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Eu já estava com feeling que tudo isso poderia dar errado, a verdade é que tinha tudo para dar errado e eu fui teimosa. Mas caramba! Não teve quem que começou, foi algo mutuo, não foi? Por que estou me sentindo esse lixo que estou então?

Levo minhas mãos ao rosto. O choro é copioso.

— Six, querida! – Ouço a voz de Nigel invadir minhas confusões mentais. — Em qual cabine essa criança escondeu-se? – Sua voz sai engraçada.

Com o barulho do destravar da porta ao abri-la, logo ouço seus passos vindo em minha direção.

Eu me sinto um tanto tentada a contar para ele que não estou tendo uma crise de frustração, ou súbito de desespero, tristeza, seja lá o que for, por causa da minha situação com Nate, ou o que ele fez comigo, e sim pela maneira que Miranda me tratou, me reduzindo a nada, mas não consigo. Tenho medo. Então apenas o abraço apertado e choro em seu ombro, no chão de uma das cabines do banheiro.

— Eu vou chamar um taxi para você ir para meu apartamento, certo? – Ele sussurra carinhoso enquanto faz movimentos circulares nas minhas costas.

— Eu preciso trabalhar, já estou voltando ao eixo. – Digo para ele já bem mais calma.

— Miranda não vai gostar de ver você aqui, ela me exigiu que te levasse para casa, segundo ela, você não tem condições alguma de trabalhar por hoje.

— Quem decide se tem condições, ou não sou eu Nigel. Farei meu trabalho. – Levanto-me enxugando as lágrimas. Passo por Nigal e paro em frente ao espelho. — Você poderia me ajudar com isso? – Com o indicado aponto para meu rosto todo borrado.

Nigel coça a testa, ele sempre faz isso quando tá nervoso, ou preocupado e não tem controle de algo, eu sinto muito por deixa-lo assim, e ao mesmo tempo me sinto querida por ele.

Ele balança a cabeça em concordância, e sai do banheiro, poucos minutos depois volta com uma vasile de maquiagem.

Meu estômago embrulha quando me aproximo da sala de Miranda para entregar o portfólio que ficou pronto. Meu coração bate forte assim que passo pela porta de vidro, engulo em seco, a sensação é de completa malu. A sensação é a mesma de quando eu não consegui um voo para ela assistir o recital de suas filhas, ou quando fiquei em sua presença depois que deixei o livro pela primeira vez em sua casa. Aquele dia foi uma catástrofe. Até hoje odeio Harry Potter.

Miranda estar com os óculos na ponta do nariz, ela me olha de baixo para cima, como uma onça na selva olha sua presa antes de dá o pulo mortal. A sensação de malu me domina tanto que eu sinto ondas centralizarem na minha garganta, me impossibilitando de falar. Engulo em seco.

— O departamento de artes disse que a reunião irá atrasar dez minutos. – Minha voz sai tão insegura, me sinto uma idiota por isso.

— Ótimo! – Ela fala irônica se remexendo na cadeira em total descontentamento. – Miranda estica a mão e eu entrego o portfólio. – Sem o resvalo que antes sempre tinha quando eu entregava algo a ela.

Admito que muitas, ou quase todas às vezes eu induzia esse contato meio que sem querer. Eu adoro a sensação de tá tocando na pessoa mais intocável do mundo e ela não reclamar. Eu me sentia ainda mais especial para ela. Meu Deus, como eu sou ridícula? Como não percebi antes que isso era paixão?

Balanço a cabeça em negação, o nível que estou me sentindo ridícula é incalculável. Miranda me olha. Parece atenta as minhas ações, mesmo que essas ações sejam desproporcionais ao que estamos protagonizando no momento. Não me cabe rir irônica e nem balançar a cabeça em negação, apenas por entregar uns papeis a ela. Definitivamente ela deve me achar louca.

Volto para meu lugar, atendo meia dúzia de ligações, faço anotações, vou de um departamento a outro, e o dia se desenhou para ser tranquilo. Já a minha mente, não posso falar o mesmo, um turbilhão de pensamentos fora de controle, um invadindo o outro, tomando a frente do outro. Isso é horrível, credo!

— Vamos? – Nigel me chama atenção.

— Não vou com você, Nigel, preciso ir para meu apartamento.

— Não, você não precisa, tem roupas na minha casa, e não corre o risco de você ter surpresa. – Ele semicerra os olhos.

— O mundo não para pra esperar a gente ficar bem, Nigel, preciso voltar a minha rotina, ao meu mundo, as minhas coisas.

— Ok, senhorita superação, bumbum 38, agora. Mas isso só vale uma semana depois do acontecimento, e não – Ele olha para o relógio em seu pulso. – E não um dia e 19 horas, querida! Então vamos para minha casa.

Reviro os olhos e sorrio de sua preocupação comigo, não imaginava que Nigel é tão paternal assim. Pego minhas coisas e o acompanho.

— Não pense tanto, você vai acabar enlouquecendo. – Ele para o que tá falando para atender o celular.

"Sim, estar, claro, não me subestime." Essas são suas palavras ao telefone e eu me sinto tentada em perguntar quem estaria subestimando ele, mas contento em aguardar, caso ele queira falar algo.

— Sabe quem Miranda pensa em chamar para ser a atração principal no desfile da Fashion Wigs? – Ele pergunta enquanto senta ao meu lado no espaçoso sofá.

— Eu não faço a mínima ideia. – Olho para TV tentando ignorar o universo Miranda.

— Sabe que ela quer um único cantor sendo atração no desfile?

Olho para ele e arrego os olhos, isso é bem estranho, até onde eu sei... Desfile fashion Wigs New York nunca teve uma única atração.

— Miranda quer ninguém mais, ninguém menos que Justin Timberlake cantando enquanto as modelos desfilam pela passarela. Ela até disse que já ver Gisele Bündchen desfilando ao som dele.

Meus olhos que já estavam arregalados ficaram ainda mais, Justin Timberlake é sem sombra de duvidas meu cantor favorito. Senti até um frio na barriga.

— Miranda como sempre imprevisível! – Ele leva uma colherada de soverte à boca. — Você é fã dele, não é? – Ele pergunta olhando para tv.

— É! Eu sou! – Respondo com certa euforia. — Por que você não me contou disso antes? Um mês é pouco para eu me preparar mentalmente.

— Querida, Miranda apareceu hoje com isso em mente, mudando completamente muitas coisas que já estavam organizadas para o evento, inclusive as atrações do evento.

— Miranda é mesmo imprevisível! – Falo, e toda vez que profiro seu nome, sinto um aperto no peito.

— Sim, veja só, toda preocupada com você.

Franzi o cenho olhando para ele muito surpresa, Miranda havia me humilhado, me reduzido a nada e depois se preocupado comigo?

— E foi ela também que me ligou quando estávamos vindos, queria saber se eu convenci você de ficar em minha casa.

— É! Miranda é mesmo imprevisível.

— Garota, você tenha certeza que tá no caminho certo, seu trabalho agrada Miranda, e definitivamente você caiu nas graças dela, para ter toda essa preocupação. Em todos esses anos nessa indústria vital, nunca havia presenciado algo assim.

Caímos na risada assim que ele terminou de falar de um desenho animado. Eu estava precisando rir... 

Louca para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora