maneira" a pergunta do até então seu namorado desencadeou e trouxe para a superfície todos os pensamentos que eu mais inconscientemente ignorava e excluía, aquela fala me travou, mas, nada mais me travou do quê a surpresa em o ver agindo daquela maneira com você e eu ter que fingir ser indiferente sobre aquilo. Lembro-me que ao chegar a casa, mandei levantar toda a ficha daquele infeliz, tentando me agarrar a qualquer ocupação, apenas para não pensar o quanto aquela pergunta dele me fez enxergar o desejo que eu sento por você. Veja bem, eu, Miranda Priestly, cabelos brancos, pele deficiente de colágenos, duas filhas, dois divórcios e um terceiro dando sinal que se aproximava, interessada em uma garota com menos da metade da minha idade. Crise, só poderia. Agarrei-me a essa ideia ridícula, tendo em mente que nunca havia me visto sentindo atração por outra mulher. Senti ódio do seu namorado, não só por machucar você, mas também por tornar visível o que eu escondia dentro de mim, para mim mesmo.
E quando eu chego no dia seguinte, depois de uma noite sem dormir, é vejo seu braço daquele jeito, meu peito apertou. Como ele ousou lhe machucar? E como você o deixou fazer isso? Então eu percebi que eu também já tive hematomas iguais ao seu, e você me faria a mesma pergunta: Como eu deixaria alguém fazer isso em mim?
Eu tenho certeza que você se perguntaria, e mais uma vez eu estava vendo muito de mim em você. Peguei o celular, e mesmo que sem você saber, liguei para um dos muitos chefes de cozinha que tenho influência. Ele não te merecia, e você não precisava aceitar aquilo daquele homem tão pequeno, acelerei o sonho dele em ser chefe, mas, bem distante de você. E por ironia do destino, ele foi comemorar no mesmo lugar em que eu estava, e mais uma vez ouvi as palavras dele em relação a mim, a nós, um nós que só ele via até então, e que eu me recusava a ver. Eu nem sou capaz de citar aqui uma palavra que Massimo falou naquela mesa depois que vocês chegaram, pois, eu estava completamente focada em você, em cada vez que ele elevava o tom com você, em como eu estava me segurando para não ir até vocês e te levar para minha mesa e mandar aquele infeliz sumir antes que eu fizesse algo pior com ele.
E quando você se levantou e foi para o banheiro, eu não pensei duas vezes em ir atrás de você. Eu sabia, eu vi, o quanto você estava com medo, eu vi seu pedido de socorro quando passou pela minha mesa, seu olhar amedrontado, sua angustia, o mesmo olhar do avião. E você aceitou minha proteção, você me abraçou, mais uma vez derrubando outra barreira, você me despertou ali, e eu percebi mais uma vez que você me despertava sexualmente e como o destino estava esfregando isso na minha cara e eu me recusava aceitar. O teu abraço Andréah, me invadiu, me desbloqueou sensações que eu acreditava já estarem mortas dentro de mim. Ali, no banheiro daquele restaurante, vendo você chorar, sentindo seu corpo trêmulo, seus olhos assustados, seus medos aflorados, eu vi que você já havia quebrado todas as barreiras e aceitei ver isso. Você havia me conquistado.
Quando fizemos amor, naquela mesma noite, eu me senti mulher. Senti-me como nenhum homem foi capaz de me deixar. Sentir você, sentir teu gosto, sentir seu corpo e receber todas suas caricias, me fez sentir viva, sentir desejada, sentir de certa maneira, alguém menos frígida, ou um caso menos perdido. Sentir teu beijo doce e seus dedos delicados levou-me a um mundo que eu nunca havia ido antes. Mas, eu acordei e não vi você, e era tão cedo, e você tinha corrido de mim, hoje eu sei e entendo o motivo, mas naquele momento, só veio mais uma vez sua fala em Paris, e o quanto você tinha repulsa em se parecer comigo, comecei a me sentir rejeitada, e a me sentir um lixo por ter induzido você a dormir comigo, afinal, você estava vulnerável, você estava em meio de uma crise, e imaginar que você foi embora arrependida do que fizemos me deixou com um gosto amargo, apesar das sensações boas que aquele momento nosso me causou. Eu estava com vergonha do que induzi você a fazer, eu chorei percebendo a quão patética e fraca eu era. Eu chorei por perceber que minha armadura não tinha resistência a você, eu chorei por perceber que eu não tinha o controle tudo.
Eu só não imaginava que fazer seu namorado ir trabalhar em outro lugar iria te causar tanto dano, Andréah, confesso que se eu soubesse que ele agiria da maneira que agiu, eu não teria mandado darem a ele uma oportunidade de emprego em Boston.
Ah, querida, Andréah, mesmo ferida, mesmo me sentindo rejeitada, quando Nigel me contou o que ele havia feito com você, eu abandonei tudo o que estava fazendo para ir atrás de você, eu precisava te ver, eu precisava tocar, ver se seu coração ainda batia, e não te encontrar no hospital me causou um desespero tão grande, o desespero que eu só sentia quando algo de ruim acontecia com minhas filhas. Eu queria matar o seu namorado. Eu fui atrás de você na casa do Nigel, e meus olhos não aguentaram segurar as lágrimas ao te ver tão machucada, mais uma vez a culpa tomou conta de mim. Eu era a responsável, não respeitei o fluxo natural do destino e acelerei o processo dele em ir embora, e consequentemente isso o induziu a fazer o que fez com você. Eu não poderia me meter, mas eu me meti novamente, fiz acelerarem o chamado dele para Boston, mesmo que a minha vontade fosse matá-lo, ou fazer apodrecer na cadeia.
Eu só queria que você ficasse bem, mesmo me rejeitando, mesmo sentindo asco de mim. Eu ligava todos os dias para Nigel, desejando na verdade ligar para você. Mas eu não poderia, e eu sentia vergonha de ter induzido você a se deitar comigo, eu estava me sentindo tão perdida de mim, na vestimenta que criei para mim mesma, eu estava desorganizada, e mesmo assim, só queria que você ficasse bem. Eu já nem importava se o Nigel poderia desconfiar de algo, eu só queria a sua melhora, e quando você voltou para a Runway, mesmo sem estar recuperada, e quis conversar sobre a nossa noite, eu me recusei a ouvir da sua boca que tinha sido um erro, e como você não queria se parecer comigo novamente, principalmente naquilo, então antecipei e menti dizendo que foi um erro, me recusando a ouvir qualquer palavra sua, eu só queria que você voltasse para casa de Nigel e realmente se recuperasse e seguisse sua vida, "ao meu lado", mesmo que nada mais acontecesse entre nós, e foi isso que eu coloquei em mente, e você o fez. Você tirou o seu tempo e depois voltou. Não completamente recuperada, mas já mais forte, e o infeliz do seu ex voltou a te atormentar e quando você explodiu em minha sala, eu não sei, mas eu me blindei para tudo que você falou, eu só foquei que ele estava lhe perseguindo, eu me recusei a ouvir porque eu sabia que você estava tão desgovernada que jogaria na minha cara que eu tinha induzido você a dormir comigo, e eu não queria ouvir isso da sua boca, mesmo sabendo, eu só não queria. Não sei explicar como, mas, o fiz, e só voltei a ouvir, quando a vi sair da minha sala.
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Louca para Amar
RomanceAndréa tenta abandonar Miranda em Paris, mas minutos depois se arrepende, ainda confusa do porquê do arrependimento, tenta voltar, tenta continuar sendo assistente de Miranda e em busca de descobrir o que a prende naquela mulher fria e sem coração.